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Em setembro de 2021, a Netflix se tornou alvo de um processo judicial partindo de uma das maiores enxadristas de todos os tempos, Nona Gaprindashvili. A georgiana alega ter sido difamada na minissérie O Gambito da Rainha (2020), que cita seu nome afirmando que a atleta “nunca enfrentou nenhum homem”. Ora, ela havia derrotado 59 oponentes masculinos em 1968, ano em que se passa a trama. Na ficção, Beth Harmon (Anya Taylor-Joy) teria sido a primeira mulher capaz de tal proeza.
Segundo os representantes legais de Gaprindashvili, o projeto faz uma caracterização “incrivelmente machista e depreciativa” da esportista real. Os advogados da Netflix tentaram encerrar o processo, alegando que se trata de uma obra de ficção, protegida pela lei de liberdade de expressão específica às obras artísticas. No entanto, a juíza Virginia A. Phillips rejeitou as alegações do gigante do streaming, ordenando que o caso tramite em justiça.
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O Gambito da Rainha

Nas palavras da juíza, “a Netflix não cita, e esta Corte não possui ciência de qualquer caso impedindo alegações de difamação pelo retrato de pessoas reais em obras de ficção. O fato que a série seja um trabalho de ficção não isenta a Netflix de responsabilidade pela difamação e por todos os elementos de difamação apresentados”, conclui.
A Netflix apostava no argumento da liberdade de expressão devido à vitória recente da FX Networks contra Olivia de Havilland, que processou a empresa contra sua representação na série Feud, de Ryan Murphy. No entanto, na compreensão de Phillips, a afirmação de que a personagem fictícia Beth Harmon teria sido a primeira enxadrista a vencer homens, ao invés de Gaprindashvili, seria nociva à atleta. “Um espectador médio poderia interpretar, conforme sugere a requerente, que a fala [acerca da enxadrista real] carrega o estigma de inferioridade feminina que apenas a americana fictícia Harmon, ao invés da requerente, poderia superar”.
Gaprindashvili teve suas conquistas, junto àquelas de três outros ícones do xadrez georgiano feminino, retratadas no documentário Glória à Rainha (2020), de Tatia Skhirtladze e Anna Khazaradze, exibido na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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