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O Iluminado :: Um clássico detestado pelos críticos 40 anos atrás

Publicado por
Bruno Carmelo

Quando se pergunta ao público médio a definição de um “clássico”, é comum escutar como resposta que se trata de um filme tão bom que marca a cinefilia ao longo das décadas. Ora, este nem sempre é o caso, visto que muitas obras aclamadas quase unanimemente hoje foram detestadas durante seu lançamento. As obras-primas da Nouvelle Vague francesa, por exemplo, tiveram uma recepção prioritariamente negativa pela crítica majoritária em seu país.
Algo semelhante ocorreu com O Iluminado (1980), dirigido por Stanley Kubrick a partir do livro de Stephen King. Embora muitos fãs se lembrem da desaprovação do autor quanto à adaptação, poucos recordam que o filme também recebeu críticas destruidoras na época do lançamento, coroadas com duas indicações ao Framboesa de Ouro, prêmio entregue às piores produções do ano. O terror estreou em míseros dez cinemas no primeiro fim de semana, arrecadando expressivos US$ 626 mil.
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O Iluminado

“Quanto mais louco Nicholson fica, mas idiota ele parece. Shelley Duvall passa de uma esposa simpática e carinhosa a uma histérica semi-retardada”, disparou a Variety. Pauline Kael, uma das maiores críticas de cinema de todos os tempos, escreveu para o The New Yorker: “Quando vemos uma porção de cadáveres sangrentos ou um mar de sangue saindo do elevador, não ficamos com medo, porque a fascinação de Kubrick pela tecnologia do cinema nos distancia”.
De acordo com o The Guardian, “a atuação de Nicholson, embora seja voluntariamente exagerada, não deveria provocar mais risadas do que medo. As reviravoltas finais também não deveriam parecer tão ilógicas. Embora O Iluminado não seja banal, ele nos encoraja a interpretá-lo como se fosse”. Para o Chicago Reader, “as imagens de Kubrick, com sua simetria e iluminação compulsivas, são banais demais para manter o interesse, enquanto a falta de uma narrativa melhor prejudica o suspense”.
Segundo o crítico do Washington Post, “Não consigo me lembrar de um filme de terror menos eficaz. Pode-se dizer que O Iluminado não tem concorrentes: poucos diretores têm o luxo traiçoeiro de gastar cinco anos (e algo entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões de orçamento) para um produto final tão equivocado”. Roger Ebert, um dos críticos mais apreciados nos Estados Unidos, também escreveu uma primeira crítica afirmando ser “impossível se identificar” com os personagens, embora tenha mudado de ideia e escrito uma segunda crítica nos anos seguintes, defendendo a obra.
Atualmente, O Iluminado se tornou uma referência absoluta dentro do terror, motivando séries, homenagens e projetos derivados, a exemplo de Doutor Sono (2019). O filme de Kubrick costuma ser incluído nas listas de dez melhores produções de terror de todos os tempos.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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