Dando continuidade à nossa série de matérias com dicas para encontrar em cada serviço de streaming, hoje é dia de descobrir 10 boas pedidas dentro da Amazon Prime. Quando o serviço chegou ao Brasil, ele era conhecido especialmente por suas séries originais. Hoje, traz um catálogo amplo de filmes, que vai desde clássicos pré década de 1980 até os blockbusters da Disney, incluindo animações e produções de super-heróis, que ficam disponíveis até o lançamento da plataforma Disney+, no segundo semestre.
Mesmo assim, a equipe do Papo de Cinema decidiu fugir das escolhas óbvias e apontar produções interessantes que talvez fujam ao radar dos assinantes. Se estiver em casa, procurando por novos filmes e séries para ver – especialmente nestes tempos de quarentena -, fique de olho na lista abaixo:
Robledo Milani (Editor-chefe)
Expresso do Amanhã (2013) / The Night Manager (2016)
A Amazon Prime Video é uma das plataformas com conteúdo mais diverso, além de uma impressionante quantidade de produções originais. Vasculhando no seu acervo, é possível encontrar títulos bem interessantes que talvez tenham passado em branco nos seus lançamentos. Vale muito investir na ficção-cientifica Expresso do Amanhã (disponível pelo título original, Snowpiercer), certamente o melhor de todos os filmes dirigidos por Bong Joon-ho – sim, o mesmo cineasta que acaba de ganhar o Oscar por Parasita (2019). Chris Evans lidera um elenco de peso, que conta ainda com nomes como Jamie Bell, Tilda Swinton, Ed Harris e Octavia Spencer, como o líder de um grupo de rebeldes que dá início a uma revolta contra um sistema opressor – tudo isso dentro de um trem, num futuro não muito distante em que a própria vida na Terra foi afetada drasticamente pelas mudanças climáticas. Tenso do início ao fim, é um dos grandes exemplares do gênero desta década. Leia a nossa crítica.
Indo por um caminho bem oposto, a outra dica é a minissérie de seis episódios The Night Manager (O Gerente Noturno, em tradução direta). Baseado no romance homônimo de John Le Carré, essa história de investigação e espionagem fala do responsável por um hotel no Cairo que, em uma das suas noites de trabalho, acaba de envolvendo com uma conspiração de nível global. Tom Hiddleston, Hugh Laurie e a oscarizada Olivia Colman (ainda pré-A Favorita, 2018) estrelam esse thriller vencedor de três Globos de Ouro (para o trio de protagonistas) e dois Emmys (inclusive Melhor Direção, para a dinamarquesa Susanne Bier).
Marcelo Müller (Editor)
Procura-se Amy (1997) / Warriors: Selvagens da Noite (1979)
Em Procura-se Amy o que mais chama a atenção é o modo do cineasta Kevin Smith abordar personagens ligados ao mundo dos quadrinhos, entrecortando elementos mais banais dos relacionamentos amorosos com a instigante discussão de questões concernentes à orientação sexual. Um dos principais trabalhos de Ben Affleck. Ele vive um personagem apaixonado pela amiga homossexual que, adiante, começa a sofrer com os ciúmes de seu melhor amigo e parceiro de criação.
Já Warriors: Selvagens da Noite é um clássico presente no catálogo do Prime Vídeo. O filme apresenta uma sociedade urbana atravessada por violentas brigas de gangues que reivindicam supremacia territorial. Um desses grupos é perseguido brutalmente após um crime a eles injustamente atribuído. Walter Hill mostra uma coletividade espumando de raiva, num filme bastante sintomático dos últimos suspiros da Nova Hollywood.
Francisco Russo (Editor)
Chi-Raq (2015) / Sem Fôlego (2017)
Anos antes de seu retorno triunfal com Infiltrado na Klan (2018), Spike Lee destilou sua crítica ácida sobre o complexo panorama do preconceito de gênero e de cor no ótimo e contundente Chi-Raq. A estrutura do filme não só surpreende como é muito bem executada, ao manter os diálogos de sua versão original, a peça grega “Lisístrata”, e adaptá-la aos dias atuais. Vale muito a pena. Leia a nossa crítica.
Outro filme com uma estrutura narrativa bem inusitada é Sem Fôlego, dirigido por Todd Haynes, no qual a história aos poucos abre mão dos diálogos em uma fábula infantil que transita entre o colorido e o preto & branco. De uma linguagem visual fascinante, inspirada no cinema mudo, o filme derrapa em seu terço final mas, ainda assim, merece muito crédito como experiência cinematográfica. Leia a nossa crítica.
Bruno Carmelo (Editor)
Community (2009 – 2015) / Makala (2017)
Dentro das estruturas de “séries de amigos” que a televisão consagrou com Friends e How I Met Your Mother, a melhor contribuição recente foi o ótimo Community, série sobre os alunos de uma escola comunitária e pública – o que, nos Estados Unidos, significa ensino de baixa qualidade. O roteiro satiriza o Sonho Americano enquanto subverte os estereótipos da escola: o suposto atleta sedutor (Donald Glover) se revela um sujeito frágil, a mocinha sedutora (Gillian Jacobs) não faz questão de se envolver com ninguém, a nerd (Alison Brie) mostra-se mais agressiva do que se imaginava… Apesar de algumas tentativas de cancelamento e mudanças no elenco, conseguiu manter o ótimo nível até a sexta temporada.
Para quem estiver buscando um documentário, a Amazon Prime também traz algumas pérolas, em especial Makala, dirigido por Emmanuel Gras. O filme acompanha Kabwita Kasongo, morador do Congo, que atravessa dezenas de quilômetros a pé, diariamente, para vender carvão e conseguir alimentar a família. Com pouquíssimos diálogos e imagens deslumbrantes, o projeto mostra a dificuldade da vida de seu protagonista sem qualquer recurso explicativo – narração, letreiro, depoimentos – apenas uma jornada em que o espectador se torna cúmplice daquele homem, passo a passo, enquanto descobre os costumes daquele país.
Victor Hugo Furtado (Redator)
REC (2007) / Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (2013)
Ainda na pegada da quarentena, vamos de um horror espanhol que tem tudo a ver com o confinamento. Venerado no circuito underground, REC é filmado no atrativo formato found footage (falso documentário) e segue um grupo de bombeiros em uma noite de plantão. Pela ótica do cameraman e de uma repórter corajosa, assistimos à ação dos profissionais num prédio em colapso quando uma senhora idosa ataca seus vizinhos. A explicação para tal ato seria uma infecção raivosa – mas aos poucos descobrimos que o imóvel pode esconder muitos outros perigos – tanto físicos, quanto sobrenaturais. A fluidez da trama e o desespero dos atores em tela são os pontos fortes do filme. Os elogios ao longa começaram na exibição do Festival de Veneza daquele ano e se estenderam até a condecoração da atriz Manuela Velasco no Goya 2008. Além, é claro, de três continuações de menor expressão e um remake hollywoodiano intitulado (de forma bem menos charmosa) Quarentena (2008).
A outra dica está longe de ser um feel good movie, mas pode despertar sentimentos mais agradáveis no espectador. Apesar de ter sido indicado aos Oscars de Melhor Fotografia e Mixagem de Som em 2014, quase ninguém se lembra de uma história singular chamada Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum. Dirigida pelos condecorados irmãos Joel e Ethan Coen, a trama segue um músico da cena folk dos anos 1960 que não consegue emplacar sua arte. O personagem, que evidentemente é uma mistura de Bob Dylan com Garfunkel, parece sempre fazer as escolhas erradas – apesar de ter um enorme talento. Músicas leves, atores com fortes interpretações e, principalmente, a crítica em relação à meritocracia fazem deste drama uma pequena obra-prima. Leia a nossa crítica.
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