A HBO tem grande tradição nas séries de televisão e nos telefilmes, e seu serviço de streaming, a HBO Go, fornece alguns conteúdos pouco desenvolvidos nos concorrentes, como o forte catálogo de minisséries e uma grande variedade de documentários produzidos pela empresa. Assim, o serviço oferece boas possibilidades em termos de formato e duração para o espectador na quarentena – ou apenas o cinéfilo querendo descobrir um bom conteúdo audiovisual.
O Papo de Cinema continua sua série de matérias sobre serviços de streaming com dez escolhas feitas pela redação, entre os mais diversos formatos propostos pela HBO Go. Já viu todos os filmes, séries e minisséries abaixo?
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Robledo Milani (Editor-chefe)
Minha Vida com Liberace (2013) / The Night Of (2016)
A HBO é uma das maiores plataformas de streaming disponíveis no Brasil. Mas, assim como possibilita acesso a filmes e séries produzidos pelos mais diversos estúdios, ela também é se preocupa em realizar e exibir muito conteúdo original – e, talvez, esse seja um dos seus maiores diferenciais. Por isso, as duas dicas de hoje só podem ser encontradas por aqui. Pra começar, o longa Minha Vida com Liberace (também conhecido apenas pelo título original, Behind the Candelabra), que é resultado dos esforços conjuntos de três oscarizados: o diretor Steven Soderbergh e os atores Michael Douglas e Matt Damon. O primeiro se baseou no livro de Scott Thorson, que partia da vida de real de apresentador e músico Liberace, que foi uma das grandes celebridades dos Estados Unidos na segunda metade do século XX, para narrar a cinebiografia desse artista controverso e absurdamente popular. Douglas surge com uma composição primorosa no papel-título, enquanto que Damon vive Thorson, que foi amante do artista por muitos anos. Premiado com dois Globos de Ouro, levou ainda nada menos do que 11 Emmys, o que deve ser um recorde do gênero! Leia a nossa crítica.
Logo em seguida temos a minissérie The Night Of, criada por Steven Zaillian (vencedor do Oscar pelo roteiro de A Lista de Schindler, 1994). Nela, um tímido estudante é acusado de assassinato. Sua situação fica ainda mais complicada por ser de uma família de emigrantes, enquanto que o único advogado que aceita seu caso é um homem em plena decadência. Riz Ahmed tem o melhor trabalho da sua vida como protagonista, enquanto que John Turturro é a voz da razão em meio a um caos generalizado. Ambos foram indicados ao Globo de Ouro e ao Emmy – nesse último, Ahmed foi consagrado com a estatueta dourada como Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme.
Marcelo Müller (Editor)
Anti-Herói Americano (2003) / Maria Cheia de Graça (2004)
O protagonista de Anti-Herói Americano parece ter sido talhado para a interpretação de Paul Giamatti. Aliás, não foram poucos os personagens posteriores confiados ao ator que guardavam semelhanças com Harvey Pekar. Oriundo dos quadrinhos, suporte do qual o filme conserva o tom autobiográfico, esse tipo conta a própria vida com uma ênfase característica nas frustrações e nos contratempos amorosos. Pekar é essencialmente um pessimista com dificuldades para ver o lado bom da vida. Com a ajuda do ícone Robert Crumb, ele lança uma HQ que alcança sucesso no circuito alternativo. Uma delícia de filme produzido pela HBO.
Vencedor do Independent Spirit Awards de Melhor Roteiro de Estreante, Maria Cheia de Graça teve uma considerável carreira em festivais internacionais. Sua protagonista, Catalina Sandino Moreno, foi indicada ao Oscar e venceu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim. Ela interpreta Maria, jovem grávida e despreparada às responsabilidades que se avizinham. Desesperada, aceita se transformar em mula ao narcotráfico colombiano, ingerindo grandes quantidades de cocaína a fim de atravessar a droga pela fronteira e levá-la aos Estados Unidos. Do título ao pôster, o filme brinca com o ícone do catolicismo que gerou Jesus em seu ventre, sublinhando os infortúnios de ser mulher numa circunstância de vulnerabilidade propensa a marginalizar. Leia a nossa crítica.
Francisco Russo (Editor)
Magnífica 70 (2015 – 2018) / O Conto (2018)
O que poderia acontecer se, em plena ditadura militar, um censor se apaixonasse pelo cinema ao ponto de se tornar realizador? Esta é a premissa básica da série nacional Magnífica 70, cuja primeira temporada é simplesmente brilhante! De uma paixão envolvente pelo cinema em si, a série ainda percorre nuances da história brasileira ao mesclar censura com o rico universo da Boca do Lixo paulistana, em uma ambientação precisa e riquíssima em detalhes. Soma-se a isso um elenco escolhido a dedo e afinadíssimo, capitaneado por Simone Spoladore, Maria Luísa Mendonça, Marcos Winter e Adriano Garib. Infelizmente, a segunda e a terceira temporada não mantêm a qualidade, mas ainda assim são interessantes.
Produção original da HBO, o drama O Conto toca na difícil questão da conscientização de ter sofrido assédio sexual na juventude, quando sequer era maior de idade – ou seja, pedofilia. Bastante incômodo, trata-se de um filme que aborda o tema sob a ótica feminina, a partir do despertar da personagem de Laura Dern, em uma espiral crescente de ojeriza e mal-estar que acompanha o espectador.
Bruno Carmelo (Editor)
Insecure (2016 – ) / Confirmação (2016)
Uma das melhores séries cômicas recentes da HBO é Insecure, graças ao talento de Issa Rae como roteirista e atriz principal. Com olhar afiado para os percalços do dia a dia, ela apresenta uma série de crônicas sobre a vida de mulheres negras contemporâneas no mercado de trabalho, nos relacionamentos e amizades. A série consegue ser hilária e profundamente crítica ao mesmo tempo, em decorrência da inteligência de seu texto. A quarta temporada vai ao ar ainda em 2020.
Entre os telefilmes, uma ótima pedida é Confirmação, projeto que assume a delicada responsabilidade de retratar o caso Anita Hall, professora que acusou Clarence Thomas de abuso sexual. O caso foi marcado por longas audiências extenuantes para todos os envolvidos, nos quais os preconceitos raciais e de gênero desempenharam um papel importante. Kerry Washington e Wendell Pierce apresentam composições repletas de nuances, enquanto o diretor Rick Famuyiwa demonstra clara solidariedade às vítimas de estupro, sem necessariamente afirmar o que se passou nos encontros entre a vítima e o réu. Um bom estudo de caso sobre as manipulações de poder e a questão do ponto de vista no cinema de natureza política.
Victor Hugo Furtado (Redator)
Você não Conhece Jack (2010) / Paterno (2018)
Sessão dupla Al Pacino para os leitores do Papo! – já que a HBO soube trabalhar tão bem com duas biografias estreladas pelo condecorado ator ítalo-americano. A primeira pedida fica por conta de um longa que já sopra dez velinhas de aniversário e rendeu a Pacino o Globo de Ouro de Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme. Em Você não Conhece Jack (2010), acompanhamos o polêmico e carismático médico Jack Kevorkian que, na incessante busca pelo fim da vida com dignidade, defende o direito de seus pacientes com doenças terminais optarem pela morte – o que o torna inimigo número um da intolerância religiosa. Em tempos de moralismo barato, essa obra pode nos tocar de diversas formas. Por nos colocar no lugar do próximo e lançar um olhar crítico para o conservadorismo, este filme de Barry Levinson possui muitos pontos positivos.
Nossa segunda dica vem justamente de outra dobradinha Levinson/Pacino: Paterno (2018). Esta outra biografia – indicada ao Emmy – traz um protagonista controverso, porém a léguas de propósitos positivistas. Na trama, seguimos o exitoso treinador de futebol americano universitário Joe Paterno que, mesmo após ter vencido todos os torneios que lhe foram postos à prova, não conseguiu vencer seus próprios demônios. Com uma narrativa quase fúnebre e repleta de angústia, observamos o legado de Joe se esvair diante de diversos escândalos de abuso sexual. Um tema sério e que nunca deve ser deixado de lado.
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