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Em meio à pandemia de coronavírus, o conselho dos profissionais de saúde no mundo inteiro aponta para a diminuição de aglomerações e contato social para preservar especialmente os grupos mais vulneráveis, como idosos e pessoas doentes. Obviamente, nem todos os profissionais/estudantes podem permanecer de casa, mas para aqueles que terão algumas horas livres a mais, talvez as opções na televisão e no streaming funcionem como boa alternativa de diversão e reflexão – o que ironicamente reforça o papel da cultura nos tempos em que vivemos.

Os cinéfilos, em especial, se deparam com salas de cinema fechadas e estreias adiadas por tempo indeterminado. Por isso, o Papo de Cinema preparou uma série de matérias destacando dicas pouco conhecidas dos serviços de streaming que merecem a atenção dos espectadores. Começamos pela Netflix, e percorremos em seguida o catálogo da Amazon Prime, HBO Go, Telecine Play, Globoplay, Fox Premium, Apple TV etc. Para quem tiver acesso a estes serviços, este pode ser um bom momento de descobrir novos filmes e séries de qualidade. Abaixo, descubra as dicas da redação do Papo de Cinema para a Netflix:

 

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Robledo Milani (Editor-chefe)
Sete Dias Sem Fim (2014) / Naomi, Ely e a Lista de Não Beijos (2015)

Estes dois títulos estão longe de serem escolhas óbvias, mas certamente podem render uma boa ‘sessão da tarde’. O primeiro, que se encontra disponível na Netflix sob o título original – This Is Where I Leave You – chama de imediato atenção pelo impressionante elenco: Jane Fonda, Adam Driver, Jason Bateman, Tina Fey, Rose Byrne e muitos outros! Fonda é a matriarca de uma família que acabou de perder o marido, pai de seus quatro filhos, e seguindo uma tradição judaica – que teria sido o último pedido do falecido – os cinco (assim como seus filhos, esposas, maridos e namoradas) são obrigados a passar uma semana juntos, na mesma casa, para ‘curar as feridas’. Claro que a proximidade, por tanto tempo, se revela uma ótima oportunidade também para uma boa lavagem de roupa suja entre eles. Atenção para a participação de Driver, ainda antes das indicações ao Oscar por Infiltrado na Klan (2018) e História de um Casamento (2019), que se mostra como a melhor surpresa de todo esse conjunto.

Já a segunda dica, também inédito nos cinemas brasileiros, é baseado no livro “Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo”, escrito pela dupla David Levithan e Rachel Cohn – que também assinam o roteiro. Juntos, escreveram antes Uma Noite de Amor e Música (2008), e são nomes em alta na atual tendência de romances literários para o público ‘jovem adulto’. A trama é sobre dois melhores amigos – Naomi e Ely, obviamente – com uma nítida pegada Will & Grace (1998-2019), afinal, se ela é meio caidinha por ele, o rapaz é gay, e a vê apenas como amiga. Pode até ser uma bobagem – mas é adorável e bem divertida!

 

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Marcelo Müller (Editor)
Um Dia Difícil (2014) / Cinema, Aspirinas e Urubus (2005)

Um sul-coreano, outro brasileiro. A dica para quem for, atendendo ao bom senso, fazer quarentena por conta do novo coronavírus é encarar uma sessão dupla com Um Dia Difícil e Cinema, Aspirinas e Urubus. O primeiro é um drama repleto de ação e violência, com direito a segredos selados num caixão. O protagonista é um homem investigado que, em meio ao turbilhão de problemas, ainda precisa lidar com outros algozes. Humor, suspense e brutalidade combinados. Leia a nossa crítica.

O segundo é um drama brasileiro, dirigido por Marcelo Gomes, que desvela as singularidades de um sertão cujo cotidiano avançava mais ou menos ao largo das narrativas de guerra em plenos anos 1940. Um road movie que coloca dois personagens distintos em choque para, gradativamente, os aproximar de uma maneira muito sensível e cativante. Um dos mais belos filmes brasileiros dos anos 2000, sem dúvida alguma. Leia a nossa crítica.

 

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Francisco Russo (Editor)
Emo: O Musical (2016) / O Conto da Princesa Kaguya (2013)

Imagine um musical baseado em um jovem suicida, que consegue provar que Jesus Cristo era emo através de uma canção tão inusitada quanto hilária. Mais do que propriamente bom, este é um filme tão bizarro – no bom sentido – que merece ao menos uma espiadela curiosa. Emo: O Musical, pérola australiana escondida nos algoritmos da Netflix.

Bem melhor é o lindo O Conto da Princesa Kaguya, animação japonesa indicada ao Oscar 2013, que mescla a beleza visual do traço feito à mão com uma história mágica que foge bastante dos clichês, inclusive em relação ao ritmo. Envolvente e cativante, é daqueles filmes que fazem bem à alma. Leia a nossa crítica.

 

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Bruno Carmelo (Editor)
Beach Rats (2017) / Temporada (2018)

Este ano, o segundo maior prêmio do 70º Festival de Berlim foi entregue a uma diretora ainda pouco conhecida mundialmente, porém dotada de um talento imenso na construção de personagens e direção de atores. Com Never Rarely Sometimes Always (2020), Eliza Hittman se juntou aos grandes autores internacionais, vencendo o Urso de Prata. Para descobrir um pouco do trabalho da cineasta, você encontra no catálogo da Netflix o belo Beach Rats, um retrato amargo e muito vem filmado sobre as imposições da masculinidade num garoto (Harris Dickinson) que explora sua sexualidade. Uma investigação sobre o corpo e sobre os olhares, fugindo dos clichês tanto do cinema indie norte-americano quanto dos romances LGBT. Leia a nossa crítica.

Em paralelo, o cinema brasileiro – e mineiro, em especial – está muitíssimo bem representado por Temporada, drama dirigido por André Novais Oliveira. Na trama, Grace Passô interpreta uma funcionária do governo de Contagem, encarregada alertar os moradores sobre a prevenção da dengue, entrando nas casas da vizinhança. Enquanto percorre os espaços domésticos, descobre mais sobre a vida destas pessoas e revela seus próprios traumas. O filme é conduzido com uma sensibilidade ímpar, fruto da reunião de alguns dos maiores talentos do cinema brasileiro contemporâneo. O resultado se revela comovente e realista sem forçar um sentimentalismo fácil. Leia a nossa crítica.

 

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Victor Hugo Furtado (Redator)
Invasão Zumbi (2016) / Club de Cuervos (2015 – 2019)

No ritmo da propagação de um vírus – e também da recente popularidade do cinema sul-coreano com Parasita (2019) – vamos de Invasão Zumbi. O elogiado horror, exibido no Festival de Cannes e com o carimbo de diversas premiações do gênero, acompanha um egoísta homem de negócios que precisa proteger sua filha de um apocalipse zumbi. Ao longo da frenética trama, ele testa seus limites de sanidade e altruísmo dentro de um trem lotado de criaturas sedentas por sangue e diversos cidadãos que buscam salvar suas vidas. Leia a nossa crítica.

E já que as competições irão pausar suas atividades por conta da saúde de seus atletas, vamos de bola na rede – pelo menos na ficção! Na outra ponta do globo, temos a série Club de Cuervos. Realizada no México, poderia muito bem ter sido produzida no Brasil, tanto pela história ser amarrada no ambiente futebolístico, quanto pela forte crítica aos meandros da “politicagem” dentro do esporte. As quatro temporadas disponíveis na plataforma apresentam uma dupla de irmãos que disputa a presidência de um tradicional clube após a morte de seu pai. Entre vitórias, derrotas, riqueza e falência, a obra é competente ao lançar um olhar apurado em relação ao sistema político das confederações esportivas, cada vez mais corrompidas por escândalos. Além, é claro, de muitos gols e figuras folclóricas que só o futebol pode nos presentear.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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