Pela proximidade entre o cinema popular brasileiro e os programas televisivos – afinal, alguns dos nossos filmes de maior sucesso são derivados de programas de televisão, ou trazem os atores populares das novelas -, os cinéfilos brasileiros estão acostumados a associar nossa produção audiovisual à rede Globo. O serviço Globoplay traz o jornalismo, as telenovelas e os reality shows da emissora, mas para quem estiver procurando por filmes e séries, também existem muitas opções brasileiras e internacionais.
A Globo tem investido cada vez mais em minisséries próprias, que a redação do Papo de Cinema destacou nesta matéria com 10 dicas do Globoplay. Mas também exibe ótimos filmes brasileiros – entre comédias, dramas, suspense, terror – e produções internacionais que vão desde projetos voltados à família até títulos premiados no Festival de Cannes. Se estiver procurando novas opções de diversão durante a sua quarentena, fique de olho na lista abaixo:
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Robledo Milani (Editor-chefe)
Antes que o Mundo Acabe (2009) / Treze Dias Longe do Sol (2017)
A Globoplay é a maior plataforma de streaming 100% nacional. Ou seja, nada mais natural, portanto, do que recomendar dois títulos bem brasileiros que estão disponíveis aos assinantes. O primeiro é o longa Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo. Filmado no interior do Rio Grande do Sul e baseado no livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, conta a história de três jovens, todos colegas da mesma escola, que precisam aprender como reconstruir seus laços familiares, ao mesmo tempo em que se preparam para a vida adulta. Conduzido com imensa sensibilidade, essa produção da Casa de Cinema de Porto Alegre foi premiada como Melhor Filme pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e pelo Júri da Crítica no Festival de Paulínia, além de ter recebido oito indicações ao Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro. Leia a nossa crítica.
Também nacional é a minissérie Treze Dias Longe do Sol, esse conteúdo original da Rede Globo e possível de ser encontrada com exclusividade na Globoplay. Saulo (Selton Mello) é um engenheiro envolvido com a construção de um centro médico que irá mudar o cenário arquitetônico da cidade de São Paulo. Porém, sem que ele soubesse, o projeto teve sua realização comprometida, graças às interferências de políticos, financiadores e até mesmo operários da construção. Quando o prédio desaba, colocando a vida de todos os envolvidos em risco – entre os responsáveis pela obra e os que se encontravam nela na hora do acidente, muitos que acabaram presos nos escombros – uma verdadeira luta pela sobrevivência tem início. Tenso do início ao fim, conta com dez episódios de cerca de meia hora cada.
Marcelo Müller (Editor)
Fruitvale Station: A Última Parada (2013) / Mia Madre (2015)
Atualmente os nomes de Ryan Coogler e Michael B. Jordan são considerados de primeira linha dentro de Hollywood, muito por conta do sucesso de Pantera Negra (2018), que o primeiro dirige e no qual o segundo atua como um antagonista marcante, um dos melhores do Universo Cinematográfico Marvel. Essa trajetória ascendente e conjunta começou com Fruitvale Station: A Última Parada, filme que apresentou ao mundo as credenciais de ambos. Baseado em fatos que deflagram o racismo vigente nos Estados Unidos, o filme observa um jovem negro executado sumariamente por policiais depois de uma discussão no metrô. Coogler primeiro ressalta tudo o que o personagem vai perder com a tragédia, a fim de tornar ainda mais dolorosa e repulsiva a sua execução por agentes de um Estado genocida. Leia a nossa crítica.
Saindo dos Estados Unidos, indo à Itália, temos Mia Madre, filme do consagrado cineasta Nanni Moretti, não necessariamente uma produção desconhecida – chegou a encabeçar a lista dos melhores de 2015 da prestigiadíssima revista francesa Cahiers du Cinéma – mas há sempre o risco de perdermos uma pérola dessas em meio aos algoritmos que frequentemente lançam luz apenas em títulos populares. Como de costume na obra de Moretti, em Mia Madre as lentes se voltam para as contendas familiares, das mais explicitadas às reprimidas para não gerar mais tensão. Margherita (Margherita Buy) é uma cineasta às voltas com a produção de seu mais novo filme, isso enquanto sua mãe adoece e fica prostrada numa cama hospitalar. A onipotência do autor não se aplica à realidade nesse belíssimo filme. Leia a nossa crítica.
Francisco Russo (Editor)
Hoje É Dia de Maria (2005) / Amor Bandido (2012)
Versão compacta da minissérie exibida pela Rede Globo em 2005, Hoje É Dia de Maria fez história ao unir o lírico e o lúdico em uma fábula infantil que perambula pelos contos populares. De uma riqueza visual exuberante e uma narrativa sem medo da fantasia, trata-se de uma das melhores produções da emissora neste século.
O diretor Jeff Nichols mergulha no universo das aventuras juvenis dos anos 1980 ao trazer uma história repleta de idealismo sob olhar de dois adolescentes, que decidem ajudar um desconhecido que vive escondido. Privilegiando diálogos em detrimento da ação, Amor Bandido é um filme que naturalmente remete à nostalgia, seja às desventuras de uma juventude pouco habitual nas grandes metrópoles ou mesmo a um tipo de cinema cada vez mais raro nos dias atuais. Leia a nossa crítica.
Bruno Carmelo (Editor)
Filho de Saul (2015) / Sangue Azul (2014)
O Globoplay é conhecido pelas produções acessíveis e populares, mas para quem estiver procurando algo mais desafiador, Filho de Saul pode ser uma ótima opção. O drama húngaro, vencedor do Oscar, Globo de Ouro e BAFTA de filme estrangeiro, além do prêmio da crítica (FIPRESCI) no Festival de Cannes, traz a história de um homem judeu preso nos campos de concentração. Ao invés de ser executado pelos nazistas, ele é encarregado de limpar as câmaras de gás, retirando os corpos diariamente. Um dia, acredita encontrar, por acaso, o cadáver de seu próprio filho. A narrativa asfixiante é retratada pelo ponto de vista deste homem, num enquadramento que deixa o espectador imaginar as atrocidades ao redor dele, ao invés de mostrá-las de fato. Leia a nossa crítica.
Muito mais leve, mas ainda assim bastante complexo socialmente, é o drama brasileiro Sangue Azul, dirigido por Lírio Ferreira. Na trama, dois irmãos (Daniel de Oliveira e Caroline Abras) são separados na infância. O garoto passa a viver com uma trupe circense, até seu caminho cruzar com a irmã novamente. As belas cenas no circo se sucedem a momentos muito bem filmados sobre a sexualidade dos personagens. O elenco traz alguns dos melhores nomes em atividade no cinema nacional, incluindo Milhem Cortaz, Rômulo Braga, Matheus Nachtergaele e Sandra Corveloni. Leia a nossa crítica.
Victor Hugo Furtado (Redator)
Mesmo Se Nada Der Certo (2013) / Sessão de Terapia (2012-2019)
Depois de tantas dicas referentes a horror e confinamento, é hora de relaxar com interpretações leves e músicas gostosas de se ouvir com o não tão conhecido Mesmo Se Nada Der Certo (2013). Nessa trama repleta de roupas e atitudes condizentes com o hipsterismo, Keira Knightley é uma cantora de barzinho descoberta por um produtor desiludido vivido por Mark Ruffalo. Ao longo de pouco mais de uma hora, podemos nos deliciar com belos dribles dos atores frente às desilusões da vida, minimalismo e boas discussões sobre as famosas relações líquidas de nossos tempos. Além, é claro, da presença da agradável “Lost Stars”, canção interpretada por Adam Levine – que também é peça chave da trama – e que foi indicada ao Oscar 2014. Leia a nossa crítica.
Entretanto, não deixemos a reflexão de lado. Com a elogiada Sessão de Terapia (2012-2019), podemos observar Selton Mello como um privativo psicanalista – profissão que parece finalmente ter conquistado o respeito do brasileiro médio. Com métodos pouco ortodoxos, ele trata seus pacientes de forma a extrair suas angústias mais profundas. Embalado por uma trilha sonora precisa, enquadramentos imersos e uma interessante gama de participações especiais, temos aqui uma série singular e pouco comentada pelo público em geral. Vale mesmo a pena!