O MUBI constitui uma plataforma de streaming muito particular. São disponibilizados apenas 30 filmes por vez, sendo que um filme é retirado todos os dias, enquanto um novo é acrescentado. O serviço avisa aos espectadores quantos dias faltam antes que uma produção saia do catálogo, ao passo que avisa sobre cada nova inclusão.
Isso pode despertar a impressão de um grupo de filmes pequeno, mas bastante dinâmico, com novidades diárias. Além disso, ao contrário de algumas plataformas que trazem milhares de conteúdos (muitos deles fracos), o MUBI possui excelente curadoria, misturando grandes clássicos do cinema com filmes raríssimos e outras apostas em novos cineastas. A redação do Papo de Cinema elegeu cinco produções de destaque, mas corram para ver, porque daqui a pouco elas saem do ar!
Robledo Milani (Editor-chefe)
O Som ao Redor (2012)
Uma das poucas opções brasileiras atualmente disponíveis no rodízio mensal do Mubi, O Som ao Redor é um dos títulos mais premiados do cinema nacional recente – e uma dica imperdível pra quem ainda não o assistiu. Dirigido por Kleber Mendonça Filho – o mesmo de Aquarius (2016) e do fenômeno Bacurau (2019) – o longa possui uma estrutura narrativa circular, com diversos personagens em posições de destaque, todos moradores de Recife, no Pernambuco. Maeve Jinkings, Irandhir Santos, Gustavo Jahn e W.J. Solha são alguns dos nomes de destaque de um elenco absolutamente coeso, que juntos colocam em evidência não apenas a distância social entre as diferentes camadas econômicas da população deste país, como também suas origens e perspectivas futuras. Consagrado no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro com sete vitórias, entre elas as de Melhor Filme e Direção, foi premiado também como Melhor Roteiro Original no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, reconhecido em diversos festivais no Brasil, como o do Rio (Filme e Roteiro), Gramado (Direção, Som, Crítica e Júri Popular), APCA (Filme e Direção), Mostra de SP (Filme Brasileiro) e Panorama da Bahia (Filme), como também no exterior, entre eles Roterdã (Prêmio da Crítica), Oslo (Prêmio da Crítica), Lleida (Roteiro e Prêmio Especial do Júri), Lima (Roteiro), Portugal (Som) e Manila (Direção), entre tantos outros. Indiscutivelmente, um dos pontos altos da produção nacional na última década. Leia a nossa crítica.
Marcelo Müller (Editor)
O Vingador Tóxico (1984)
Uma das realizações trash mais celebradas do cinema norte-americano, verdadeiro emblema da tradicional produtora/distribuidora Troma Films, O Vingador Tóxico é abertamente escrachado, o que torna infrutífera a operação de medir-lhe pelas réguas usuais da qualidade. Os (d)efeitos especiais são péssimos, talvez não tanto quanto as interpretações exageradas – chamá-las de caricaturais seria aliviar na leitura. Todavia, os cineastas Lloyd Kaufman e Michael Herz esgarçam os limites da coerência e da lógica para criar um conjunto tão divertido quando nonsense. O filme não se presta à coerência e afins, tirando sua força justamente da maneira com a qual os realizadores conjugam tantas bizarrices, num percurso que transborda amadorismo – no sentido da precariedade de produção, mas, principalmente, quanto ao amor evidentemente envolvido na empreitada. Trata-se de um daqueles longas-metragens para assistir com um sorriso largo, reagindo às incongruências e se divertindo à vera com esse monstrengo que ora grunhe, ora fala como um galã de novela, na luta contra o mal da cidade. Leia a nossa crítica.
Francisco Russo (Editor)
Zazie no Metrô (1960)
Por mais que ainda não tivesse o tamanho que alcançaria décadas mais tarde, Louis Malle já tinha um bom prestígio decorrente do sucesso do noir Ascensor para o Cadafalso. Também por isso, surpreendeu muita gente sua decisão em adaptar o livro “Zazie no Metrô” em filme, pelo tom infantil da história. O resultado é um filme deliciosamente divertido, que se vale tanto da escolha precisa pela pequena Catherine Demongeot como a desbocada personagem-título mas, também, pelo tom espirituoso com o qual permeia Paris em busca de sua fauna local. Um filme que deixa um baita sorriso no rosto ao término.
Bruno Carmelo (Editor)
Ascensor para o Cadafalso (1957)
A propósito de Ascensor para o Cadafalso, o filme serviu não apenas para consagrar o diretor Louis Malle, mas também para lançar o rosto de Jeanne Moreau ao mundo. O resulto se distingue bastante do que viria a ser considerado um suspense policial pela ótica de Hollywood algumas décadas mais tarde. Nada de perseguições frenéticas, planos implacáveis ou investigadores inteligentíssimos. No caso do empresário que mata o marido de sua amante, e fica preso no elevador do prédio na hora de fugir, o que mais interessa ao roteiro é a tristeza da amante (Moreau), acreditando ter sido abandonada pelo amor de sua vida. Enquanto passeia pela cidade, tentando encontrar traços do homem com quem deveria fugir, ela se confronta à solidão e ao medo de ser descoberta. A trilha sonora de Miles Davis, composta exclusivamente para o filme, cria uma atmosfera de melancolia bastante interessante. O diretor consegue transformar o pequeno quiproquó policial num estudo de personagens muito interessante. Leia a nossa crítica.
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