Quando pensamos em cinema e teatro fora do cenário brasileiro, a primeira coisa em que pensamos frequentemente são os estúdios de Hollywood que produzem franquias gigantescas como Marvel, Velozes e Furiosos e James Bond, mas esses filmes são muitas vezes feitos de forma “cínica”, tendo apenas em mente os lucros, dialogando pouco com a sociedade, de forma geral. É como se não fizessem parte dela.

Mesmo quando companhias de teatro americanas importantes faziam – e fazem até os dias de hoje – releituras de clássicos da dramaturgia, há uma preocupação estética e um “modos operandi” feitos para agradar à uma pretensa elite intelectual. Não é incomum, ainda hoje, ver obras que exaltam o American Way of Life: a imagem de um cidadão americano que vive as maravilhas da “terra da oportunidade”, enriquece e passa a frequentar a alta sociedade, seja nas mesas de cassino, ou mesmo festas e cerimônias da elite. Esse estilo de produção está atrelado a padrões que são pueris. Não aprofundam debate, muitas das vezes.

No extremo oposto desse espectro está o movimento neorrealista italiano das décadas de 1940 e 1950, uma ideologia cinematográfica que protestou contra gerações de opressão social. Durante as décadas que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial, a indústria cinematográfica na Itália foi rigorosamente regulamentada pelo governo. Os únicos filmes produzidos até aquele momento, eram obras que promoviam uma pretensa prosperidade do país, algo que estava totalmente fora da realidade da maioria dos italianos.

A mudança ocorreu no final da Segunda Guerra Mundial, quando o regime fascista de Benito Mussolini chegou ao fim e a Itália foi forçada a identificar-se num quadro de existência inteiramente novo. O neorrealismo foi o cinema que nasceu destas cinzas, sendo o movimento um protesto cinematográfico contra tudo o que o precedeu, centrando-se nas lutas reais daqueles que foram mais atingidos pela guerra.

Dedicados a mostrar a dureza da realidade, estes filmes abordavam a moral conturbada de um país que lutava com a sua própria identidade, com os melhores filmes da época vindos de pioneiros como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti.

Filmes mais significativos do Neorrealismo italiano

No final de 1945, a Itália se encontrava em grande crise econômica, assim como a maior parte dos países europeus. Isto, obviamente, também afetou as produções cinematográficas. Os primeiros filmes no Neorrealismo italiano tinham recursos limitados, sem infraestrutura para a produção e distribuição em massa das obras.

Mesmo assim, a produção cinematográfica italiana dos anos 40 e 50 foi marcada por grandes filmes e grandes cineastas. Listamos alguns deles abaixo:

Roma, Cidade Aberta (Roberto Rossellini, 1945)

Cena do filme “Roma, Cidade Aberta”, de 1945.

Para um movimento artístico que nasceu das adversidades dos tempos de guerra, o lançamento de Roberto Rossellini em 1945, Roma, Cidade Aberta, é o filme mais essencial de todos, abrindo caminho para o futuro de muitos diretores. Um relato cru da privação social do país nos anos finais da guerra, o filme de Rossellini conta a história de um líder da resistência em Roma que foge desesperadamente dos nazistas enquanto a Itália está sob ocupação alemã.

Assistir a esse filme é ver a centelha social e política que desencadeou a criação e o protesto das minorias trabalhistas presentes no neorrealismo.

Ladrões de Bicicletas (Vittorio De Sica, 1948)

O filme segue um homem pobre, Antonio, e seu filho, Bruno, enquanto embarcam em uma jornada para encontrar a bicicleta roubada de Antonio. Depois de penhorar os bens preciosos da família em troca de uma bicicleta, o novo meio de transporte de Antonio é roubado enquanto ele trabalhava em uma escada, deixando-o perseguindo o ladrão sem sucesso.

Com Bruno a reboque, a dupla faz de tudo para recuperar a bicicleta. Antonio precisa desesperadamente disso para poder sustentar sua família, que inclui sua esposa e seu bebê recém-nascido. Embora o filme tenha sido recebido de forma bastante negativa na Itália devido ao seu retrato honesto de cidadãos da classe trabalhadora negligenciados pelo governo italiano, recebeu elogios muito maiores no exterior, recebendo até um Oscar.

A Terra Treme (Luchino Visconti, 1948)

Muitas vezes esquecido quando se trata dos melhores filmes do movimento neorrealista italiano, A Terra Treme, de Luchino Visconti, é uma potência do cinema. Um dos filmes de neorrealismo mais autênticos que existem. O drama de Visconti conta a história de pescadores na Sicília que se esforçam para tornar seus negócios independentes depois de terem lutado durante anos sob o peso dos atacadistas capitalistas.

O elenco do filme foi composto quase que em sua totalidade, por atores não profissionais. Eram pessoas que viveram condições semelhantes às que eram retratadas nos filmes, isso deu uma certa dose de “verdade” nas atuações. A Terra Treme é um filme que desperta a sensibilidade para questões importantes, mesmo nos dias de hoje, a obra segue sendo bastante necessária.

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