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Numa das cerimônias mais decepcionantes dos últimos anos, Green Book: O Guia levou o prêmio mais cobiçado da noite: Melhor Filme! Ao todo, foram três estatuetas, pois ganhou ainda como Melhor Roteiro Original e Ator Coadjuvante, para Mahershala Ali – que levou sua segunda estatueta, nesta que foi sua segunda indicação (havia ganho antes por Moonlight: Sob a Luz do Luar, 2016). Green Book, um filme em que a discussão sobre racismo tem importância vital em sua trama, e conta com um homem branco como protagonista, além de ter sido escrito e dirigido apenas por homens brancos, roubou a tão esperada oportunidade de mudança que a Academia de Hollywood vem há anos prometendo, e que neste ano poderia ser liderada por títulos como Se a Rua Beale Falasse (premiado como Melhor Atriz Coadjuvante, para Regina King), Infiltrado na Klan (que rendeu, finalmente, o primeiro Oscar para Spike Lee, como Melhor Roteiro Adaptado) e, principalmente, Pantera Negra, que das sete indicações recebidas foi bem-sucedido em três delas: Trilha Sonora, Figurino e Design de Produção.

O título mais premiado do ano, no entanto, foi justamente aquele que, dos oito indicados a Melhor Filme, colecionou as piores críticas: Bohemian Rhapsody, a cinebiografia de Freddie Mercury e da banda Queen, que ganhou quatro das cinco estatuetas que disputava: Mixagem de Som, Edição de Som, Montagem e Ator, para Rami Malek. Com 80% de aproveitamento, obteve a mais alta taxa de vitórias entre todos os concorrentes. O outro musical do ano, o remake Nasce uma Estrela, ganhou, justamente, apenas um troféu: o de Melhor Canção Original, para Shallow, de Lady Gaga, Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt.

Aliás, foi exatamente esse o espírito perseguido pela premiação neste ano: uma verdadeira divisão de prêmios, em que tentou se contentar a todos e acabou não agradando, de fato, ninguém. Todos os oito indicados a Melhor Filme saíram com ao menos uma vitória. Roma, o grande favorito, levou os prêmios de Direção (o segundo de Alfonso Cuarón, que já havia ganho por Gravidade, 2013), Filme Estrangeiro (o primeiro do México) e Fotografia (também para Cuarón, que com essas três vitórias já soma 5 estatuetas em casa). O outro campeão de indicações do ano, o britânico A Favorita, protagonizou uma das maiores surpresas da premiação: Olivia Colman levou o troféu de Melhor Atriz, deixando a veterana Glenn Close, que concorria por A Esposa, mais uma vez de mãos abanando – esta foi sua sétima indicação, sem nunca ter ganho.

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Rami Malek, Olivia Colman, Regina King e Mahershala Ali

Outra que também não levou foi Amy Adams, que concorria pela sexta vez, agora por Vice – que, mesmo com oito indicações, precisou se contentar apenas com o prêmio de Melhor Maquiagem. Entre os demais premiados, tivemos O Primeiro Homem roubar o prêmio de Melhores Efeitos Visuais de Vingadores: Guerra Infinita e Jogador No 1 (ambos mereciam muito mais) e a previsível vitória de Homem-Aranha no Aranhaverso como Melhor Longa de Animação. Os documentários Free Solo (longa) e Absorvendo o Tabu (curta) também eram esperados, assim como o curta de animação Bao (que apesar de não ser o mais premiado do ano, era o único produzido pela Disney/Pixar). Confira a seguir a lista completa com todos os premiados do Oscar 2019:

FILME: Green Book: O Guia, produção de Jim Burke, Charles B. Wessler, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly, Nick Vallelonga
DIREÇÃO: Alfonso Cuarón, por Roma
ATOR: Rami Malek, por Bohemian Rhapsody
ATRIZ: Olivia Colman, por A Favorita
ATOR COADJUVANTE: Mahershala Ali, por Green Book: O Guia
ATRIZ COADJUVANTE: Regina King, por Se a Rua Beale Falasse
ROTEIRO ORIGINAL: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly, por Green Book: O Guia
ROTEIRO ADAPTADO: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott, Spike Lee, por Infiltrado na Klan
FOTOGRAFIA: Alfonso Cuarón, por Roma
MONTAGEM: John Ottman, por Bohemian Rhapsody
DESIGN DE PRODUÇÃO: Hannah Beachler, Jay Hart, por Pantera Negra
FIGURINO: Ruth E. Carter, por Pantera Negra
MAQUIAGEM E CABELOS: Greg Cannom, Kate Biscoe, Patricia Dehaney, por Vice
TRILHA SONORA ORIGINAL: Ludwig Göransson, por Pantera Negra
CANÇÃO ORIGINAL: “Shallow”, de Lady Gaga, Mark Ronson, Anthony Rossomando, Andrew Wyatt, por Nasce uma Estrela
MIXAGEM DE SOM: Paul Massey, Tim Cavagin, John Casali, por Bohemian Rhapsody
EDIÇÃO DE SOM: John Warhurst, Nina Hartstone, por Bohemian Rhapsody
EFEITOS VISUAIS: Paul Lambert, Ian Hunter, Tristan Myles, J.D. Schwalm, por O Primeiro Homem
DOCUMENTÁRIO EM LONGA-METRAGEM: Free Solo, produção de Elizabeth Chai Vasarhelyi, Jimmy Chin, Evan Hayes, Shannon Dill
DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM: Absorvendo o Tabu, produção de Rayka Zehtabchi, Melissa Berton
ANIMAÇÃO EM LONGA-METRAGEM: Homem-Aranha no Aranhaverso, produção de Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman, Phil Lord, Christopher Miller
ANIMAÇÃO EM CURTA-METRAGEM: Bao, produção de Domee Shi, Becky Neiman
CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO: Skin, produção de Guy Nattiv, Jaime Ray Newman
FILME ESTRANGEIRO: Roma, de Alfonso Cuarón (México)

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Equipe do filme “Green Book: O Guia” agradecendo o prêmio de Melhor Filme

**Curiosidades do Oscar 2019**

  • Green Book: O Guia ganhou o Oscar de Melhor Filme sem sequer ser indicado a Melhor Direção. Em 91 anos de premiação, isso aconteceu em apenas outras quatro ocasiões: Asas (1927), Grande Hotel (1932), Conduzindo Miss Daisy (1989) e Argo (2012);
  • Ruth E. Carter, figurinista premiada com o Oscar de Melhor Figurino por Pantera Negra, é a mulher negra com o maior número de indicações ao Oscar (neste ano ela concorria pela terceira vez), ao lado das atrizes Viola Davis e Octavia Spencer – ambas também ganharam em uma ocasião;
  • Roma foi o sexto filme em toda a história da premiação a concorrer nas duas categorias – Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro. Antes dele, alcançaram esse feito o algeriano Z (1969), o sueco Os Emigrantes (1973), o italiano A Vida é Bela (1997), o taiwanês O Tigre e o Dragão (2000) e o austríaco Amor (2012). Com exceção de Os Emigrantes – que não ganhou nenhuma das cinco categorias que disputou – todos os demais foram premiados como Melhor Filme Estrangeiro. Nenhum deles ganhou como Melhor Filme;
  • Dos quatro atores premiados, apenas Mahershala Ali já havia sido indicado – e premiado – antes. Olivia Colman, Rami Malek e Regina King estavam em suas primeiras indicações;
  • Frank A. Montano (9 indicações), Daniel Sudick (9 indicações), Glenn Close (7 indicações), Bradley Cooper (7 indicações), Marc Shaiman (7 indicações), Amy Adams (6 indicações), Caleb Deschanel (6 indicações), Nathan Crowley (5 indicações), Peter J. Devlin (5 indicações) e Roger Guyett (5 indicações) podem ter sido esnobados nesse ano, mas ninguém se saiu pior do que a compositora Diane Warren. Por I’ll Fight, canção do documentário RBG, ela concorreu ao Oscar pela décima vez – e, assim como em todas as ocasiões anteriores, saiu da festa de mãos abanando;
  • Nasce Uma Estrela, apesar das 8 indicações, ganhou apenas como Melhor Canção Original. O Nasce uma Estrela (1976) anterior obteve quatro indicações ao Oscar, e também ganhou apenas como Melhor Canção Original (“Evergreen”, de Barbra Streisand e Paul Williams). O segundo Nasce uma Estrela (1954) teve seis indicações, mas não ganhou nada. Já o primeiro Nasce uma Estrela (1937) foi o único, assim como esse mais recente, a ser indicado a Melhor Filme. Porém, das sete indicações que recebeu, ganhou somente como Melhor Roteiro Original, além de um prêmio especial pela Fotografia;
  • Mahershala Ali entrou para o restrito grupo de atores que transformaram suas duas únicas indicações em vitórias, ao lado de Christoph Waltz, Hilary Swank, Vivien Leigh, Helen Hayes e Luise Rainer, entre (poucos) outros;
As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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