Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. A disputa neste ano para Melhor Ator Coadjuvante não está tão em aberto, como na de Melhor Atriz (qualquer uma pode ganhar), mas também não parece ser um jogo de cartas marcadas como nas de Melhor Ator e de Melhor Atriz Coadjuvante (com alguns fortes concorrentes dentre outros meros figurantes). Há, sim, favoritos na disputa, mas mesmo aqueles que parecem estar apenas marcando presença podem surpreender no último minuto. Dos cinco concorrentes, apenas um já possui uma estatueta dourada em casa, enquanto que os quatro demais estão nos trabalhos mais marcantes de suas carreiras – sejam eles novatos ou veteranos. Frente a esse cenário, confira as nossas apostas.
INDICADOS
- Ciarán Hinds, por Belfast
- Troy Kotsur, por No Ritmo do Coração
- Jesse Plemons, por Ataque dos Cães
- J.K. Simmons, por Apresentando os Ricardos
- Kodi Smit-McPhee, por Ataque dos Cães
FAVORITO
Kodi Smit-McPhee, por Ataque dos Cães
O jovem Kodi Smit-McPhee tem apenas isso – sua juventude – contra si. Afinal, apesar de ter apenas 25 anos – e a Academia não é reconhecida por enaltecer atores em tão tenra idade (ao contrário do que se verifica entre as atrizes) – ele começou com apenas nove anos, quando apareceu no drama australiano Stranded (2006). Encarou personagens complexos no apocalíptico A Estrada (2007) e no vampiresco Deixe Ela Entrar (2010), trafegou por blockbusters como Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) e X-Men: Apocalipse (2016) e visitou pela primeira vez o faroeste em Oeste Sem Lei (2015). É neste mesmo cenário que ele aparece em Ataque dos Cães, numa composição delicada, porém certeira, que até o momento lhe rendeu o Globo de Ouro e o prêmio dos críticos de Austin, Boston (online), Chicago, Columbus, Dallas-Fort Worth, Florida, Houston, Iowa, Londres, Los Angeles, New Mexico, Nova Iorque, Carolina do Norte, Dakota do Norte, Oklahoma, Filadélfia, São Francisco, Seattle, Southeastern, St. Louis, Utah e Washington, além de indicações ao Bafta, Critics Choice, Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e SAG Award. Ou seja, é o mais premiado da categoria neste ano. Será o suficiente para levar o ouro de Hollywood para casa? Deveria. Afinal, há talento de sobra no rapaz para justificar essa vitória.
AZARÃO
Troy Kotsur, por No Ritmo do Coração
O favorito daqueles que votarem apenas com a emoção, sem se preocupar muito com a lógica ou razão. Troy Kotsur, se ganhar, pode ser tornar o primeiro ator deficiente auditivo a faturar o Oscar em toda a história da premiação. Sabe o mais curioso? A primeira atriz a conseguir a mesma láurea – e, até hoje, a única – foi Marlee Matlin, sua colega de elenco em No Ritmo do Coração, quando ganhou como Melhor Atriz por Filhos do Silêncio (1986), quando tinha apenas 20 anos (viu só a prova do que foi dito acima a respeito da juventude deles e delas?). Kotsur, que até então havia apenas feito pequenas participações em séries como CSI: Nova Iorque (2006) e The Mandalorian (2019), tem aqui o personagem mais importante de toda a sua trajetória que se estende por mais de vinte anos. Em cena, mesmo sem muito o que fazer, ele é tanto o alívio cômico como o coração da família. Por isso, foi reconhecido no SAG Award (o que impulsionou bastante seu favoritismo, já que esse é o mais importante precursor do Oscar) e pelos críticos de Boston, Havaí, Indiana, Las Vegas e Nevada, além dos prêmios conquistados na Hollywood Critics Association e no Gotham Awards (duas premiações menores, e, por isso mesmo, de relevância limitada). Se ganhar, certamente será um dos momentos mais bonitos da cerimônia. Mas uma coisa é certa: não será justo.
NEGAÇÃO
Jesse Plemons, por Ataque dos Cães
A grande surpresa entre os indicados do ano nessa categoria. Ao contrário do seu colega de elenco, que desponta como o favorito, Jesse Plemons garantiu essa vaga aos 45 do segundo tempo sem ter conquistado absolutamente nenhum prêmio – de peso ou não – durante toda a temporada. A seu favor tinha apenas uma indicação ao Bafta e em algumas associações regionais de críticos, e mais nada. No entanto, estamos falando de um ator que tem construído uma das carreiras mais sólidas do momento, tendo aparecido em projetos muito comentados (e bastante vistos) como Ponte dos Espiões (2015), The Post: A Guerra Secreta (2017), Vice (2018), O Irlandês (2019) e Judas e o Messias Negro (2021) – todos indicados ao Oscar como Melhor Filme! Essa lembrança agora, portanto, soa mais como uma medalha de “honra ao mérito”, um reconhecimento por tudo que ele tem feito ao longo dos últimos anos, do que um parabéns por um trabalho específico (por mais competente que esteja em Ataque dos Cães, a propósito).
ESQUECIDO
Mike Faist, por Amor, Sublime Amor
A verdade é que muitos poderiam ocupar essa vaga de “injustiçado do ano”. Ben Affleck (Bar, Doce Lar) foi indicado ao Globo de Ouro, Jamie Dornan (Belfast) concorreu no Globo e no Critics Choice e Jared Leto (Casa Gucci) foi lembrado pelo Critics Choice. Nenhum deles, no entanto, chega perto do trabalho revelado por Mike Faist como o rebelde e provocador Riff em Amor, Sublime Amor. No musical de Steven Spielberg ele injeta energia e perigo num personagem que, na versão original do clássico de 1961, quase nunca é lembrado frente aos seus colegas de elenco – bem diferente do que se verificou dessa vez. Com uma carreira que apenas está completando uma década – estreou no independente O Ato Indizível (2012) – e só foi chamar atenção mais recentemente, ao aparecer como um dos protagonistas da série Panic (2021). Foi o que bastou para ser chamado para viver um dos papeis mais marcantes de sua trajetória. Indicado ao Bafta, foi escolhido como o melhor coadjuvante masculino do ano pelos críticos de Phoenix, além de ter figurado entre os finalistas das associações críticas de Portland, Dakota do Norte, New Mexico, Indiana, Greater Western New York, Chicago e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos. Ou seja, chegou bem perto. E merecia ter ido além.
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