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Oscar 2022 :: Apostas para Melhor Curta Documentário

Publicado por
Robledo Milani

As três categorias de curtas-metragens costumam ser as mais imprevisíveis a cada ano na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Afinal, os concorrentes são filmes que a grande maioria dos votantes – e também dos cinéfilos e espectadores – não conhecem, não viram ou nem sequer ouviram falar antes. Então, como apontar um favorito, um injustiçado ou mesmo um azarão que pode surpreender? De um tempo pra cá, no entanto, a situação tem mudado um pouco com o advento das plataformas de streaming. Em 2022, para se ter ideia, três dos concorrentes são produzidos pela mesma gigante do segmento: a Netflix, e já podem ser conferidos no mundo todo, inclusive no Brasil. E sabe o melhor? Um deles é codirigido por um brasileiro! Será que finalmente teremos um gostinho verde e amarelo no Oscar? Confira as nossas apostas!

INDICADOS


FAVORITO
Três Canções para Benazir
Um dos três curtas distribuídos pela Netflix – os outros dois são Audible e Onde eu MoroTrês Canções para Benazir está um passo a frente dos demais por vários fatores. Alguns são de ordem prática: estando acessível a qualquer espectador e/ou votante da Academia, tem bem mais chances de ser lembrado (e votado, é claro). Depois, é o mais enxuto de todos os cinco indicados, com pouco mais de 20 minutos (e quando se tratam de Curtas, acredite, é bom estar atento ao formato). Por fim, há ainda o forte apelo emocional de sua narrativa, que acompanha uma história de amor num ambiente ainda mais desprovido de condições para que esse romance tenha um final feliz. Como não se envolver e torcer para que o casal tenha, enfim, o desfecho merecido? A dupla de realizadores Elizabeth e Gulistan Mirzaei tem tido uma temporada de grande êxito com esse trabalho, colecionando reconhecidos em festivais como os de Blue Danube (Áustria), Clermont-Ferrand (França), Full Frame (EUA), Kraljevski (Sérvia), Middle East Now (Itália), Minimalen (Noruega), Odense (Dinamarca), St. Petersburg (Rússia) e Yamagata (Japão), entre outros. Ou seja, é o mais conhecido e premiado. E teve coroar essa jornada com uma bela estatueta dourada!

AZARÃO
The Queen of Basketball
Ainda que não seja um dos títulos produzidos pela Netflix – empresa que parece determinada a garantir esse Oscar nas suas fileiras – The Queen of Basketball não é um concorrente que possa ser desprezado. Isso se deve em grande parte por ter sido produzido pelo prestigiado jornal The New York Times, e se encontrar disponível no site do veículo, com acesso no mundo inteiro. O curta faz parte do projeto Op-Docs, que nos últimos anos já garantiu quatro indicações ao Oscar, quatro Emmys e dois Peabodys, além de ter integrado as seleções de festivais como Sundance, SXSW, New York, Telluride e muitos outros. O filme de Ben Proudfoot (diretor que no ano passado concorreu nessa mesma categoria por A Concerto is a Conversation, 2020) resgata a jornada de Lucy Harris, que foi uma das maiores jogadoras de basquete de todos os tempos e que, mesmo assim, é praticamente uma desconhecida, mesmo entre os fãs do esporte. Quais as razões por trás desse apagamento? Além disso, há uma forte carga emocional: Lucy faleceu no último mês de janeiro, com apenas 66 anos. Importante lembrar também que este foi o grande vencedor do Critics Choice Documentary Awards, um dos mais importantes precursores da categoria.

NEGAÇÃO
Onde eu Moro
É a vez do Brasil no Oscar… ou não. Onde eu Moro é dirigido pelo norte-americano Jon Shenk (diretor de longas como Atleta A, 2020) e pelo brasileiro Pedro Kos, carioca com longa carreira em Hollywood e um dos roteiristas do polêmico documentário Privacidade Hackeada (2019). No entanto, o filme que os dois realizaram juntos, um olhar sobre moradores de rua nos Estados Unidos que permite um amplo cenário sobre a imensa crise humanitária no país (com reflexos pelo mundo todo), havia passado desapercebido por quase toda a temporada de premiações deste ano, não tendo sido premiado – ou mesmo nem sequer indicado – a nenhuma premiação ou festival prévio! Sua única aparição digna de nota foi juntamente aqui, no Oscar! Claro que estar em exibição na Netflix é um impulso e tanto, mas contar com quase 40 minutos – é praticamente um longa – de entrevistas aleatórias não parece ser um formato dos mais atraentes. Ao que tudo indica, mais uma vez vamos ficar apenas na torcida.

ESQUECIDO
Caixa Postal 1142: O Campo Secreto Para Nazistas nos EUA
O título é enorme, mas também impressionante. O filme dirigido por Mor Loushy e Daniel Sivan resgata um episódio insólito: um campo para jovens refugiados judeus próximo a Washington, nos Estados Unidos, que lhes permitia interrogar nazistas presos de guerra. Dono de uma notável pesquisa e raras imagens de arquivo, tem também grande parte da sua narrativa composta de animações, que oferecem ao conjunto um olhar um tanto lúdico, facilitando o acesso à relatos duros e trágicos. Caixa Postal 1142: O Campo Secreto para Nazistas nos EUA foi indicado ao Critics Choice Documentary Awards e conta com trilha sonora do brasileiro Antonio Pinto (que por esse trabalho concorreu ao Hollywood Music in Media Awards). E o melhor? Está disponível na Netflix! Assim, qualquer um pode conferir e avaliar se não teríamos aqui um válido concorrente ao Oscar, caso tivesse figurado entre os finalistas!
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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