20190204 oscar 2019 direo papo de cinema

A disputa de Melhor Direção costuma estar casada com a de Melhor Filme: afinal, como seria possível o longa mais bem-sucedido do ano não contar também com um dos mais efetivos realizadores no comando? Em mais de nove décadas de Oscar, apenas em três ocasiões o vencedor da categoria principal não chegou sequer a ser indicado por aqui, o que serve para comprovar essa forte relação. Dito isso, os cinco concorrentes aqui saem um passo à frente dos seus colegas na corrida pelo outro hollywoodiano – afinal, para Melhor Filme são 10 os indicados! E se entre os finalistas temos um estrangeiro – teremos a repetição do fenômeno Parasita (2019)? – a lógica aponta para os outros quatro. Seguindo a mesma linha de raciocínio, não seria meio óbvio que a responsável pelo título campeão de indicações nesse ano despontasse como favorita? A questão, no entanto, é de gênero: teremos mais uma mulher vitoriosa? Afinal, em toda a história da premiação, apenas duas diretoras foram reconhecidas. Como se vê, a competição está acirrada. Confira as nossas apostas!

INDICADOS

 

20210902 jane campion papo de cinemaFAVORITA
Jane Campion, por Ataque dos Cães
Vencedora do Oscar pelo roteiro original de O Piano (1993), pelo qual concorreu também nessa mesma categoria de Direção, Jane Campion é a primeira mulher a conseguir ser lembrada por aqui mais de uma vez pela Academia. E dessa vez não parece que estará apenas compondo cena: tem tudo para ganhar mais uma estatueta para a sua coleção. Afinal, foi a vencedora do prêmio do Sindicato dos Diretores da América (DGA), o mais importante precursor neste quesito. Além disso, ganhou ainda o Bafta, o Critics Choice, o Globo de Ouro, o Leão de Prata no Festival de Veneza e mais dezenas de troféus concedidos por associações regionais de críticos por todos os Estados Unidos. É, disparado, a mais premiada neste ano. E como Ataque dos Cães tem tudo para ganhar também como Melhor Filme, tudo indica que teremos uma dobradinha muito bem-sucedida, destacando não apenas a importância desse longa, mas também o olhar afiado e a condução precisa de uma cineasta em pleno domínio do seu ofício.

20201218 steven spielberg papo de cinema e1608320193703AZARÃO
Steven Spielberg, por Amor, Sublime Amor
Ah, mas se Jane Campion não ganhar, será por sexismo e misoginia!” Talvez até haja um pouco de verdade nesse protesto. Porém, por outro lado, importante destacar que a disputa nesse ano não é nem um pouco óbvia. Com exceção do japonês Ryûsuke Hamaguchi, que está concorrendo pela primeira vez, os três demais indicados são figuras frequentes na premiação, com carreiras consolidadas. Porém, nenhum é tão bem-sucedido quanto Steven Spielberg, o realizador vivo de maior sucesso na Hollywood atual, dono de nada menos do que três estatuetas e impressionantes 19 indicações! Ele é o primeiro cineasta da história a conseguir ser lembrado pela Academia em seis décadas consecutivas – sua primeira vez na festa foi em 1978, quando concorreu por Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977). Dono de incontáveis campeões de bilheteria, é também um profissional muito querido pela crítica especializada. E o que alcança com o musical Amor, Sublime Amor, remake do fenômeno de 1961 – vencedor de 10 Oscars – é mais uma demonstração de sua genialidade. Portanto, melhor não considerá-lo como carta fora do baralho: afinal, o homem tem fôlego – e talento – de sobra pra dar e vender!

20180221 paul thomas anderson papo de cinemaNEGAÇÃO
Paul Thomas Anderson, por Licorice Pizza
Se Hamaguchi pode, em um cenário improvável, porém não impossível, ser favorecido pelo ‘efeito-Parasita, e Kenneth Branagh surge no comando de um dos filmes mais comoventes – ao menos segundo seus admiradores – da temporada, contando com um total de sete indicações, Paul Thomas Anderson se faz presente nessa lista por seu único e exclusivo mérito. Licorice Pizza recebeu apenas três indicações ao Oscar – e todas foram para Anderson: Melhor Filme (como produtor), Melhor Roteiro Original (como roteirista) e aqui, em Direção. Assim, nesse ano ele chegou às inacreditáveis 11 indicações – as anteriores vieram pelos longas Boogie Nights (1997), Magnólia (1999), Sangue Negro (2007), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2017) – mas, a despeito desse prêmio lhe ser devido há muito tempo, não parece que será dessa vez que o quadro de “zero vitórias” será alterado. Neste ano, foi indicado ainda ao Bafta, ao Critics Choice, ao DGA e em algumas associações regionais de críticos, porém o único troféu recebido foi no National Board of Review. Importante, sim, mas pouco para que fosse possível almejar a cobiçada estatueta dourada.

20220314 maggie gyllenhaal papo de cinemaESQUECIDA
Maggie Gyllenhaal, por A Filha Perdida
Muitos poderiam apontar que o grande esnobado dessa categoria foi o canadense Denis Villeneuve. Afinal, Duna é o segundo longa com o maior número de indicações deste ano – concorre em 10 categorias – porém, inexplicavelmente, ficou de fora justamente dessa disputa. Assim, fica a pergunta: como pode um filme ser um dos melhores do ano em tantos quesitos, mas justamente aquele responsável por ter orquestrado todo o conjunto termina sendo preterido? Também fazemos coro a essa reclamação, mas é importante não se esquecer de um outro nome que demonstrou grande controle por trás das câmeras nessa temporada: a atriz Maggie Gyllenhaal, que estreou como realizadora com o drama A Filha Perdida – que recebeu três indicações ao Oscar, inclusive a Melhor Roteiro Adaptado, para a própria Gyllenhaal. Premiada no Sindicato dos Diretores como “Melhor Direção de Primeiro Filme” (numa corrida que, dentre os seis indicados, quatro eram mulheres), a estrela que já havia demonstrado versatilidade em filmes como Secretária (2002), Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e Coração Louco (2009) – pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar, como coadjuvante – levou duas de suas intérpretes a serem finalistas na premiação da Academia (Olivia Colman e Jessie Buckley), além de ter conseguido manter a ambientação dramática do romance de Elena Ferrante. Feitos que não poderiam ter sido menosprezados.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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