A disputa de Melhor Direção costuma estar casada com a de Melhor Filme: afinal, como seria possível o longa mais bem-sucedido do ano não contar também com um dos mais efetivos realizadores no comando? Em mais de nove décadas de Oscar, apenas em três ocasiões o vencedor da categoria principal não chegou sequer a ser indicado por aqui, o que serve para comprovar essa forte relação. Dito isso, os cinco concorrentes aqui saem um passo à frente dos seus colegas na corrida pelo outro hollywoodiano – afinal, para Melhor Filme são 10 os indicados! E se entre os finalistas temos um estrangeiro – teremos a repetição do fenômeno Parasita (2019)? – a lógica aponta para os outros quatro. Seguindo a mesma linha de raciocínio, não seria meio óbvio que a responsável pelo título campeão de indicações nesse ano despontasse como favorita? A questão, no entanto, é de gênero: teremos mais uma mulher vitoriosa? Afinal, em toda a história da premiação, apenas duas diretoras foram reconhecidas. Como se vê, a competição está acirrada. Confira as nossas apostas!
INDICADOS
Jane Campion, por Ataque dos Cães
Vencedora do Oscar pelo roteiro original de O Piano (1993), pelo qual concorreu também nessa mesma categoria de Direção, Jane Campion é a primeira mulher a conseguir ser lembrada por aqui mais de uma vez pela Academia. E dessa vez não parece que estará apenas compondo cena: tem tudo para ganhar mais uma estatueta para a sua coleção. Afinal, foi a vencedora do prêmio do Sindicato dos Diretores da América (DGA), o mais importante precursor neste quesito. Além disso, ganhou ainda o Bafta, o Critics Choice, o Globo de Ouro, o Leão de Prata no Festival de Veneza e mais dezenas de troféus concedidos por associações regionais de críticos por todos os Estados Unidos. É, disparado, a mais premiada neste ano. E como Ataque dos Cães tem tudo para ganhar também como Melhor Filme, tudo indica que teremos uma dobradinha muito bem-sucedida, destacando não apenas a importância desse longa, mas também o olhar afiado e a condução precisa de uma cineasta em pleno domínio do seu ofício.
Steven Spielberg, por Amor, Sublime Amor
“Ah, mas se Jane Campion não ganhar, será por sexismo e misoginia!” Talvez até haja um pouco de verdade nesse protesto. Porém, por outro lado, importante destacar que a disputa nesse ano não é nem um pouco óbvia. Com exceção do japonês Ryûsuke Hamaguchi, que está concorrendo pela primeira vez, os três demais indicados são figuras frequentes na premiação, com carreiras consolidadas. Porém, nenhum é tão bem-sucedido quanto Steven Spielberg, o realizador vivo de maior sucesso na Hollywood atual, dono de nada menos do que três estatuetas e impressionantes 19 indicações! Ele é o primeiro cineasta da história a conseguir ser lembrado pela Academia em seis décadas consecutivas – sua primeira vez na festa foi em 1978, quando concorreu por Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977). Dono de incontáveis campeões de bilheteria, é também um profissional muito querido pela crítica especializada. E o que alcança com o musical Amor, Sublime Amor, remake do fenômeno de 1961 – vencedor de 10 Oscars – é mais uma demonstração de sua genialidade. Portanto, melhor não considerá-lo como carta fora do baralho: afinal, o homem tem fôlego – e talento – de sobra pra dar e vender!
Paul Thomas Anderson, por Licorice Pizza
Se Hamaguchi pode, em um cenário improvável, porém não impossível, ser favorecido pelo ‘efeito-Parasita’, e Kenneth Branagh surge no comando de um dos filmes mais comoventes – ao menos segundo seus admiradores – da temporada, contando com um total de sete indicações, Paul Thomas Anderson se faz presente nessa lista por seu único e exclusivo mérito. Licorice Pizza recebeu apenas três indicações ao Oscar – e todas foram para Anderson: Melhor Filme (como produtor), Melhor Roteiro Original (como roteirista) e aqui, em Direção. Assim, nesse ano ele chegou às inacreditáveis 11 indicações – as anteriores vieram pelos longas Boogie Nights (1997), Magnólia (1999), Sangue Negro (2007), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2017) – mas, a despeito desse prêmio lhe ser devido há muito tempo, não parece que será dessa vez que o quadro de “zero vitórias” será alterado. Neste ano, foi indicado ainda ao Bafta, ao Critics Choice, ao DGA e em algumas associações regionais de críticos, porém o único troféu recebido foi no National Board of Review. Importante, sim, mas pouco para que fosse possível almejar a cobiçada estatueta dourada.
Maggie Gyllenhaal, por A Filha Perdida
Muitos poderiam apontar que o grande esnobado dessa categoria foi o canadense Denis Villeneuve. Afinal, Duna é o segundo longa com o maior número de indicações deste ano – concorre em 10 categorias – porém, inexplicavelmente, ficou de fora justamente dessa disputa. Assim, fica a pergunta: como pode um filme ser um dos melhores do ano em tantos quesitos, mas justamente aquele responsável por ter orquestrado todo o conjunto termina sendo preterido? Também fazemos coro a essa reclamação, mas é importante não se esquecer de um outro nome que demonstrou grande controle por trás das câmeras nessa temporada: a atriz Maggie Gyllenhaal, que estreou como realizadora com o drama A Filha Perdida – que recebeu três indicações ao Oscar, inclusive a Melhor Roteiro Adaptado, para a própria Gyllenhaal. Premiada no Sindicato dos Diretores como “Melhor Direção de Primeiro Filme” (numa corrida que, dentre os seis indicados, quatro eram mulheres), a estrela que já havia demonstrado versatilidade em filmes como Secretária (2002), Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e Coração Louco (2009) – pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar, como coadjuvante – levou duas de suas intérpretes a serem finalistas na premiação da Academia (Olivia Colman e Jessie Buckley), além de ter conseguido manter a ambientação dramática do romance de Elena Ferrante. Feitos que não poderiam ter sido menosprezados.
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