Nada menos do que 15 longas foram anunciados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood como pré-finalistas na categoria de Melhor Filme Internacional. Entre eles, estavam representantes da Alemanha (O Homem Ideal, 2021), Islândia (Lamb, 2021) e México (A Noite do Fogo, 2021), todos já lançados comercialmente no Brasil. Tinham também apostas aparentemente seguras, como os indicados pelo Irã (Um Herói) e Finlândia (Compartment No. 6), ambos premiados no Festival de Cannes. No final, no entanto, acabaram ficando todos de fora, abrindo espaço para uma seleção que inclui três títulos europeus (Itália, Noruega e Dinamarca) e dois asiáticos (Butão e Japão). Se os italianos são recordistas históricos nessa categoria – e o diretor do longa desse ano é o único dos concorrentes já premiado em edições anteriores – dessa vez tudo indica que a cobiçada estatueta dourada irá parar em uma outra – e bem distante – parte do mundo. Confira as nossas apostas!
INDICADOS
- Drive my Car (Japão)
- Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar (Dinamarca)
- A Mão de Deus (Itália)
- A Felicidade das Pequenas Coisas (Butão)
- A Pior Pessoa do Mundo (Noruega)
FAVORITO
Drive My Car (Japão)
O drama dirigido por Ryûsuke Hamaguchi não está concorrendo apenas em Melhor Filme Internacional – o que já seria excelente – mas também em outras três importantes categorias: Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado. Ele não é o único dos cinco finalistas por aqui a estar presente também em outras disputas – mas somente ele conseguiu se posicionar entre os melhores filmes da temporada na categoria principal. E um feito desses não pode ser ignorado. Assim como aconteceu com Parasita (2019) há dois anos – que ganhou como Filme e como Filme Internacional – esse namoro do cinema oriental com Hollywood (no ano passado um dos indicados era de Hong Kong) deve continuar, e com força. Drive My Car está com três indicações ao Bafta (Filme Estrangeiro, Direção e Roteiro Adaptado), ganhou o Globo de Ouro e o Gotham, e foi premiado como Melhor Filme e Roteiro no Asia Pacific Screen Awards, como Melhor Roteiro, Prêmio do Júri Ecumênico e Troféu da Crítica no Festival de Cannes, foi considerado o Melhor Filme do ano (além de Roteiro e Ator) pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e concorre ainda ao Critics Choice e ao Independent Spirit Awards. Ou seja, de mãos abanando não deverá ficar. Isso é certo. E das quatro categorias a que concorre, essa é a quem tem mais chances de vitória (mas não se espante se levar em algumas outras também). Como curiosidade, essa é a décima quarta indicação do Japão ao Oscar, que ganhou apenas uma vez de modo competitivo (A Partida, 2008) – apesar de ter ganho em outras três, antes da instituição da categoria na premiação, de forma honorária, para Rashomon (1951), Portal do Inferno (1953) e O Samurai Dominante 1: Musashi Miyamoto (1954).
AZARÃO
A Pior Pessoa do Mundo (Noruega)
Dos cinco concorrentes deste ano, três deles disputam também outras categorias. Se Drive My Car é o favorito e Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar tem mais chances como Documentário (ou mesmo em Animação), A Pior Pessoa do Mundo pode arriscar uma vitória tanto por aqui, como também em Melhor Roteiro Original. A verdade é que, em Filme Internacional há apenas um candidato de verdade (o favorito acima), e todos os demais são meros figurantes – mas esse aqui é um de respeito. Dirigido por Joachim Trier, responsável por títulos como Mais Forte que Bombas (2015), com Jesse Eisenberg e Isabelle Huppert, este longa foi premiado como Melhor Atriz no Festival de Cannes, como Melhor Ator Coadjuvante pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, ficou entre os cinco melhores filmes estrangeiros do National Board of Review e está indicado também ao Bafta, Critics Choice, Satellite, Gotham, European Film Awards e mais uma dezena de outras premiações. Não deve ganhar, é fato. Mas se alguém por aqui pode ser chamado de “zebra”, essa é a aposta mais segura. E que lindo seria se o inesperado acontecesse, não é mesmo? Como curiosidade, essa é a quinta indicação da Noruega (a anterior havia sido As Aventuras de Kon-Tiki (2013), sem nunca ter sido premiada.
SEM CHANCES
A Felicidade das Pequenas Coisas (Butão)
Você sabe onde fica o… Butão? Pequeno país asiático, que faz fronteira com a China e com a Índia e possui menos de um milhão de habitantes, enviou neste ano, pela terceira vez, um representante ao Oscar – e o mais curioso, em dois desses anos o título encaminhado foi o mesmo! Justamente esse A Felicidade das Pequenas Coisas, que já havia sido escolhido como representante do país em 2020, mas acabou ficando de fora por não ter cumprido, na ocasião, todos os pré-requisitos da Academia. Dessa vez, porém, deu tudo certo, e o país garantiu sua primeira indicação ao Oscar – um feito que deixou muita gente de boca aberta. Afinal, como apontado no parágrafo de abertura desse artigo, a concorrência era forte – e o longa assinado por Pawo Choyning Dorji é tão simples e singelo que parecia tímido diante dos seus concorrentes. Indicado a absolutamente nenhuma premiação prévia nesta temporada, conquistou algumas vitórias em festivais menores, além da simpatia de muitos membros votantes. Mas dificilmente irá além disso. Tem seus méritos, claro. Mas nada que justifique nem mesmo sua presença entre os cinco melhores filmes estrangeiros do ano, quanto mais no caso de uma improvável vitória. O prêmio, nesse caso, é a indicação.
ESQUECIDO
Deserto Particular (Brasil)
Como não falar do nosso representante nacional? Mesmo que o longa assinado por Aly Muritiba não tenha ficado nem mesmo entre os 15 pré-finalistas, há qualidades de sobra nessa obra para ocupar um lugar de destaque entre os concorrentes, mesmo se fosse como um dos cinco indicados (não dá pra comparar o brasileiro com o representante de Butão, por exemplo). Premiado no Festival de Veneza, nos festivais de Huelva (Espanha) e Merlinka (Bósnia e Herzegovina) e grande vencedor do Cine PE, em Recife, o drama estrelado por Antonio Saboia e Pedro Fasanaro é uma excelente resposta aos tempos nefastos atualmente vividos pela cultura no Brasil, demonstrando com sensibilidade e muita emoção como fazer frente a uma onda de conservadorismo retrógrada e ultrapassada. Seria um belíssimo manifesto ao mundo, e um alento para a torcida daqui. Infelizmente, não foi dessa vez. Mas o fato de termos ficado de fora fala mais sobre os problemas da Academia do que a respeito da nossa escolha, que merecia – e muito – essa indicação.
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