Esta é uma das categorias mais menosprezadas da premiação da Academia. Afinal, está se falando por aqui de “Melhores Filmes”, mas que nunca, em mais de nove décadas de Oscar, chegaram a ser lembrados na disputa principal de “Melhor Filme do Ano”. Ou seja, parece um ‘cantinho’ específico para acalmar os ânimos, desde que seus membros não ousem sair do âmbito ao qual lhe são destinados. Muito raramente conseguem aparecer em outras disputas, como Melhor Canção Original, Montagem ou Roteiro, mas não foi o caso desta vez para a maioria: em 2022, quatro dos cinco concorrentes marcam presença com exclusividade por aqui. A exceção (que confirma a regra) é um título estrangeiro que causou tanto impacto que conquistou nada menos do que três indicações – mas se conseguirá transformá-las em ouro hollywoodiano, essa parece ser a grande dúvida. Frente a esse cenário, confira as nossas apostas!
INDICADOS
FAVORITO
Summer of Soul, de Questlove
O músico Questlove é responsável por esse resgate (disponível no Brasil na plataforma de streaming Telecine) do lendário Festival Cultural do Harlem de 1969, que celebrou a música e a cultura afro-americana e promoveu o orgulho e a unidade negra em meio a um período de grande turbulência, com a chegada do homem à Lua, Guerra do Vietnã, Guerra Fria e, claro, o celebrado Festival de Woodstock. Indicado ao Bafta em duas categorias (Documentário e Montagem), foi o grande vencedor do Critics Choice Documentary Awards (Melhor Filme, Filme de Estreia, Direção, Montagem, Documentário de Arquivo e Documentário Musical). Ganhou ainda o Film Independent Spirit, a Hollywood Critics Association, o National Board of Review e foi eleito o melhor do ano nesse formato pelos críticos de Washington, Toronto, Southeastern, Seattle, São Francisco, San Diego, Portland, Phoenix, Filadélfia, Oklahoma, North Texas, Carolina do Norte, New Mexico, Los Angeles, Londres, Las Vegas, Kansas, Iowa, Houston, Havaí, Greater Western New York, Georgia, Florida, Dublin, Denver, Dallas-Fort Worth, Columbus, Chicago, Boston e Austin. Enfim, é, de longe, o mais premiado, o mais aplaudido e aquele que mais próximo parece estar de um consenso. Só mesmo uma ameaça d’além mar para lhe fazer frente. Será?
AZARÃO
Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar, de Jonas Poher Rasmussen
Às vésperas do seu casamento, Amin é obrigado a revelar os segredos do seu passado pela primeira vez, um esforço que o faz se confrontar com sua própria jornada. A narrativa, de alto caráter íntimo e emocional, tem conquistado fãs e admiradores ao redor do mundo. Tanto é que essa produção realizada na Dinamarca conseguiu o feito inédito de ter recebido três indicações ao Oscar, todas como “Melhor Filme”: Melhor Filme de Animação, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme de Documentário! Tamanho impacto dificilmente o deixará de mãos abanando, e se suas chances em Animação e Longa Estrangeiro são menores, nessa disputa aqui residem suas melhores chances. Ainda mais após ter ganho o prêmio principal na International Documentary Association, no Festival de Sundance e no Gotham, e das indicações recebidas (nessa categoria) no Bafta, Critics Choice Documentary, European Film, Film Independent Spirit, Hollywood Critics Association, National Board of Review, Satellite e no PGA. Por fim, foi premiado pela Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos EUA e nas associações de críticos de Atlanta, Boston (online), Florida, Nevada, Nova York, Nova York (online), Dakota do Norte e St. Louis. Está com tudo, como se percebe. Só não precisava ter um concorrente tão forte na disputa.
NEGAÇÃO
Attica, de Traci Curry e Stanley Nelson
Dos cinco indicados nessa categoria, esse é o que teve menor repercussão durante essa temporada de premiações. Ainda assim, ficou entre os cinco melhores documentários do ano no National Board of Review, foi indicado ao Critics Choice Documentary Awards em três categorias (Melhor Documentário, Direção e Documentário Histórico) e foi lembrado também na premiação do Sindicato dos Diretores. No entanto, foi solenemente ignorado pela grande maioria de associações regionais de críticos por todos os Estados Unidos, além de ter ficado de fora também no Bafta e na International Documentary Association. Seu maior problema, no entanto, parece mesmo ser o tema escolhido para a abordagem, um caso de revolta e racismo ocorrido há mais de 50 anos, revelando o problemático sistema carcerário norte-americano e suas urgentes necessidades de reforma, há muito debatidas, porém com poucas soluções colocadas em prática. O formato, bastante tradicional, não só se assemelha a uma estrutura televisiva, como também foi produzida dentro desse contexto: se trata de um projeto do canal de televisão Showtime. Ou seja, relevante, claro. Porém, pouco inventivo ou mesmo original a ponto de merecer uma cobiçada estatueta dourada da Academia.
ESQUECIDO
The Rescue, de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi
Também conhecido no Brasil pelo autoexplicativo título Operação Resgate na Tailândia, o longa dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi narra os bastidores de um acidente que mobilizou o mundo inteiro em 2018, quando doze rapazes e o treinador deles ficaram presos nas profundezas de uma caverna inundada ao norte da Tailândia, o que obrigou um elaborado plano de resgate para conseguir salvá-los a tempo. Disponível no Brasil na plataforma de streaming Disney +, The Rescue foi premiado como Melhor Direção, Fotografia e Trilha Sonora no Critics Choice Documentary Awards, foi apontado como um dos cinco melhores documentários do ano no National Board of Review e está indicado ao Bafta e nas premiações dos críticos de Austin, Chicago (indie), Columbus, Dallas-Fort Worth, Georgia, Houston, Iowa, Las Vegas, New Mexico, São Francisco, Seattle, St. Louis e Washington. Mais importante ainda, é finalista entre os favoritos dos sindicatos dos Produtores (PGA) e dos diretores (DGA), que costumam ser fortes precursores do próprio Oscar. Infelizmente, a expectativa não se confirmou!
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