O mais importante precursor do Oscar na categoria de Melhor Montagem é a premiação da American Cinema Editors, a Associação dos Editores de Cinema dos Estados Unidos. Das 13 categorias da premiação deles, seis são destinadas ao cinema. Porém, dessas, apenas duas são, de fato, abrangentes – Melhor Edição de Filme de Comédia e Melhor Edição de Filme Drama – enquanto as demais são mais específicas (Melhor Edição de Longa de Animação, Melhor Edição de Documentário, Melhor Edição de Documentário Não Lançado nos Cinemas e Melhor Edição de Filme para Televisão). Os cinco indicados por aqui concorreram também no Eddie (apelido carinhoso do troféu) – dois em Comédia, três em Drama. Seriam os vencedores, portanto, os óbvios favoritos? Difícil afirmar com tanta certeza, pois há outro fato na balança: os vencedores de Melhor Montagem costumam ser mais conectados com os vencedores de Melhor Filme – a categoria mais importante de todas – do que qualquer outra, inclusive Direção ou Roteiro, por exemplo. Ou seja, a matemática é complicada. Frente a esse cenário, confira as nossas apostas.
INDICADAS
Ataque dos Cães, de Peter Sciberras
O cenário está tão aberto nesta categoria – um olhar mais frio afirmaria que qualquer um teria, neste momento, chances iguais de vitória – que isso talvez favoreça aquele que provavelmente irá ganhar também como Melhor Filme (além de ser o campeão de indicações desse ano): Ataque dos Cães. Peter Sciberras não ganhou o Eddie – os premiados foram King Richard: Criando Campeãs e tick, tick… BOOM! – mas é o único lembrado por praticamente todas as associações regionais de críticos, tendo, inclusive, sido premiada por algumas delas (Greater Western New York, Hamilton, Dakota do Norte, São Francisco, Santa Barbara). Além disso, está concorrendo ao Critics Choice e ao Satellite. Montador de filmes elogiados, como O Rei (2019), War Machine (2017) e The Rover: A Caçada (2014), tem função fundamental no desenrolar de uma narrativa envolvente e provocadora, que revela aos poucos seus segredos e sabe como manter suspense a cada novo desdobramento. É exemplo de uma artesania delicada que justifica com folga esse reconhecimento.
King Richard: Criando Campeãs, de Pamela Martin
Caso os votantes da Academia sejam mais influenciados pelos escolhidos pelo Eddie – algo que não aconteceu no ano passado, por exemplo – as opções ficariam entre King Richard: Criando Campeãs (Melhor Montagem em Filme Drama) e tick, tick… BOOM! (Melhor Montagem em Filme de Comédia). O primeiro aparenta ter mais chances pelo simples fato de estar indicado também a Melhor Filme – o segundo é o único dos cinco concorrentes dessa categoria que não marcou presença também na disputa principal. Pamela Martin possui uma indicação anterior ao Oscar – concorreu por O Vencedor (2010) – e, nessa temporada, foi indicada ainda ao Satellite, na Hollywood Critics Association e no Black Reel Awards (voltado exclusivamente ao cinema negro). E o filme dela realmente foi apreciado – concorre em seis categorias – e deve sair da festa com ao menos uma estatueta dourada (a de Melhor Ator é dada como certa), e por mais que tenha quase duas horas e meia de duração – uma montagem mais afiada teria eliminado alguns excessos – é um título que não pode ser descartado dessa disputa.
Não Olhe para Cima, de Hank Corwin
Como assim aquele com menos chances é o veterano mais conhecido da área? Hank Corwin está em sua terceira indicação ao Oscar – concorreu antes por A Grande Aposta (2015) e por Vice (2018) – e, como se percebe, um antigo parceiro do diretor Adam McKay. Ao longo de sua carreira, trabalhou com outros nomes de prestígio, como Oliver Stone, Terrence Malick e Robert Redford, por exemplo. No entanto, seu trabalho em Não Olhe Para Cima está longe de ser um dos mais memoráveis de sua carreira. Tanto é que, apesar de ter sido indicado ao Eddie (como Filme de Comédia), foi ignorado no Bafta e no Critics Choice, além de não ter marcado presença em absolutamente nenhuma associação regional de críticos por todos os Estados Unidos. Ou seja, foi lembrado basicamente apenas na American Cinema Editors e, depois, aqui no Oscar. É uma presença de prestígio, com certeza. Mas não muito mais do que isso.
Summer of Soul, de Joshua L. Pearson
É bem provável que Joshua L. Pearson responda por uma das montagens mais celebradas do ano. Por seu trabalho em Summer of Soul, ele ganhou não apenas o Eddie (Melhor Montagem em Documentário), como também os prêmios dos Critics Choice Documentary Awards, Cinema Eye Honors Awards e da associação de críticos de Los Angeles (uma das duas mais importantes do país, ao lado da de Nova York). Além disso, está indicado ao Bafta, na International Documentary Association e na associação dos críticos de San Diego. Em resumo, só não chegou também ao Oscar pelo mais óbvio preconceito dos votantes da Academia com o formato documental, filmes que são menos vistos e, portanto, acabam relegados às suas categorias específicas, raramente ousando ir além do “gueto” ao qual são destinados. Uma grande lástima!
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