Foi por pouco. Dos cinco finalistas deste ano, quatro são estreantes na maior festa do cinema mundial. O único que já havia sido indicado é o veterano Judd Hirsch, e há mais de quatro décadas (!). Ele concorrera antes por Gente como a Gente (1980), quando perdeu justamente para um colega de elenco (Timothy Hutton, que anda meio sumido nos últimos tempos). Dessa vez ele também disputava com um parceiro de cena (veja o nosso “esnobado” no final desse artigo), mas se por um lado se deu melhor ao garantir a indicação, suas chances de vitória continuam escassas. Da mesma forma, também temos nessa disputa dois representantes de um mesmo filme – será que algum deles terá melhor sorte? Ou será a vez de um antigo astro mirim provar que, mesmo com o passar dos anos, seu carisma – e talento – seguem em alta? Confira a seguir as nossas apostas para Melhor Ator Coadjuvante!
INDICADOS
- Brendan Gleeson, por Os Banshees de Inisherin
- Barry Keoghan, por Os Banshees de Inisherin
- Brian Tyree Henry, por Passagem
- Judd Hirsch, por Os Fabelmans
- Ke Huy Quan, por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
FAVORITO
Ke Huy Quan, por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Ele é o homem da vez – e como demorou, hein? Ke Huy Quan estrelou dois gigantescos sucessos quando era não mais do que um pré-adolescente – Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Os Goonies (1985) – mas esse começo tão auspicioso não foi suficiente para se manter sob os holofotes. Nos anos seguintes vieram participações em seriados de televisão, um filme ao lado de Jean-Claude Van Damme, outro com Brendan Fraser (que também andava meio esquecido e voltou com tudo nessa temporada) e… foi o fim (ao menos por enquanto). Ele simplesmente desistiu de atuar e foi desenvolver outros trabalhos, como coordenador de dublês em X-Men: O Filme (2000), assistente de direção em 2046: Os Segredos do Amor (2004) e até em outras atividades, como terminar seus estudos (é formado em Cinema pela Universidade da Califórnia). Porém, uma oportunidade de ouro voltou a bater em sua porta quando foi convidado para integrar o elenco de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, uma loucura que poucos acreditavam que daria certo e hoje se tornou não apenas o maior sucesso de bilheteria da produtora A24, como também é o campeão de indicações ao Oscar nesse ano. Quan já ganhou o Globo de Ouro, o Gotham e o Critics Choice, o prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e nada menos do que quase cinquenta troféus de agremiações regionais de críticos (até nas mais inusitadas, como na Aliança das Mulheres Críticas de Cinema e no Círculo de Críticos de Cinema Negros, para se ter ideia da unanimidade em torno do seu nome). Ah, e ele está indicado também ao Bafta, ao SAG Awards e ao Film Independent Spirit Awards (que serão entregues nas próximas semanas). E que trate logo de arrumar espaço na prateleira para essas novas estatuetas. O que é dele, pelo jeito, ninguém tira!
AZARÃO
Brendan Gleeson, por Os Banshees de Inisherin
Merecia ganhar? Com certeza! Mas vai? É pouco provável. Afinal, Brendan Gleeson enfrenta não só uma concorrência acirrada (alguém consegue parar Ke Huy Quan?) em geral, mas também dentro do seu próprio filme – Barry Keoghan, seu parceiro de cena, também está excelente, tanto que marca presença ao seu lado entre os finalistas deste ano. Mas Gleeson é a alma de Os Banshees de Inisherin, é uma atitude do seu personagem que dá início a todos os acontecimentos da história, e sua atitude impassível é responsável em grande parte por manter a audiência ligada em todos os desdobramentos dos seus atos. Sem falar que se trata de um veterano de inúmeros sucessos, vencedor do Emmy e que finalmente está recebendo a atenção que há muito lhe era devida. Por este trabalho ganhou o National Board of Review e foi indicado a quase todas as premiações da temporada – mas, na grande maioria, foi atropelado pelo colega de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Acontecerá o mesmo na festa do dia 12 de março? Infelizmente, é bastante provável.
SURPRESA
Brian Tyree Henry, por Passagem
De fato, por essa ninguém (ou pouca gente) esperava! Filme feito especificamente para o estrelato da protagonista, a oscarizada Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida, 2012), Passagem abre espaço para a entrada de um novo personagem de destaque com mais da metade da sua trama já em andamento, mas Brian Tyree Henry não é de perder tempo e logo rouba as atenções para si. Responsável pela única indicação que o longa recebeu, ele foi também lembrado pelo Critics Choice, Film Independent Spirit, Gotham e Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de ter constado nas listas de diversas agremiações de críticos especializados. Porém, apesar das dezenas de indicações somadas, nenhuma vitória lhe foi concedida – o que não chega a ser uma injustiça, é preciso concordar. Ator que vem desenvolvendo uma carreira crescente, essa lembrança vem em momento certo para que cada vez mais se preste atenção ao seu trabalho. Afinal, quem aí duvida que muito em breve outras indicações deverão se somar ao seu currículo?
ESQUECIDO
Paul Dano, por Os Fabelmans
Muitos poderiam apontar para essa vaga, como o “grande esnobado do ano” dessa categoria, o oscarizado Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo, 2014). Afinal, por O Enfermeiro da Noite ele foi indicado ao Bafta, SAG Awards, Globo de Ouro e Satellite, entre outras premiações. Acontece que, além de não ter ganhado em nenhuma dessas disputas, ele também não faz muito por merecer – tais reconhecimentos parecem ter sido impulsionados mais pela força do seu nome (e por uma competição não muito acirrada). O contrário, portanto, do que aconteceu com Paul Dano, mais uma vez subestimado pela Academia. Afinal, estão lhe devendo essa indicação – e até mesmo a estatueta – há um bom tempo. Como esquecê-lo como o irmão deprimido de Pequena Miss Sunshine (2006)? Ou como o rapaz “prestes a beber o milk-shake” oferecido pelo ameaçador protagonista de Sangue Negro (2007)? No ano passado mesmo ele deu outro show como o vilão de Batman (2022), oferecendo um Charada como nunca antes havia sido visto! Porém, como o patriarca de Os Fabelmans, ele passa por uma nova transformação, entregando uma figura introspectiva e, ao mesmo tempo, genial – ainda que muitas vezes incompreendida. Um tipo tão único que mesmo em sua própria família encontra dificuldades para se conectar. Um retrato sutil e poderoso, indicada ao Critics Choice Awards, Satellite, SAG Awards e em diversas agremiações regionais de críticos espalhadas por todo os Estados Unidos. Faltou pouco para chegar ao Oscar. Mais uma vez.
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