Desde o início da temporada, a disputa na categoria de Melhor Atriz se resumiu a uma única dupla: Michelle Yeoh contra Cate Blanchett. Qual das duas irá levar o Oscar para casa? A primeira pode estar no filme do ano e ser uma veterana com diversos trabalhos de destaque no currículo – ou seja, está mais do que na hora de merecer tal reconhecimento. Por outro lado, a segunda, que já possui duas estatuetas douradas em casa, apresentou aquela que vem sendo considerada a melhor performance de toda a sua carreira. Como fazer frente à tamanha excelência? Essa parece ser a grande questão. Quanto às demais concorrentes, há uma novata que garantiu seus aplausos a despeito dos votantes terem gostado ou não do seu filme (Blonde é o campeão de indicações às Framboesas de Ouro como um dos “piores” do último ano), uma coadjuvante que por seu força e carisma garantiu um lugar entre as protagonistas e uma quase desconhecida que surgiu de forma inesperada através de uma campanha apontada como pouco convencional. Ou seja, em cada um destes casos, as próprias indicações já são vitórias bem particulares. Com isso em mente, confira as nossas apostas para Melhor Atriz:

INDICADAS

 

FAVORITA
Michelle Yeoh, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Aos 60 anos, Michelle Yeoh possui uma das filmografias mais invejáveis entre os intérpretes estrangeiros (ela nasceu na Malásia) em atividade em Hollywood. Seu nome está nos créditos de sucessos como 007: O Amanhã Nunca Morre (1997), O Tigre e o Dragão (2000), Memórias de uma Gueixa (2005), Podres de Ricos (2018) e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021), entre tantos outros. No entanto, somente agora, com Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, conquistou sua primeira indicação ao Oscar. E mais ainda: em 95 anos da premiação, ela é a primeira atriz de origem asiática a ser indicada na categoria! Estrela do filme campeão de indicações neste ano, ganhou o Globo de Ouro (Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical) e o National Board of Review, foi indicada ao Bafta, SAG Awards, Film Independent Spirit, Critics Choice e Gotham, e reconhecida como a melhor da temporada por diversas associações regionais de críticos, como Boston, Nevada, Phoenix, Portland, St. Louis, Utah e Denver, entre outros. Há mérito mais do que suficiente nesse trabalho, aliado a um merecimento histórico, fruto de uma jornada repleta de interpretações memoráveis. E, por fim, há ainda o aspecto histórico relacionado a um tabu que precisa ser superado. O momento certo, na melhor hora possível.

AZARÃO
Cate Blanchett, por Tár
Alguém poderia apontar Cate Blanchett como a Meryl Streep (ou a Katharine Hepburn) de sua geração sem incorrer em nenhum exagero. Ela é, de fato, uma das maiores intérpretes – homem ou mulher – dos nossos tempos, e a cada novo trabalho tem reafirmado essa condição. O que ela alcança em Tár são níveis poucas vezes vistos antes, não só junto as suas colegas, mas também na sua própria lista de filmes anteriores. Isso seria suficiente para tamanho reconhecimento? Sim… e não. Afinal, é quase impossível olhar apenas para a atuação, sem esquecer do contexto no qual essa está inserida, da disputa na qual foi colocada e do histórico responsável por tamanha admiração. Blanchett já possui duas vitórias no Oscar e chegou neste ano a sua oitava indicação! Ainda mais raro seria lhe conceder uma terceira estatueta, um feito que apenas três atrizes em 94 anos de premiação conseguiram: Frances McDormand, Ingrid BergmanStreep e Hepburn! Não seria um exagero… cedo demais? Afinal, se Blanchett ganhar neste ano, será a mais nova a alcançar essa condição de tri-campeã, com apenas 53 anos (todas as demais tinham mais de 60). Mas se a suposta precocidade pode contar contra ela, por outro lado há sua excelência habitual, que nessa temporada já lhe garantiu o Globo de Ouro (Melhor Atriz em Filme Drama), o prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e o Critics Choice, além de indicações ao Bafta, SAG Awards, Film Independent Spirit, Gotham e Satellite. Ou seja, mais uma vez, dois pesos e duas medidas. Pode e merece ganhar. Mas será que vai? E, ainda, não seria sua principal concorrente ainda mais merecedora? Somente ao se abrir o envelope no dia 12 de março é que saberemos.

SURPRESA
Andrea Riseborough, por To Leslie
Essa indicação foi tão inesperada que chegou a motivar uma “investigação” por parte da Academia de Hollywood para verificar se alguma regra havia sido infringida. No final, nada de errado foi comprovado e Andrea Riseborough confirmou seu status de finalista. Mas, como ela conseguiu figurar nessa lista? Conhecida por sucessos como Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2015, ou séries como a cultuada Black Mirror (participou do episódio Crocodile, o terceiro da quarta temporada, em 2017), teve no independente To Leslie (ainda inédito no Brasil e sem previsão de lançamento por aqui) uma das suas primeiras oportunidades como protagonista. Ao aparecer como uma mãe solteira e alcóolatra, conquistou uma indicação ao Film Independent Spirit Awards e foi premiada nos festivais de Gijón (Espanha) e Raindance (Inglaterra)… e só. Mais nada. Então, qual foi o seu diferencial? A torcida a seu favor, que contava com nomes como de ex-vencedoras do Oscar do nível de Kate Winslet (“melhor atuação que já vi na minha vida”), Gwyneth Paltrow e Charlize Theron (que promoveram exibições privadas do filme para amigos e colegas), Susan Sarandon, Mira Sorvino, Jane Fonda, Laura Dern e Helen Hunt (entre tantas outras, que se manifestaram nas redes sociais a seu favor) ou até mesmo sua “rival” Cate Blanchett, que em seu discurso de agradecimento pelo troféu que lhe foi concedido no Critics Choice citou nominalmente Riseborough como uma das “performances do ano” que também mereciam essa vitória. Como se pode perceber, veio literalmente “do nada”, e agora tem as atenções do mundo voltadas na sua direção. Isso, sim, foi uma imensa surpresa.

ESQUECIDA
Danielle Deadwyler, por Till: A Busca por Justiça
O que mais surpreendeu no anúncio das indicações ao Oscar 2023 no que diz respeito à categoria de Melhor Atriz foi a total ausência de intérpretes negras. Ok, de acordo com o padrão norte-americano, há duas “não brancas” na lista (Ana de Armas, por ter nascido em Cuba, é vista como latina, enquanto que Michelle Yeoh é asiática), mas o espanto em relação às intérpretes afro-descendentes se justifica também por uma questão de mérito, pois haviam várias no páreo. Talvez a mais conhecida fosse Viola Davis (por sua atuação em A Mulher Rei, foi indicada ao Bafta, SAG Awards, Critics Choice e Globo de Ouro), mas é praticamente impossível compará-la com Danielle Deadwyler em Till: A Busca por Justiça. Conhecida até então por sua participação em séries como Watchmen (2019), P-Valley (2020) e Station Eleven (2021-2022), ela aparece como uma verdadeira revelação em sua primeira oportunidade de maior destaque. Igualmente presente em todas as principais premiações dessa temporada – está entre as finalistas do Bafta, SAG Awards e Critics Choice (ficou de fora apenas do Globo de Ouro), e ainda foi premiada no Gotham e no National Board of Review. Assim como a maioria das demais finalistas deste ano ao Oscar – com exceção de Michelle Williams, que apesar ser a atriz principal de Os Fabelmans, não é a protagonista da história – Deadwyler literalmente carrega o longa nas costas, desempenhando tal função com impressionante talento e desenvoltura.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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