Entre as cinco finalistas dessa categoria, apenas uma havia sido indicada anteriormente ao prêmio da Academia de Hollywood – e há quase três décadas! Ou seja, a sua satisfação de estar de volta entre as melhores do ano é quase a mesma das demais concorrendo pela primeira vez! Entre duas veteranas e três novatas, chama a atenção – assim como aconteceu na categoria-irmã de Ator Coadjuvante – a presença de duas selecionadas de um mesmo filme, e ambas em condições opostas: Jamie Lee Curtis tem uma carreira de quase cinquenta anos, além de ser filha de duas lendas do cinema mundial (Janet Leigh e Tony Curtis). Sua colega de elenco em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Stephanie Hsu, por sua vez, está apenas no seu quinto longa-metragem, sendo que é somente o terceiro em que sua personagem tem sequer um nome (no primeiro foi creditada como a “dona do bar”, e no segundo era a “assistente nervosa”). Uma das magias do cinema é que, a despeito de seus históricos, ambas aparecem nessa disputa em pé de igualdade – mais provável que uma anulando as chances da outra, até por um surpreendente equilíbrio entre elas, do que reforçando um improvável favoritismo em frente às demais. E entre essas, quais se destacam? Confira as nossas apostas para Melhor Atriz Coadjuvante:
INDICADAS
Angela Bassett, por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Sua primeira indicação ao Oscar foi pela cinebiografia Tina (1994), na qual interpretou a estrela pop Tina Turner, há quase trinta anos. Desde então, fez de tudo um pouco, mas nunca mais havia sido lembrada pela Academia de Hollywood. Até a rainha Ramonda ela já havia interpretado, no sucesso Pantera Negra (2018), aventura indicada a sete Oscars e premiada em três categorias. Porém, precisou reprisar a mesma personagem na sequência Pantera Negra: Wakanda Para Sempre para que os holofotes, finalmente, voltassem a lhe dar o destaque merecido. Premiada no Critics Choice e no Globo de Ouro, é finalista também no Bafta, no Satellite e no SAG Awards, além de ter marcado presença entre as melhores do ano na categoria em diversas agremiações regionais de críticos de cinema por todos os Estados Unidos. Ou seja, não apenas tem a força de um filme de impacto (recebeu, ao todo, 5 indicações) e muito visto (faturou quase US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais), como apresentou uma performance elogiada, merecedora de todos os aplausos possíveis, e que serve ainda para coroar uma carreira de muito trabalho e talento. É uma oportunidade rara, que combina uma trajetória de imenso reconhecimento com a qualidade inquestionável de um trabalho específico. A coroação de uma verdadeira rainha, portanto.
Kerry Condon, por Os Banshees de Inisherin
Quem é Kerry Condon, afinal? Bom, é ela a Siobhán, a irmã sem muita paciência de Colin Farrell em Os Banshees de Inisherin, um dos campeões de indicações deste ano. É o tipo de atriz, no entanto, que aquele que está reparando nela somente agora poderá ficar com a impressão: “de onde eu a conheço?”. Bom, de tudo que é lugar. Afinal, esteve em séries como The Walking Dead (2013-2014) e Better Call Saul (2015-2022), integrou o elenco de títulos premiados, como As Cinzas de Ângela (1999) e Três Anúncios para um Crime (2017), e ainda faz parte do Universo Cinematográfico Marvel (mesmo que seja apenas a sua voz, como a inteligência artificial Friday, ouvida pela primeira vez em Vingadores: Era de Ultron, 2015, e em outros quatro longas até Vingadores: Ultimato, 2019). Mesmo com tudo isso em seu histórico, é vista quase como uma “estreante”, mas uma de impor respeito: até agora, nessa temporada, ganhou quase duas dezenas de troféus, todos por este desempenho, e sempre em agremiações de críticos, inclusive pela prestigiada Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA. Ou seja, é a favorita da categoria. Mas será que isso, necessariamente, se traduz em chances no Oscar? Tanto pode ser que sim, como que não. Basta não ter uma concorrente de peso pela frente. O que não é bem o caso dela nesse ano. De qualquer forma, ganhando ou não, essa indicação já pode ser vista como uma vitória, pois seu status em Hollywood definitivamente mudou (para melhor) após esse muito bem-sucedido trabalho!
Hong Chau, por A Baleia
Por mais que a indicação de Hong Chau por A Baleia seja merecida, é inevitável um sentimento de “acerto de contas” em sua inclusão de última hora. Afinal, ela havia ficado de fora das finalistas do Critics Choice e do Globo de Ouro, por exemplo. E também não se pode esquecer que em ambas as premiações (e em muitas outras) ela havia sido indicada há alguns anos por seu desempenho em Pequena Grande Vida (2017), performance elogiada que, no entanto, acabou ficando de fora do Oscar daquele ano. Ou seja, a Academia estava lhe devendo essa indicação há algum tempo, e chegou a hora de pagar essa dívida. Mas será que, além disso, ela também possui chances de vitória? Essa, por outro lado, é uma situação bem mais difícil. Ainda que nessa temporada tenha sido lembrada também no Bafta, no Gotham e no SAG Awards, além de ter marcado presença também em algumas seleções de críticos, ao contrário do seu colega de elenco – Brendan Fraser, favorito na disputa de Melhor Ator – ela não ganhou absolutamente nada até o momento. Quer dizer, quase nada: foi premiada única e exclusivamente pelos Críticos Online de Nova York, ou seja, é a exceção que confirma a regra. Enfim, é uma intérprete de grande talento que há tempos merecia o status de “indicada ao Oscar”. Agora, para virar dona da sua própria estatueta, pelo jeito terá que esperar mais alguns anos.
ESQUECIDA
Dolly De Leon, por Triângulo da Tristeza
Várias poderiam ocupar essa posição, e a maioria delas muito mais conhecidas do que a filipina Dolly De Leon. Basta lembrar da norte-americana Janelle Monáe, por Glass Onion: Um Mistério Knives Out (indicada ao Critics Choice e vencedora do National Board of Review), da irlandesa Jessie Buckley, por Entre Mulheres (indicada ao Gotham e ao Critics Choice) ou a inglesa Carey Mulligan, por Ela Disse (indicada ao Bafta e ao Globo de Ouro). Porém, poucas mereciam essa indicação tanto quanto aquela que, mais do que ninguém, rouba a cena no terceiro ato de Triângulo da Tristeza. Praticamente inexistente nos dois terços iniciais da trama, a atriz já premiada no FAMAS – The Filipino Academy of Movie Arts and Sciences – e no FAP – Film Academy of Philippines – Awards (as duas premiações cinematográficas mais importantes das Filipinas) fez sua estreia em uma produção ocidental (e falada em inglês) com o pé direito. Não por acaso, foi indicada ao Bafta, Globo de Ouro, Satellite e na premiação da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de ter sido escolhida como a melhor coadjuvante feminina do ano pelos críticos de Los Angeles, Dakota do Norte e no Guldbagge Awards (o mais importante prêmio do cinema sueco, país de origem da produção). Ou seja tê-la entre as finalistas desse ano seria um passo importante para uma efetiva internacionalização do Oscar, reforçando ainda mais uma desejável diversidade. Infelizmente, no entanto, ainda não foi dessa vez.
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