Um dos aspectos interessantes dos curtas-metragens é que eles estão num espectro mais afeito às experimentações. Em grande parte, isso tem a ver com a natureza menos massivamente comercial dessas produções, afinal de contas o circuito clássico das salas de cinema raramente exibe curtas-metragens. Com o advento do streaming, os curtas passaram a ter mais espaços, comercialmente falando. No entanto, como ainda constituem um nicho muito específico, conseguem manter essa aura de “propensão ao risco”. O que geralmente nos brinda com rompantes de criatividade. Entre as produções indicadas ao Oscar da categoria animada em 2023, três estão indicados ao Annie Awards, considerado o Oscar da animação norte-americana. Mas, será que isso é garantia de favoritismo? Bom, sem mais demora, confira a nossa análise sobre as chances dos concorrentes à estatueta de Melhor Curta de Animação.
INDICADOS
- O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo (Charlie Mackesy, Matthew Freud)
- The Flying Sailor (Amanda Forbis, Wendy Tilby)
- Ice Merchants (João Gonzalez, Bruno Caetano)
- My Year of Dicks (Sara Gunnarsdóttir, Pamela Ribon)
- An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It (Lachlan Pendragon)
FAVORITO
O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo
Essa produção Apple TV+ desponta como a favorita da categoria, aquela em que apostamos nossas fichas para a noite da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. E, por quê? Ganhou o Bafta e está indicada em sete categorias do Annie Awards 2023 (Melhor Especial Animado, Efeitos Animados em TV, Animação de Personagens em TV, Direção de Animação em TV, Trilha Sonora de Animação em TV, Design de Produção de Animação em TV e Montagem em Produção Televisiva). As aventuras lúdicas de um menino curioso, uma toupeira gananciosa, uma raposa cautelosa e um cavalo sábio formam o tipo de história bonita e levemente agridoce que tem potencial para agradar. Se ele vai sair da maior festa de Hollywood com o tão cobiçado prêmio, aí já são outros quinhentos. Mas, por enquanto, é o concorrente mais propenso a isso.
AZARÃO
My Year of Dicks
Já com esse título para lá de sugestivo (algo como “Meu Ano de Paus”, no sentido de pênis, mesmo), o curta-metragem norte-americano/islandês dirigido por Sara Gunnarsdóttir afronta a ideia obtusa de que animação é coisa de criança. O que temos nele é a jornada de uma jovem em busca da perda de sua virgindade, algo tão abordado em outras produções. Mas, aqui temos as possibilidades quase infinitas da animação dando respaldo à artista que conta essa situação aparentemente banal. O status de azarão se dá pelo desempenho em outras premiações. O filme venceu o Festival de Annecy 2022 (um dos mais importantes do mundo) como Melhor Produção Televisiva; levou o Troféu Especial do Júri do Festival SXSW 2022; foi exibido fora de competição no Festival de Londres. Enfim, credenciais não faltam. Será que teremos uma zebra por aqui? É bem possível.
SURPRESA
An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It
Uma das surpresas da categoria é essa animação australiana de título enorme (em tradução livre, algo como Um Avestruz Disse que o Mundo é Falso e eu Acho que Acredito). Ela mostra um jovem descobrindo falhas no seu mundinho em stop-motion com a ajuda de um avestruz falante. Suas credenciais para chegar aqui são menos empolgantes de que as de boa parte de seus adversários – a maior delas é a indicação ao prêmio principal do Festival de Annecy 2022. É pouco, por exemplo, para fazer frente ao favorito que conta com o aporte de divulgação de uma gigante como a Apple TV+. No entanto, o seu status de “surpresa” é menos porque seja inusitada a sua presença por aqui, mais por conta de uma chance baixa de vitória.
ESQUECIDO
Passajero (Juan Pablo Zaramella)
Poxa, Academia, faltou ao menos uma produção latino-americana entre os indicados, não é mesmo? E olhe que chegamos muito perto. O argentino Passajero, de Juan Pablo Zaramella, esteve na shortlist com os 15 pré-selecionados às cinco vagas, mas acabou caindo fora da disputa no último ponto de corte. O que é realmente uma pena, já que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood perdeu a oportunidade de valorizar o ótimo momento que vive a animação na América do Sul. Vale lembrar que em 2022 tivemos o chileno Bestia (2021) concorrendo. Enfim, nos resta ficar “chorando as pitangas” e esperar que a entidade olhe com atenção para os filmes do continente americano COMO UM TODO no próximo ano.
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