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Oscar 2023 :: Apostas para Melhor Curta-metragem (live-action)

Publicado por
Marcelo Müller

Estava tudo pronto para termos um filme brasileiro concorrendo com reais chances de vitória no Oscar 2023. Sideral (2022) se manteve firme e forte nas etapas intermediárias, figurava nas listas de prováveis indicados e parecia uma aposta realmente segura. Mas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu colocar água na caipirinha do brasileiro e deixar o filme de fora da disputa. Pior para o Oscar. Não que os escolhidos sejam ruins, muito longe disso, mas a gente defende com unhas e dentes a ideia de que poderíamos fazer bonito neste ano. E uma curiosidade sobre a peleja desta vez: todos os indicados são filmes não norte-americanos. Temos um irlandês, um dinamarquês, um italiano, um norueguês e luxemburguês. Portanto, se nas categorias consideradas principais a presença de filmes não norte-americanos é uma exceção, aqui ela se tornou absoluta. Voltando às previsões, assim como a categoria Curta Documentário, esta não é claramente previsível. Há indícios de que uns têm mais chances dos que outros, no entanto, basicamente tudo pode acontecer. Vamos fazer um exercício de análise para tentar compreender melhor o cenário dos Curtas-metragens (live-action)? Chega mais que apontamos favorito, azarão, surpresa e o esnobado da vez (qual filme será, hein?).

INDICADOS

 

FAVORITO
An Irish Goodbye
Depois da morte prematura de uma mulher, seus dois filhos se reencontram após muito tempo de distância. É o que diz a sinopse de An Irish Goodbye, o favorito para levar para a casa o Oscar de Curta-metragem (live-action). O filme irlandês tem uma ligeira vantagem diante de seu concorrente mais forte, que aqui colocamos como o azarão da vez. Provavelmente será uma daquelas disputas definidas nos últimos momentos, por poucos votos, daí dependendo muito da sensibilidade dos votantes: dão o prêmio para um drama familiar com contornos mais pesados ou para um filme que mostra de modo quase lúdico crianças órfãs em tempos de guerra? An Irish Goodbye está indicado ao  Bafta (Melhor Curta Britânico) e foi nominado aos prêmios de inúmeras associações de críticos nos Estados Unidos (Chicago, Austin, Brisbane, etc). Tá com jeitão de campeão, mas não será uma vitória de lavada.

AZARÃO
Le Pupille
Le Pupille quase entrou aqui como favorito. O que não faltam são motivos para isso. Primeiro, porque é dirigido por uma das principais cineastas italianas da atualidade, Alice Rohrwacher. Segundo, porque entre os seus produtores está ninguém menos do que Alfonso Cuarón. Terceiro, porque conta em seu elenco com nomes conhecidos mundialmente, tais como Alba Rohrwacher e Valeria Bruni Tedeschi. Quarto, porque é distribuído internacionalmente pela Disney+, ou seja, é um dos que tem mais visibilidade entre os concorrentes. Esse filme que mostra garotas rebeldes num internato católico bem num momento de escassez por conta da guerra perde do seu concorrente direto apenas pela quantidade bem inferior de prêmios aos quais foi indicado. Basicamente, ele concorreu ao prêmio de Melhor Curta no Filadélfia Film Festival 2022 e no Toronto Film festival 2022. Mas, não estranhe muito se ele acabar estragando a festa de An Irish Goodbye.

SURPRESA
Nattrikken (Eirik Tveiten, Gaute Lid Larssen)
Neste filme norueguês, Ebba espera o bonde numa noite fria de dezembro. Essa viagem de volta à casa toma um rumo inesperado. Uma história intrigante, contada de um modo bastante peculiar, que levou para casa o prêmio de Melhor Curta-metragem pelo Júri oficial do Festival de Tribeca 2022. E só (na verdade não é bem assim, pois ele também saiu vitorioso dos festivais de Annapolis e Virgínia, ambos nos EUA). Nas bolsas de apostas prévias à divulgação da lista dos finalistas nessa categoria do Oscar, nem sempre Nattrikken figurava entre os “praticamente certos”, o que nos faz colocá-lo aqui como uma surpresa. Suas chances de vitória são minúsculas, mas, como se diz no Rio Grande do Sul, “não tá morto quem peleia”.

ESQUECIDO
Sideral
Apontar o brasileiro Sideral como o principal esquecido nessa categoria não é simplesmente um exercício de bairrismo, de patriotismo. O curta-metragem de Carlos Segundo figurou realmente em praticamente todas as listas de apostas, estava na shortlist entre os 15 semifinalistas, mas acabou não tendo fôlego suficiente para vencer a concorrência. Nele, enquanto o Brasil se prepara para lançar seu primeiro foguete tripulado ao espaço. a faxineira Marcela toma uma atitude que afeta a sua vida profundamente, mas também impacta seus filhos e marido. Sideral ganhou inúmeros distinções: venceu o Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, recebeu menção especial no Festival de Berlim, foi indicado à Palma de Ouro de curtas no Festival de Cannes, além de ter sido lembrado em premiações de vários festivais e associações mundo afora. Com tantas credenciais, natural que as expectativas de estar por aqui fossem altas, não é mesmo? Por isso mesmo a frustração de não ver nosso representante por aqui foi tão grande.
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As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.