Se você está pensando “mas que diabos é design de produção?”, saiba que essa dúvida não é exclusividade sua. Há alguns anos a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood decidiu chamar de Design de Produção (Production Design) o que antes era mais conhecido como Direção de Arte – lembrando que no Brasil a atividade segue sendo chamada de Direção de Arte. Trata-se do trabalho responsável pela criação de cenários, ambientações, detalhes e locações, com tudo o que estes têm de direito. É um trabalho fundamental para que a gente “compre” os mundos que os filmes estão nos apresentando. Pensando em termômetros que nos ajudam a medir a temperatura das tendências, o mais importante precursor do Oscar na área é o ADG – Art Directors Guild, ou Sindicato dos Diretores de Arte. Portanto, os resultados dos prêmios anuais desse sindicato são importantíssimos, embora seja preciso ponderar que o ADG Awards possui quatro categorias de cinema, o que costuma embolar as coisas. Mas, desse vez, apenas um dos indicados ao Oscar foi premiado por seus pares, ou seja, temos um favorito.
INDICADOS
- Nada de Novo no Front, de Christian M. Goldbeck, Ernestine Hipper
- Avatar: O Caminho da Água, de Dylan Cole, Ben Procter, Vanessa Cole
- Babilônia, de Florencia Martin, Anthony Carlino
- Elvis, de Catherine Martin, Karen Murphy, Bev Dunn
- Os Fabelmans, de Rick Carter, Karen O’Hara
FAVORITO
Babilônia
O mais novo filme do antes garoto prodígio Damien Chazelle dividiu opiniões. Antes de ele estrear nas telonas, muitos cravaram que poderia fazer bonito no Oscar, afinal de contas Hollywood ama filmes que falam dela própria. No entanto, acabou que não foi bem assim, pois o reconhecimento morno azedou a expectativa. Mas, nesta categoria Babilônia é o franco favorito. Para começar, ele foi o único dos indicados a vencer alguma coisa no ADG Awards 2023 – Melhor Design de Produção em Filme de Época. Como se isso não fosse suficiente, ele ganhou também o Bafta e o Critics Choice Awards. Portanto, podemos afirmar com certo grau de segurança que esse Oscar deverá ir para as mãos de Florencia Martin e Anthony Carlino.
AZARÃO
Elvis
Se há um filme que pode mudar a rota mais ou menos previsível da categoria é Elvis. Mesmo que colecione mais indicações do que vitórias nessa área, o longa-metragem de Baz Luhrmann é aquele que pode bagunçar o coreto, especialmente se os votantes acabarem preterindo Babilônia por alguma razão. Das três indicadas pelo belo trabalho nessa cinebiografia meio do Rei do Rock, meio do empresário que alçou um garoto talentoso ao Olimpo da música, apenas Karen Murphy é uma novata em sua primeira indicação. Bev Dunn já tem um Oscar em casa, por O Grande Gatsby (2013), mesmo filme que deu a segunda estatueta de Catherine Martin – ela já tinha ganhado por Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001). Se há um time que pode surpreender é esse.
SURPRESA
Avatar: O Caminho da Água
No ADG Awards 2023, Avatar: O Caminho da Água foi indicado na categoria Melhor Design de Produção em Filme de Fantasia, mas perdeu para Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo. Além disso, foi nominado somente ao prêmio da categoria nas associações de críticos de Chicago, do Havaí e de Las Vegas. Muito pouco para sustentar a indicação ao Oscar, superando concorrentes que pareciam à sua frente na corrida. Existe toda uma discussão conceitual a respeito das diferenças entre o design de produção de filmes predominantemente “desenhados” em computação gráfica e os que não têm essa característica – por isso mesmo a Art Directors Guild coloca os filmes de fantasia numa categoria específica. De todo modo, a presença de Avatar: O Caminho da Água pode ser considerada uma surpresa impulsionada pelo sucesso.
ESQUECIDO
Pinóquio por Guillermo Del Toro
Ué, se indicaram Avatar: O Caminho da Água, que basicamente é uma animação (começando com a captura de movimentos), porque não indicar na categoria uma animação que assim se assume 100%? Quando ninguém mais achava que era possível fazer uma boa versão da batida história do boneco de madeira que sonha em ser menino de verdade, surge Pinóquio por Guillermo Del Toro, um filme lindíssimo que mistura referências em prol de uma trama que não abdica do lúdico, mas carregando traços sombrios. E, certamente, a direção de arte (ou, como gosta a Academia, o design de produção) é um dos atributos mais importantes. Tanto que ele venceu o ADG Awards 2023 justamente na categoria de Animação. Rolou um preconceito com o suporte na hora de perfilar os cinco concorrentes ao Oscar? Muito provavelmente, o que é uma pena.
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