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Oscar 2023 :: Apostas para Melhor Direção

Publicado por
Robledo Milani

Como concorrer contra aquele que tem sido, cada vez mais, apontado como “o maior cineasta vivo ainda em atividade”? Pois bem, esse é o desafio não de quatro, mas de cinco dos indicados deste ano – sim, pois dessa vez temos seis finalistas, e não apenas cinco como é de praxe, uma vez que dois assinam o mesmo título. Porém, é justamente a dupla que responde pelo campeão de indicações do ano, o que não é pouca coisa. E entre um sueco, um britânico e um norte-americano, o que chamou atenção neste ano foi não apenas a ausência de cineastas negros (um tabu que a Academia de Hollywood ainda precisa superar, afinal, em 95 anos de premiação nunca um realizador afrodescendente foi premiado), mas também da falta da presença feminina! Isso se torna ainda mais grave pois, nos dois anos anteriores, foram elas as premiadas: Jane Campion, por Ataque dos Cães, em 2022, e Chloé Zhao, por Nomadland, em 2021, quebrando um jejum que vinha desde 2010, quando Kathryn Bigelow levou para casa a cobiçada estatueta dourada por seu trabalho em Guerra ao Terror. E o mais triste: essas três são as únicas mulheres reconhecidas nessa categoria em mais de nove décadas! E diretoras de talento neste ano não faltaram (confira a nossa lista de “esquecidas” no final dessa matéria). Registrado o nosso protesto, confira as nossas apostas para Melhor Direção:

INDICADOS

 

FAVORITO
Steven Spielberg, por Os Fabelmans
Muitos dirão: “puxa, de novo o Spielberg? Ele já não ganhou duas vezes?”. Sim, é verdade. Mas a última foi em 1999 (por O Resgate do Soldado Ryan), ou seja, há mais de duas décadas. E, desde então, ele somou outras inacreditáveis 13 indicações (quatro apenas nessa categoria) a um total de 22 indicações (nove somente em Direção). Sendo que a última foi no ano passado, pelo musical Amor, Sublime Amor! Ou seja, tá mais do que na hora dele levar pra casa mais uma estatueta, afinal, não é a todo momento que aparece alguém com um currículo desses, certo? Por Os Fabelmans, filme inspirado na sua história pessoal e, segundo ele mesmo, o mais íntimo de todos os seus longas, ganhou o National Board of Review e o Globo de Ouro, sem esquecer de que marcou presença (sendo premiado ou apenas indicado) em praticamente todas as listas de melhores do ano das agremiações regionais de críticos de cinema por todos os Estados Unidos. Ou seja, ele merece – e muito – por esse filme. Mas também pelo conjunto da obra. Enfim, é como acertar dois coelhos com uma cajadada só – e certeira!

AZARÃO
Daniel Kwan, Daniel Scheinert, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
A primeira vez que uma dupla de cineastas foi premiada junto no Oscar foi em… 1962! Ou seja, há exatamente seis6 décadas! Os vencedores na ocasião foram Robert Wise e Jerome Robbins, pela versão original de Amor, Sublime Amor, e é sabido que nem chegaram a trabalhar juntos (Robbins iniciou os trabalhos, foi demitido e Wise foi chamado para assumir a tarefa), mas assinaram em conjunto por uma questão de regras do sindicato. Desde então, apenas os irmãos Joel e Ethan Coen tiveram a mesma sorte (Onde os Fracos não têm Vez, em 2008). Ou seja, se Daniel KwanDaniel Scheinert – também conhecidos apenas por “os Daniéis” – ganharem, será a primeira vez que uma dupla que trabalhou junto do início ao fim (e que não são parentes) receberá a honra máxima da Academia! E eles vem dispostos para essa briga! Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo até agora foi reconhecido como a Melhor Direção do ano pelos votantes do Critics Choice e em mais de três dezenas de associações regionais de críticos (34 até o momento, para sermos exatos)! Além, é claro, de terem sidos indicados ao Globo de Ouro e estarem na disputa do DGA Awards (Directors Guild of America, o sindicato da categoria), Bafta e Independent Spirit, entre outros. Pelo jeito, o azarão tá com cada vez mais cara de favorito, e a única coisa que pode impedi-los dessa vitória é esse “ranço” dos votantes em reconhecer duplas (o histórico, como visto no início desse parágrafo, é claramente desfavorável), além, é claro, de terem pela frente ninguém menos do que um dos maiores cineastas da nossa geração. Será suficiente?

SURPRESA
Ruben Östlund, por Triângulo da Tristeza
A presença de Ruben Östlund, realmente, foi uma surpresa. Afinal, eram poucos entre os “especialistas” que acreditavam que ele seria lembrado. No entanto, Triângulo da Tristeza, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes (mesmo retrospecto, por exemplo, do sul-coreano Parasita), por mais que se trate de um filme “estrangeiro” (ou seja, não feito em Hollywood), é uma produção quase que inteiramente falada em inglês, o que certamente deve ter colaborado para que mais profissionais nos Estados Unidos o tenham visto e, pela lógica, votado nele. Importante lembrar também que Östlund não é um novato na premiação: seu longa anterior, The Square: A Arte da Discórdia, foi indicado a Melhor Filme em Língua Estrangeira (antigo nome da categoria de Melhor Filme Internacional) em 2018. Presente também entre os finalistas a Melhor Roteiro Original, ter garantido a inclusão nessa categoria já pode ser visto como uma imensa vitória, uma vez que não foi indicado em absolutamente nenhuma (zero mesmo) premiação nessa temporada, nem entre os críticos, muito menos nas cerimônias de maior visibilidade. Seus únicos créditos até o momento são o Guldbagge (o ‘Oscar’ da Suécia) e o European Film Awards – duas premiações, obviamente, europeias, ou seja, bastante distantes das movimentações hollywoodianas

ESQUECIDA
Charlotte Wells, por Aftersun
Talvez o mais seguro fosse apontar para a ausência de Joseph Kosinski, por Top Gun: Maverick, o único dos cinco indicados ao prêmio do Sindicato dos Diretores (DGA) que não chegou ao Oscar. Ou talvez James Cameron, que pelo épico Avatar: O Caminho da Água foi indicado ao Critics Choice e ao Globo de Ouro. Mas com tantas boas realizadoras no páreo, como ignorá-las por completo? Sarah Polley ao menos garantiu uma indicação a Melhor Roteiro Adaptado (enquanto que Entre Mulheres é o único longa dirigido por uma mulher a estar entre os concorrentes a Melhor Filme), mas a lista de esnobadas é grande: Gina Prince-Bythewood (A Mulher Rei, indicada ao Critics Choice e ao Bafta), Halina Reijn (Morte. Morte. Morte., indicada ao Independent Spirit), ou, principalmente, Charlotte Wells, que por Aftersun se tornou a “queridinha” dessa temporada de premiações. Vencedora do National Board of Review e no Gotham Awards (ambos como cineasta revelação) e escolhida a melhor do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, está concorrendo ainda ao Bafta e ao DGA Awards, o que confirma o alcance do seu “pequeno” filme junto à crítica e com os membros da indústria. Faltou apenas o Oscar. Mas não por muito tempo.
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As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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