E, mais uma vez… ficamos de fora! O representante brasileiro, assim como tem se repetido sistematicamente por quase duas décadas, não chegou nem mesmo a garantir um lugar na “short list”, ou seja, na lista de 15 (antes eram apenas nove) título semi-classificados, divulgada um mês antes da seleção oficial de finalistas. O último longa do Brasil a conseguir uma vaga nessa disputada relação foi O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), o nosso escolhido para o Oscar 2008. Neste ano todas as esperanças verde-e-amarelas recaíam sobre o premiado Marte Um, de Gabriel Martins, que mesmo fazendo bonito por onde foi exibido – chegou a ser adquirido pela distribuidora da cineasta Ava DuVernay para lançamento nos Estados Unidos – não teve a felicidade de ir além em sua campanha junto aos membros da Academia de Hollywood. Resta, agora, torcer por um vizinho hermano, que além de ter o Papa e a Copa do Mundo de Futebol, pode se tornar tricampeão também na maior premiação do cinema mundial. Será que vai ser bem sucedido nesse intento? Confira as nossas apostas para Melhor Filme Internacional:
INDICADOS
- Nada de Novo no Front (Alemanha)
- Argentina, 1985 (Argentina)
- Close (Bélgica)
- EO (Polônia)
- A Menina Silenciosa (Irlanda)
FAVORITO
Nada de Novo no Front (Alemanha)
Com nada menos do que inacreditáveis nove indicações ao Oscar na conta – concorrendo inclusive a Melhor Filme, além de Filme Internacional – como alguém teria coragem de apostar contra essa vitória do alemão Nada de Novo no Front? Com exceção do sul-coreano Parasita (2019), o único até hoje a ganhar aqui e também na categoria principal, todos os demais títulos que concorreram em ambas garantiram ao menos essa vitória – como aconteceu com o japonês Drive My Car (em 2022), com o mexicano Roma (em 2019) e com o austríaco Amor (em 2013), apenas para ficarmos nos exemplos mais recentes. Claro que há exemplos de longas estrangeiros que tiveram várias indicações e, mesmo assim, acabaram perdendo como Melhor Filme Internacional – como o francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (que em 2002 recebeu cinco indicações e não levou nenhuma) ou o mexicano O Labirinto do Fauno (que em 2007 recebeu seis indicações, ganhou em três disputas, mas perdeu em Filme Estrangeiro). Qual desses dois cenários é mais provável que se repita com o candidato da Alemanha em 2023? A última vez que o país ganhou foi com A Vida dos Outros, em 2006 (quase duas décadas atrás), e mesmo sem ter ganho importantes premiações precursores nessa temporada – como o Globo de Ouro ou o Critics Choice – ao chegar na festa da Academia com essa impressionante demonstração de força e influência entre os votantes, o mais seguro é apostar que essa mesma impressão irá se repetir também na hora em que o envelope com o nome do vencedor for aberto!
AZARÃO
Argentina, 1985 (Argentina)
Não basta ser tri no futebol, a Argentina agora quer ganhar pela terceira vez também no Oscar. Dona de duas estatuetas – conquistadas por A História Oficial, em 1986, e por O Segredo dos Seus Olhos, em 2010 – o nosso país vizinho chegou neste ano a sua oitava indicação, e não será surpresa caso saia da festa em plena comemoração. Pra começar, o protagonista de Argentina, 1985 é ninguém menos do que Ricardo Darín – e as últimas quatro indicações do país foram conquistadas por filmes que tinham o astro à frente do elenco. Ou seja, tá mais do que comprovado de que o homem dá sorte! Vencedor do Globo de Ouro e premiado no Festival de Veneza e no National Board of Review, foi indicado ao Critics Choice e ao Bafta, além de ter aparecido em quase todas as listas das agremiações regionais de críticos de cinema por todos os Estados Unidos. Pode não ser o favorito, ok. Mas, definitivamente, não é carta fora do baralho, e deverá perseguir essa vitória até o último minuto.
SURPRESA
A Menina Silenciosa (Irlanda)
Muitos apostavam no mexicano Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, no sueco Garoto dos Céus, no sul-coreano Decisão de Partir ou até no austríaco Corsage, todos bastante elogiados e também bem posicionados na short list de 15 pré-selecionados da categoria. O que ninguém parecia ter prestado atenção era na insuspeita força do irlandês A Menina Silenciosa, que começou a chamar atenção um ano atrás, quando foi premiado na mostra paralela Generation Kplus do Festival de Berlim. Desde então, veio desenvolvendo uma carreira sólida, ainda que (bastante) discreta. Nessa temporada, foi indicado apenas ao Bafta e ao Satellite, e lembrado em algumas poucas associações de críticos, mas sempre como finalista, e nunca como vitorioso. Grande vencedor do Irish Film and Television Awards – o “Oscar” da Irlanda – segue inédito no circuito comercial brasileiro (e ainda sem previsão de estreia). Ou seja, tem tudo para ser uma indicação ‘justa’, e que pode ser encarada, por si só, como o ponto máximo ao qual o filme conseguiu alcançar.
ESQUECIDO
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução (Índia)
A aventura musical dirigida por S.S. Rajamouli realmente foi esquecida – até mesmo em sua própria casa! Afinal, há quem afirme que RRR: Revolta, Rebelião, Revolução só não vai levar o Oscar para casa… porque nem sequer foi indicado! Nessa categoria específica de Melhor Filme Internacional, não adianta contar apenas com a boa vontade dos membros da Academia – antes, é preciso ser escolhido como o representante oficial do seu país de origem. E, a despeito do sucesso internacional desse longa, não foi o que aconteceu – o comitê indiano acabou colocando suas fichas em outro título, Chhello Show (2021), de Pan Nalin, que até ficou entre os 15 da short list, mas não garantiu uma vaga entre os cinco finalistas. Isso não impediu, no entanto, que os produtores de RRR seguissem fazendo campanha em todas as demais categorias – o que acabou dando certo, pois foi indicado em Melhor Canção Original – e aumentou ainda mais a repercussão ao redor do projeto, que ganhou o Critics Choice e foi também escolhido como o Melhor Filme em Língua Estrangeira pelos críticos da Georgia, Denver, Havaí, Indiana, Kansas, Carolina do Norte, Texas do Norte, Filadélfia, Phoenix e Utah, sem esquecer das indicações ao Globo de Ouro, Satellite e ter sido citado entre os dez melhores do ano pelo National Board of Review (apenas o segundo em mais de noventa anos da premiação a não ser falado em inglês).
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