O Oscar é uma festa, a maior de Hollywood. Então, boa parte de seu atrativo é conferir os astros e as estrelas de primeira grandeza do firmamento mundial trocando gentilezas, interagindo na plateia enquanto abrem os envelopes, lendo os roteiros espirituosos sobre o palco. Nesse cenário em que o glamour manda mais do que qualquer coisa, sobra pouca visibilidade para categorias menos badaladas, como a de Melhor Curta Documentário. Há quem defenda, inclusive, que essas categorias “menores” sejam apresentadas em outro momento ou tenham seus resultados apenas divulgados, ou seja, sem a oportunidade de vencedores tomarem o microfone com discursos emocionados. Tudo para transformar a festa numa ocasião “mais dinâmica”, pensando nela principalmente como um espetáculo televisivo. Uma baita sacanagem com os profissionais essa separação, não é mesmo? Controvérsias à parte, a disputa deste ano na categoria Curta Documentário parece apontar para um vencedor que fala de censuras pouco alardeadas, um tema vital a ser levantado em sociedade. Mas, não excluamos a possibilidade de um azarão. Confira abaixo as nossas apostas para a categoria Melhor Curta Documentário.
Indicados
- O ABC da Proibição de Livros (Sheila Nevins, Trish Adlesic)
- The Barber of Little Rock (John Hoffman, Christine Turner)
- Island in Between (S. Leo Chiang, Jean Tsien)
- A Última Loja de Consertos (Ben Proudfoot, Kris Bowers)
- Nai Nai & Wai Po (Sean Wang, Sam Davis)
FAVORITO
O ABC da Proibição de Livros
Lançado no Brasil pelo Paramount+, O ABC da Proibição de Livros é o grande favorito para levar este Oscar. O filme é uma coleção de depoimentos de jovens mentes afiadas, as mais afetadas pela proibição de livros em determinados distritos escolares dos Estados Unidos. Codirigido por Sheila Nevins, Trish Adlesic e Nazenet Habtezghi o curta-metragem documental foi indicado ao Critics’ Choice Documentary Award e ao Astra Film Award, chegando à disputa como favorito pela forma como articula a denúncia de algo que passa meio despercebido pela maioria: cerca de dois mil livros ganharam um selo de “restrito”, “questionado” ou “proibido” para estudantes em até 37 estados – não por acaso, os temas mais recorrentes nesses livros censurados são questões LGBTQIAPN+. Será uma grande zebra se o trio de cineastas não se consagrar na festa do Oscar.
AZARÃO
The Barber of Little Rock
Se há um filme capaz de quebrar as expectativas da vitória de O ABC da Proibição de Livros é The Barber of Little Rock. Dirigido por John Hoffman e Christine Turner, o documentário acompanha os esforços altruístas de Arlo Washington, barbeiro afro-americano de Little Rock, no estado do Arkansas, EUA, que fundou um banco comunitário sem fins lucrativos a fim de diminuir a disparidade da riqueza racial em sua comunidade. Sua intenção é ajudar outras pessoas negras a escapar das armadilhas do sistema bancário que as deixam constantemente mais pobres. Também indicado ao Critics’ Choice Documentary Award, o filme venceu o Indy Shorts International Film Festival e ainda recebeu uma indicação ao Social Impact Media Awards.
SURPRESA
Nai Nai & Wai Po
Contrariando algumas expectativas de que ficasse de fora da seleção final rumo ao Oscar, Nai Nai & Wai Po fez bonito, deu aquela arrancada final e deixou para trás concorrentes que pareciam ter mais fôlego. O filme é uma homenagem do diretor taiwanês-americano Sean Wang às suas duas avós taiwanesas “que dançam, se espreguiçam e soltam peidos para afastar a tristeza”. Um retrato muito afetuoso sobre essas mulheres que lideraram famílias levadas a migrar de seu país natal aos Estados Unidos. Mesmo considerado aqui uma surpresa, é um dos concorrentes que mais foram reconhecidos em premiações. Ele venceu o South by Southwest, o deadCenter Film Festival, o Seattle International Film Festival e foi indicado nos festivais de Denver, Chicago e no Camerimage,
ESNOBADO
Black Girls Play: The Story of Hand Games
Outros filmes poderiam ser citados aqui como esnobados, mas poucas ausências foram sentidas na categoria como a de Black Girls Play: The Story of Hand Games. Codirigido por Joe Brewster e Michèle Stephenson, o filme que teve sua première mundial no prestigiado Festival de Tribeca (do qual saiu com o prêmio de Melhor Curta Documentário) é um retrato afetuoso dos jogos manuais praticados por meninas negras dentro da construção de uma cultura lúdica nos Estados Unidos. Além da temática para lá de interessante, o filme foi previamente reconhecido, vencendo o Black Reel Awards, o Cinema Eye Honors Awards, além de ter sido indicado no Image Awards, no Festival de Chicago, no Montclair Film Festival e Blackstar Film Festival. Merecia estar aqui entre os cinco concorrentes.
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