É de se lamentar que os documentários tenham um espaço tão reduzido na maior festa do cinema mundial: apenas duas categorias, Doc Longa e Doc Curta. E isso que eles poderiam estar presentes em diversas categorias, como Melhor Filme (que não se chama “Melhor Filme de Ficção”, mas apenas “Melhor Filme”, o que, em tese, permitiria a inclusão de qualquer gênero e estilo), Direção, Roteiro, Montagem e Trilha Sonora, por exemplo. Em 2024, apenas um título conseguiu furar essa bolha – e, se foi esquecido nessa disputa específica, a gente fez questão de lembrar dele no final deste artigo. Assim, os indicados em Melhor Documentário em Longa-metragem acabam tendo a missão extra de representar o que de melhor é feito neste formato a cada ano, servindo também para os aficionados do “cinema verdade” descobrirem novos títulos e talentos que, de outra forma, passariam desapercebidos. Sendo assim, confiram as nossas apostas para o Oscar 2024:
Indicados
20 Dias em Mariupol
Mais do que os méritos cinematográficos, é inegável a força política deste filme e o senso de oportunidade de sua realização: afinal, o diretor Mstyslav Chernov registra o que acontece com uma equipe de jornalistas que fica presa em uma cidade ucraniana – a Mariupol do título – durante a invasão russa que deu início a um dos piores conflitos bélicos dessa década. Premiado no Festival de Sundance, 20 Dias em Mariupol concorre em duas categorias no Bafta – Filme Internacional e Longa Documentário – e ganhou o DGA Awards. Está indicado ainda ao PGA Awards, ao Satellite e ao Gotham, pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e foi premiado no National Board of Review e no Critics Choice Documentary Awards – como Melhor Documentário de Estreante e Melhor Documentário Político. Ou seja, há méritos inegáveis, além de estar no momento e na hora certa. Sua vitória, portanto, é dada como certa.
A Memória Infinita
O único dos cinco indicados dessa categoria que já foi lançado no Brasil – está disponível no catálogo da Paramount + – o chileno A Memória Infinita é dirigido por Maite Alberdi, cineasta indicada nessa mesma categoria por Agente Duplo (2020). Se o seu trabalho anterior chamava atenção pela proposta inusitada, esse mais recente conquista pela sensibilidade e delicadeza ao abordar a rotina de um casal quando um dos dois é diagnosticado com Alzheimer. Exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival de Berlim, foi premiado no Goya (o “Oscar” da Espanha), pelo International Documentary Association, no National Board of Review, no Festival de Sundance, no Cinema Eye Honors Awards e indicado ao Critics Choice Documentary Awards. Se os votantes, na hora de registrar suas preferências, deixar de lado o caráter político e apostar mais no coração, esta comovente história de amor tem tudo para alcançar a consagração.
To Kill a Tiger
O canadense To Kill a Tiger até pode ter se saído bem em seu país de origem – foi premiado no Directors Guild of Canada, no Festival de Toronto, no Canadian Screen Awards, no Canadian Cinema Editors Awards e pelos críticos de Vancouver. Porém, internacionalmente, sua presença foi praticamente nula. Ficou de fora das principais premiações do gênero – teve duas indicações ao International Documentary Association, enquanto foi completamente esnobado pelo Critics Choice Documentary Awards e pelo Cinema Eye Honors – ao passo que, nos Estados Unidos, marcou presença apenas no Oscar, não tendo sido lembrado por absolutamente nenhuma agremiação regional de críticos de cinema. Ao mexer em um assunto tabu – o filme trata da luta de um pai em busca de justiça pelo estupro coletivo sofrido por sua filha de apenas treze anos, tudo isso no interior da Índia – tem gerado a impressão de se validar mais pela importância de seu relato de denúncia do que por suas qualidades cinematográficas. Assim, sua indicação serve para lhe gerar a atenção necessária e incitar o debate. Agora, quanto a uma vitória, isso já seria sonhar demais.
Jon Batiste: American Symphony
Muitos apontariam como o verdadeiro esnobado dessa categoria o filme Still: Ainda Sou Michael J. Fox (2023), dirigido pelo vencedor do Oscar Davis Guggenheim e premiado pelo National Board of Review, no SXSW Film Festival e no Critics Choice Documentary Awards. Por outro lado, como negar a nossa frustração quando o brasileiro Retratos Fantasmas (2023), de Kleber Mendonça Filho, não conseguiu entrar nem na shortlist com os pré-finalistas da Academia (mais sobre o nosso representante no artigo de Melhor Filme Internacional). Porém, além destes cinco aqui indicados, somente um outro documentário garantiu ao menos uma indicação ao Oscar 2024: Jon Batiste: American Symphony, de Matthew Heineman, que concorre em Melhor Canção Original! Mesmo com a máquina de promoção da Netflix por trás, não conseguiu garantir uma vaga por aqui. Indicado ao Bafta, ao Satellite, ao PGA Awards e premiado no Critics Choice Documentary Awards, mesmo assim ficou devendo junto aos votantes.
:: CONFIRA AQUI TUDO SOBRE O OSCAR 2024 ::