Poucas vezes a corrida em busca da cobiçada estatueta dourada de Hollywood esteve tão… confusa! E não importa: alguns estão de olho em Filme Internacional, outros querem saber dos curtas, tem gente atenta aos coadjuvantes, muitos só querem saber do Melhor Filme, mas a categoria que mais gera repercussão e debate é mesmo a de Melhor Atriz. E nesse ano, então, o cenário parece estar ainda mais imprevisível.
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Nomes consagrados em edições anteriores foram completamente esnobados, novatas em seus primeiros trabalhos de maior destaque já parecem destinadas a uma consagração antecipada, uma veterana que há anos não gerava curiosidade parece, enfim, ter recuperado uma velha glória, uma barreira identitária foi superada e, é claro, temos um sangue verde e amarelo na disputa. Como não se envolver? Em um quadro no qual (quase) tudo pode acontecer, estas são as nossas apostas ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Atriz!
FAVORITA: Demi Moore, por A Substância
A Substância é o terceiro longa estrelado por Demi Moore a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Antes disso, ela apareceu como protagonista de Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990) e em Questão de Honra (1992). Em ambos os casos, no entanto, ela nunca havia chegado perto de, ela própria, garantir para si uma indicação. Tanto é que, em mais de quatro décadas de carreira – sua estreia foi no drama Escolha do Destino (1981) – essa é a primeira vez que surge como finalista ao prêmio da Academia. E logo como favorita: até o momento, já ganhou o Globo de Ouro (Atriz em Comédia ou Musical), Critics Choice, o Satellite e o SAG Awards, o prêmio concedido pelo sindicato dos atores de Hollywood.
Além disso, foi ainda indicada ao Bafta, ao Gotham e ao Film Independent Spirit. E pra completar, é um nome mega popular, com fãs na indústria, entre o público e até mesmo juntos à imprensa especializada. Contra ela, apenas o fato de estar em filme de terror – gênero nem sempre muito bem-visto pelos membros da Academia – e por dividir o protagonismo da trama criada por Coralie Fargeat (cineasta que concorre também em Direção e em Roteiro Original) com Margaret Qualley – atriz que, apesar de ter feito campanha como coadjuvante, sequer foi lembrada entre as nominadas.
AZARÃO: Mikey Madison, por Anora
Mikey… quem? Poucos sabiam o nome da garota de 25 anos – é a mais jovem indicada nesse ano em todas as quatro categorias de atuação – até o lançamento de Anora, filme que em sua estreia já despertou atenção e curiosidade: ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes! Antes disso, no entanto, Mikey Madison havia feito apenas pequenas participações em longas como Era uma vez em… Hollywood (2019) ou Pânico (2022). Porém, como a personagem-título do longa dirigido por Sean Baker ela não apenas conquistou a atenção do público, como também da crítica (e de Hollywood como um todo).
Apesar de Anora não ter ganho em nenhuma categoria do Globo de Ouro ou do SAG Awards, o filme levou para casa o prêmio principal do PGA Awards, do DGA Awards e do Critics Choice, colocando-o fortemente na disputa do Oscar. Isso, impulsionado pelas vitórias de Madison no Bafta e no Film Independent Spirit Awards, a colocaram como a grande surpresa dessa temporada – de total desconhecida para a favorita da vez. Mas será que conseguirá manter essa condição até a noite do dia 02 de março?
SEM CHANCES: Karla Sofia Gascón, por Emilia Perez
A espanhola Karla Sofia Gascón, independente de qualquer coisa, já é dona de um feito histórico: trata-se da primeira mulher trans a ser indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. E isso não é pouca coisa. No entanto, apesar de ter sido premiada no Festival de Cannes (em um prêmio conjunto ao lado de suas colegas de elenco Zoe Saldana, Selena Gomez e Adriana Paz), Gascón nunca despontou como favorita por aqui – esteve presente em todas as cerimônias de maior destaque como indicada (Globo de Ouro, SAG Awards, Critics Choice, Bafta), mas nunca como vitoriosa.
E se suas chances já eram mínimas, bastou um sem número de polêmicas (envolvendo declarações equivocadas, tweets antigos e até posicionamentos recentes, se colocando como vítima, ao invés de assumir certas responsabilidades) para minar de vez qualquer chance de reconhecimento junto à Academia. Tanto é que a própria Netflix, produtora do filme, já declarou que não está mais custeando os gastos da atriz em viagens, hospedagens e deslocamentos para as premiações (o que explica suas ausências nas festas do Bafta e do SAG Awards, por exemplo).
Portanto, é possível que nem mesmo na cerimônia do Oscar ela compareça. Ou seja, cancelamento seria pouco perto de toda essa onda de hate que foi em sua direção. Merecida, com certeza. Mas, da mesma forma, desproporcional.
ESQUECIDA: Nicole Kidman, por Babygirl
A primeira exibição de Babygirl foi no Festival de Veneza, de onde Nicole Kidman saiu com o Leão de Prata de Melhor Atriz. É o mesmo reconhecimento que deu início às vitoriosas campanhas de Olivia Colman (A Favorita, 2018) ou Emma Stone (La La Land, 2016), ambas vencedoras em Veneza e no Oscar, ou, mais recentemente, de Vanessa Kirby (Pieces of a Woman, 2020), Penélope Cruz (Mães Paralelas, 2021) e Cate Blanchett (Tár, 2022), todas premiadas em Veneza e indicadas posteriormente ao Oscar.
Kidman, no entanto, não teve a mesma sorte – por mais que fosse merecida. Dona de cinco indicações e uma vitória (As Horas, 2002), por Babygirl foi indicada ao Globo de Ouro, ao Satellite e ao Gotham, além de ter ganho também o National Board of Review. Sem esquecer que, em Veneza, superou concorrentes que entraram na lista de finalistas da Academia – justamente a nossa Fernanda Torres! Enfim, é certo que Nicole Kidman não precisaria de mais esse reconhecimento. Mas, caso tivesse vindo, não teria sido ao acaso.
O CASO FERNANDA TORRES:
Ainda que tenha ganho a Palma de Melhor Atriz no Festival de Cannes com apenas vinte anos (por Eu sei que vou te amar, 1986), Fernanda Torres nunca foi uma celebridade internacional – ao contrário de outros colegas brasileiros, como Sônia Braga, Alice Braga, Rodrigo Santoro ou Wagner Moura. No entanto, ao contrário de todos estes citados anteriormente, foi ela que conseguiu igualar um feito alcançado antes apenas por sua própria mãe: uma indicação ao Oscar, algo que apenas Fernanda Montenegro havia conquistado antes, por Central do Brasil (1998). Mas e chances de vitória, ela tem? SIM e NÃO.
Sim, pois Fernanda é um fenômeno de mídia, que tem conquistado todas as atenções por onde tem passado. Sem falar que o próprio Ainda Estou Aqui é um filme que tem despertado cada vez mais interesse (é favorito em Filme Internacional e garantiu uma inédita indicação a Melhor Filme para o longa brasileiro). Sem esquecer que Torres ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama, algo que historicamente tem se provado um importante indicador de vitória também no Oscar.
Mas, por outro lado, ela não foi indicada ao Critics Choice, nem a Bafta, nem a SAG Awards. E está em um filme que não é falado em inglês – é sabido que os norte-americanos possuem dificuldade em lidar com filmes legendados. E, por fim, ela é alguém que eles estão recém conhecendo. A nossa torcida segue firme e forte. E trabalho – e talento – para ganhar ela possui de sobra. Mas se isso irá, de fato, se transformar em ouro hollywoodiano, bom, isso só na noite do dia 02 de março para se ter certeza!
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