O Oscar 2025 segue envolto em polêmicas. E a maioria delas diz respeito a Emilia Pérez (2024), recordista de indicações da 97ª edição (13 ao todo) da premiação hollywoodiana. Depois de uma enxurrada de críticas negativas na internet e do resgate de tweets controversos da atriz Karla Sofía Gascón, no que parece ser o maior derretimento de um concorrente que tinha tudo para levar inúmeras estatuetas para casa, agora a própria Netflix (empresa responsável pelo filme e, respectivamente, por sua campanha) tomou uma atitude drástica.
Karla Sofía Gascón está sendo simplesmente apagada das peças criadas para a campanha do filme ao Oscar. De acordo com o site norte-americano Variety, nem a agência que representa a atriz e muito menos a gigante do streaming estão se comunicando com ela. Além disso, a Netflix não mais custeará a série de viagens que Gascón tinha marcadas para acelerar a campanha nessa reta final. Até mesmo as roupas que porventura utilizar em algum evento terão de ser bancadas por ela própria – uma prática absolutamente incomum.
Outro indício do quão Karla Sofía Gascón está sendo tratada como persona non grata é o fato (bizarro) de que ela não será convidada para o Prêmio Goya (o Oscar espanhol), ainda que concorra à estatueta de Melhor Atriz. A informação é do jornalista Álex Álvarez, do programa TardeAR, exibido pela emissora espanhola Telecinco.
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Tendo em vista o que foi relatado no primeiro parágrafo desta matéria, o Oscar 2025 se transformou num pesadelo para Karla Sofía Gascón. De celebrada como a primeira mulher transexual a concorrer ao Oscar de Melhor Atriz a personalidade “cancelada”. Imaginar que ela tem alguma chance de vitória depois disso é contar muito com o improvável. Quem se manifestou recetemente sobre as polêmicas envolvendo a atriz foi o diretor de Emilia Pérez, Jacques Audiard.
“É muito difícil para mim pensar no trabalho que fiz com Karla. A confiança que compartilhamos, a atmosfera excepcional que tivemos no set que foi de fato baseada na confiança. E quando você tem esse tipo de relacionamento e de repente você lê algo que aquela pessoa disse, coisas que são absolutamente odiosas e dignas de serem odiadas, é claro que esse relacionamento é afetado. É como se você caísse em um buraco. Porque o que Karla Sofía disse é indesculpável”, afirmou Audiard.
“Não falei com ela e não quero falar com ela. Karla está tendo uma abordagem autodestrutiva na qual não posso interferir, e realmente não entendo por que ela continua. Por que ela está se machucando? Por que? Não entendo. O que também não entendo sobre isso é por que ela está prejudicando pessoas que eram muito próximas dela. Estou pensando em como ela está machucando os outros, em como ela está machucando a equipe e todas essas pessoas que trabalharam tão duro neste filme. Estou pensando em mim mesmo, estou pensando em Zoe Saldana e Selena Gomez. Só não entendo por que ela continua nos prejudicando”.
Não há dúvidas de que Karla Sofía Gascón precisa arcar com as consequências das atrocidades que escreveu sobre George Floyd, muçulmanos e até a respeito de uma de suas colegas de elenco. Isso é inquestionável. Mas vocês não acham que caiu sobre os ombros dela um peso desproporcional, como se tudo de reprovável em Emilia Pérez, de uma hora para outra, simplesmente fosse culpa apenas dela? Em entrevista recente, Jacques Audiard afirmou que “espanhol é língua de pobres”. Houve indignação? Sim, seletiva, mas nada que se aproxime da campanha de ódio que a opinião pública tem alimentado contra a atriz espanhola.
Especialmente num momento em que os Estados Unidos conta com um presidente orgulhoso de ser transfóbico, não parece cruel demais que Karla Sofía Gascón esteja sendo cruficicada impiedosamente, enquanto outras personalidade públicas gozam de apaziguadoras “passadas de pano”? Repetindo: todos são individualmente responsáveis por suas falas e atos. Karla Sofía Gascón merece ser questionada e punida, mas será que esse ódio todo reflete indignação, pura e simples, ou é mais fácil destruir a reputação de um corpo transexual? Fica a reflexão.
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