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O Oscar 2020 ficará marcado na história da indústria norte-americana como a primeira edição em que um filme estrangeiro, em língua não-inglesa, venceu a categoria de melhor filme. Parasita (2019), de Bong Joon-ho, levou o prêmio principal da noite, além de melhor diretor, melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro.

Nas redes sociais, a maioria dos comentários se mostrava favorável a esta mudança, não apenas na percepção de qualidade de cinema, mas na abertura a outras possibilidades narrativas. Durante a temporada de premiações, o cineasta sul-coreano já pedia aos americanos para vencerem a “barreira das legendas” na intenção de descobrirem um universo muito rico em produções cinematográficas mundo afora.

 

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Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, diretores de Bacurau, durante o Festival de Cannes

 

Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau (2019), premiado em Cannes no mesmo ano que Parasita venceu a Palma de Ouro, comemorou a vitória do filme estrangeiro. Ele lembrou que um dos motivos para o cinema sul-coreano ser tão forte hoje se deve ao investimento público significativo na produção local, além da proteção dos filmes nacionais através do sistema de cotas de tela, que exige um número mínimo de dias por ano em que uma sala de cinema precisa exibir títulos nacionais.

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A Coreia do Sul, país que também atravessou um período de ditadura militar incluindo censura às artes, ainda sofre forte pressão por parte das grandes empresas para diminuir a cota de tela, porém sustenta atualmente o número em 73 dias de filmes coreanos por ano. No caso brasileiro, um cinema com apenas uma sala precisa exibir apenas 27 dias de filmes brasileiros no ano, de acordo com a Cota de Tela assinada no fim de 2019.

O exemplo coreano também inclui maior proteção à invasão estrangeira, não permitindo que filmes norte-americanos dominem o mercado por completo. Outros países, como China e Índia, adotam procedimentos semelhantes. No Brasil, Vingadores: Ultimato (2019) estreou em mais de 90% das salas brasileiras, o que levou parte significativa dos produtores de audiovisual a reclamarem por maior proteção do produto nacional. A ocupação de Vingadores, obviamente, impediu que outros filmes – nacionais ou internacionais – encontrassem espaço no circuito exibidor e garantissem variedade de escolhas ao espectador.

 

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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