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A pandemia da Covid-19 comprometeu o funcionamento de diversos negócios. Em meio à irresponsabilidade do então governo federal e ao caos sanitário provocado pelo coronavírus, lojas, restaurantes, mercados, petshops e outros estabelecimentos tiveram de se reinventar para continuar operando. Vários não resistiram. Com as salas de cinema não foi diferente. Durante muito tempo fechadas por conta da necessidade de distanciamento social, elas apresentaram uma retomada tímida tão logo o cenário de saúde melhorou, certamente tendo mais dificuldades para angariar público do que os shows musicais e as peças de teatro. Em parte, isso pode ser creditado à ascensão do streaming, forma majoritária de consumo audiovisual durante uma quarentena. Muitos se acostumaram a ver filmes assim. Agora, se pensarmos especificamente na performance dos títulos brasileiros no pós-pandemia a situação foi ainda mais complicada. Nosso último longa-metragem a atingir a marca de um milhão de espectadores tinha sido Minha Mãe é uma Peça 3 (2019), ou seja, antes da Covid. De lá para cá, o cinema nacional sofreu ainda mais do que os estrangeiros vitaminados por agressivas campanhas de marketing para mobilizar os espectadores de volta às telonas. Porém, felizmente, parece que a coisa está mudando para melhor. Estamos diante de uma nova retomada?

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Dirigida por Susana Garcia e lançada nos últimos dias de 2023, a comédia Minha Irmã e Eu (2023) acaba de romper a barreira dos dois milhões de espectadores, se tornando o maior sucesso comercial brasileiro pós-pandemia. O que nos anima e leva a crer numa retomada dos bons ventos é que o filme estrelado por Ingrid GuimarãesTatá Werneck não é uma exceção. Nosso Lar 2: Os Mensageiros (2024), cuja estreia se deu em cerca de 900 salas, atingiu recentemente a marca de um milhão de espectadores, ainda estando longe dos mais de quatro milhões alcançados por seu antecessor, Nosso Lar (2010), mas mesmo assim tendo uma performance notável nas bilheterias. Outro caso importante para percebermos essa retomada da relação entre o espectador e o cinema brasileiro é Mamonas Assassinas: O Filme (2023), produção que registrou a maior bilheteria no dia de estreia de um filme brasileiro desde 2020 e que, no total, está se aproximando rapidamente da marca de um milhão – segundo informações divulgadas pela distribuidora no dia 22 de janeiro, ele estava com um pouco mais de 800 mil ingressos vendidos. Já Nosso Sonho (2023) comercializou um pouco mais 500 mil ingressos. Ótimo desempenho.

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Fica a pergunta: será que deixamos para trás os tempos de recuperação lenta do cinema brasileiro pós-pandemia e daqui para frente serão mais comuns as nossas produções atingirem a marca de um milhão de espectadores? Mecanismos como a cota de tela (que define um tempo mínimo de exibição de exemplares brasileiros nas nossas salas de cinema) são fundamentais para esse crescimento continuar acontecendo e estabelecer um cenário consistente e sustentável. A reconstrução do Ministério da Cultura, o retorno dos editais e demais fomentos estatais à indústria audiovisual, a retomada dos debates públicos sobre a valorização do cinema brasileiro, tudo isso nos permite sonhar com dias melhores. Sim, pois uma nação forte possui um cinema consistente. E sofremos demais nos últimos tempos com a pandemia e o governo que considerava a arte supérflua e tratava os artistas como párias. Quer saber como ajudar? Priorize os filmes brasileiros nas telonas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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