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Pedro Bial faz duras críticas a Democracia em Vertigem. Políticos e artistas respondem

Publicado por
Marcelo Müller

As recentes declarações do jornalista e apresentador Pedro Bial ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, sobre Democracia em Vertigem (2019), indicado a Melhor Documentário no Oscar 2020, repercutiram bastante nesta terça-feira, 04. “Achei muito engraçado o filme. É um non sequitur (inconsistência lógica) atrás do outro (…) É um filme de menina dizendo para a mamãe que fez tudo direitinho, que ela está cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos de esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos de fazer autocrítica. Foram os maus do mercado, essa gente feia, homens brancos que nos machucaram e nos tiraram do poder, porque o PT sempre foi maravilhoso e Lula é incrível”, se referindo jocosamente à relação que a cineasta Petra Costa estabelece com sua mãe no filme. Ainda segundo ele, “o filme é uma ficção alucinante, mais que maniqueísta, é uma mentira”. As palavras acirraram ainda mais as discussões de fundo político que têm dominado a narrativa cotidiana do Brasil.

Em seu perfil oficial do Twitter, a ex-presidenta Dilma Rousseff acusou Bial de ser grosseiro, sexista e machista: “Como se não bastasse a grosseria misógina e sexista de Bial contra Petra Costa, ao chamá-la de menina insegura em busca de aprovação dos pais, a candidata brasileira ao Oscar com o filme Democracia em Vertigem foi vítima de intolerável agressão oficial do governo Bolsonaro”. Ela completou, defendendo Petra e atacando o presidente Jair Bolsonaro Petra foi até serena na escolha das palavras, ao dizer uma pequena parte do que os brasileiros e o mundo já sabem: o Brasil é governado por um machista, racista, homofóbico, inimigo da cultura, apoiador de ditaduras, da tortura e da violência policial, e amigo de milicianos”.

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Em sua conta pessoal do Facebook, o cineasta Luiz Alberto Cassol preferiu questionar a atitude de Bial sob a luz da nova função que o jornalista desempenhará a partir deste ano, a de curador do Festival de Gramado: “Vamos ao nosso lugar de fala, Bial. Lugar de homens brancos privilegiados num país que mata mulheres e negros dia e noite. O que tu pensas disso? Qual a tua opinião sobre filmes que tratam desses temas? Não estou fazendo juízo de valor. Estou perguntando.Tua linha curatorial será de censura a filmes que não versem sobre a tua forma de ver o mundo? Ou tu terás a capacidade de entender que a arte é múltipla, diversa, multifacetada e que, muitas vezes, irá diretamente de encontro ao que tu pensas?”.

O também ex-presidente Lula se manifestou, mas reprovando o posicionamento da Secretaria de Comunicação da Presidência, que ainda nesta segunda-feira, 03, postou em sua conta oficial do Twitter uma mensagem acusando Petra Costa de mentir acerca das informações do documentário. Lula descreveu: “Bolsonaro age à revelia da verdade, usando a estrutura do governo para atacar a cineasta @petracostal. A perseguição à cultura é método dessa gestão. Minha solidariedade a Petra pela coragem em narrar os fatos em tempos de guerra à verdade”.

A cineasta Petra Costa

Outro ponto que levantou controvérsia foi a colocação absolutamente infeliz de Pedro Bial sobre o feminismo: “O feminismo no Brasil virou algo, em sua maioria, marxista. Eu não o reconheço como feminismo”. A jornalista Cynara Menezes, do grupo Jornalistas pela Democracia, foi uma das tantas que rebateu tais declarações: “Só no Brasil de Jair Bolsonaro que um homem pode achar que o feminismo, seja ele marxista, de direita, de centro, negro, branco ou o que for, precisa de reconhecimento de macho. E ainda ter a pachorra de defender isso publicamente. Que coisa ridícula é essa? Feminismo é um movimento de emancipação das mulheres. Pertence às mulheres. Homens não têm que aceitar ou rejeitar feminismo algum”. Assim como ela, outras tantas mulheres demonstraram indignação quanto a um homem arbitrar sobre feminismo. Mais do que justa a indignação, né?

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.