Quando os algoritmos escolhem o que assistimos: o cinema sob influência das plataformas

Publicado por
Redação Papo de Cinema

A nova curadoria invisível

Em tempos de streaming, nossa relação com o cinema mudou radicalmente. Se antes escolhíamos o filme da noite a partir de críticas, trailers e indicações de amigos, hoje somos conduzidos por algoritmos invisíveis. A curadoria não é mais feita por um crítico renomado ou um programador de festival, mas por um sistema que aprende nossos hábitos, preferências e horários para nos oferecer o “filme ideal”.

O paradoxo da variedade

As plataformas de streaming oferecem milhares de títulos. No entanto, muitos usuários relatam que passam mais tempo procurando o que assistir do que realmente assistindo. A lógica algorítmica, que tenta prever nossos gostos, acaba por limitar a diversidade apresentada, entregando mais do mesmo. É o paradoxo da variedade: temos mais opções do que nunca, mas acessamos menos conteúdo novo, diferente ou desafiador.

Impacto na produção cinematográfica

Esse novo modo de consumo já impacta diretamente a produção de filmes. Roteiros são desenvolvidos com base em dados, formatos são adaptados para maximizar a retenção e gêneros específicos ganham mais financiamento por apresentarem bom desempenho em plataformas. Isso não quer dizer que o cinema perdeu sua alma artística, mas que agora precisa também dialogar com um sistema que mede o sucesso em minutos assistidos e cliques.

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A influência nos festivais e no circuito autoral

Mesmo os festivais de cinema, conhecidos por privilegiar produções autorais, sentem o efeito do streaming. Muitos filmes estreiam diretamente em plataformas, reduzindo o tempo de janela de exibição nas salas. Isso pressiona o circuito independente e coloca cineastas em uma encruzilhada: optar pelo prestígio dos festivais ou pela visibilidade global (e muitas vezes mais rentável) das plataformas?

O retorno da série como forma dominante

O sucesso das séries no streaming também altera a percepção do público sobre narrativa audiovisual. Com mais tempo para desenvolver personagens e histórias, as séries cativam de forma diferente, criando uma fidelização difícil de alcançar em filmes de duas horas. Isso empurra roteiristas e produtores a reconfigurarem estruturas narrativas para manter o espectador engajado — às vezes até demais.

Cinema socialmente moldado

Com o poder de coletar e analisar grandes volumes de dados, as plataformas também moldam tendências de consumo ligadas a questões sociais. Após movimentos como o #MeToo e o Black Lives Matter, por exemplo, aumentou significativamente o número de produções que abordam temas de gênero, raça e diversidade. Embora seja um reflexo positivo, também levanta o debate sobre como temas sensíveis são escolhidos a partir de métricas de engajamento.

A nostalgia como algoritmo emocional

Outra tendência notável é o apelo à nostalgia. Plataformas exploram esse sentimento com reboots, continuações e produções ambientadas em décadas passadas, como “Stranger Things” e “Cobra Kai”. A nostalgia funciona quase como um gatilho emocional que o algoritmo sabe quando ativar. É uma forma eficiente de capturar o público em tempos de incerteza, oferecendo conforto através do conhecido.

O papel do espectador ativo

Em meio a essa realidade algorítmica, cabe ao espectador exercitar sua curiosidade e senso crítico. Buscar ativamente filmes fora das recomendações, explorar cinematografias menos populares e apoiar produções independentes são atitudes que mantêm viva a diversidade cultural no cinema. A curadoria pessoal se torna um ato de resistência diante da personalização excessiva.

E o cinema no Brasil?

O impacto do streaming no cinema brasileiro é duplo. Por um lado, abriu portas para que filmes nacionais cheguem a públicos que antes não teriam acesso, tanto dentro quanto fora do país. Por outro, enfraqueceu as salas de exibição e diminuiu o incentivo a produções que fogem da lógica comercial. A sustentabilidade do setor depende, em parte, de políticas públicas, mas também de escolhas de quem consome.

Uma nova forma de jogar com o público

A lógica algorítmica que define o sucesso de um filme também pode ser observada em outras áreas do entretenimento digital. Plataformas como a VBET, por exemplo, adotam sistemas inteligentes para personalizar a experiência dos usuários, mostrando como essa dinâmica já atravessa diferentes formas de interação com o conteúdo.

Conclusão: o cinema continua sendo uma escolha

Apesar de todas as mudanças tecnológicas e culturais, o cinema — como arte e linguagem — ainda resiste e se adapta. A tecnologia pode moldar comportamentos, mas não substitui o poder de uma boa história. Cabe a nós, espectadores, decidir se deixaremos que o algoritmo escolha por nós ou se continuaremos explorando as infinitas possibilidades do audiovisual com mente aberta e espírito crítico.

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