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Em 2014, após diversos relatórios de grupos negros apontarem a subrepresentação de minorias étnicas no cinema britânico, o British Film Institute decidiu tomar uma atitude a respeito. Foram implementadas “regras de diversidade”, segundo as quais as produções se comprometiam a representar os BAME (sigla em inglês para para “negros, asiáticos e minorias étnicas”) em suas produções caso quisessem obter fundos da BFI.

Seis anos mais tarde, o Dr. Clive Nwonka, pesquisador da Escola de Economia de Londres, conduziu uma pesquisa intitulada Raça e Etnia na Indústria de Cinema do Reino Unido, visando descobrir os efeitos práticos das medidas adotadas. Infelizmente, o resultado foi decepcionante: entre os filmes que se comprometeram a adotar padrões de diversidade, apenas 50% introduziram questões de raça e etnia em suas tramas. Por trás das câmeras, apenas 40% dos projetos contrataram profissionais pertencentes ao BAME.

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Dr. Clive Nwonka

 

Além disso, os personagens negros incluídos em produções signatárias do protocolo foram situados em papéis pequenos, sem desenvolvimento ao longo da trama. Em muitos desses casos, os filmes com personagens negros, asiáticos e de demais minorias se acreditaram isentos do dever de introduzir diversidade na equipe técnica, ainda integralmente branca.

“As regras de diversidade da BFI desempenharam um papel fundamental em chamar atenção ao problema, mas nossa análise comprova que a subrepresentação racial permanece uma condição estrutural do setor, tanto em frente às telas quanto nas equipes. Indivíduos do BAME ainda enfrentam desigualdades expressivas, e nossa análise sugere que as regras de diversidade não são fortes o suficiente para responderem à natureza interseccional e multidimensional da desigualdade racial na indústria”, conclui Nwonka.

O pesquisador sugere que os padrões de inclusão sejam obrigatórios, ao invés de meramente sugeridos, para produções postulando ao financiamento da BFI, sobretudo nos filmes com orçamento superior a £ 5 milhões. “Sem critérios mais rígidos, o resultado são mais 10 anos de exclusão de indivíduos de minorias étnicas na indústria”.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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