O Velho Oeste é um espaço imaginário trabalhado à exaustão pelo cinema. Considerado o gênero norte-americano por excelência – afinal de contas trata da expansão do Oeste dos Estados Unidos –, o faroeste também rendeu produções em outros países, milhares de alusões e inspirou um sem número de cineastas mundo afora. Portanto, estamos diante de algo que possui uma tradição. E, de uns tempos para cá, tem acontecido uma série de tentativas de renovar a mítica do Velho Oeste no cinema a partir de abordagens distintas daquelas que consolidaram mitos, heróis e bandidos com frequência até o começo dos anos 1980. Mas, claro, que nem todo mundo gosta desse movimento, especialmente os que estão aferrados aos grilhões da tradição. Em recente entrevista para podcast WTF with Marc Maron, o ator Sam Elliott chamou Ataque dos Cães (2021) – uma reflexão sobre a masculinidade num espaço que ainda guarda características de Oeste selvagem – de “pedaço de merda”. Não contente, ainda disse que o filme “eviscera o mito americano” e que os cowboys mais parecem dançarinos andando sem camisa pelo cenário. Elliott demonstrou descontentamento diante das alusões a uma suposta homossexualidade do protagonista. Que papelão!

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Não contente em mostrar-se descontente com a desconstrução de uma masculinidade clássica frequentemente atrelada dos vaqueiros norte-americanos, Sam Elliott ainda arrematou com um comentário que pode ser lido como xenofóbico: Jane Campion é uma diretora brilhante. Gosto muito de seus trabalhos anteriores. Mas que caralhos essa mulher de lá debaixo, da Nova Zelândia, sabe do Oeste Americano? E por que diabos ela filma essa produção na Nova Zelândia, chama de Montana e diz ‘é assim que era’?”. Gente, quando mais falava o homem só piorava a própria situação. Por fim, ele ainda reclamou que faltam cenas de Benedict Cumberbatch cavalgando: “Onde está o faroeste nesse faroeste? Levei isso tudo para o lado pessoal, amigo”. Mais uma prova de que grandes artistas também podem falar/fazer muita bobagem. E a Netflix, distribuidora global do filme, publicou uma resposta sutil e concisa, utilizando uma fala da personagem de Kirsten Dunst: “Ele é só um homem. Apenas mais um homem”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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