O presidente Jair Bolsonaro falou muito em sua campanha que mudaria “a velha política”, mas acabou cedendo rapidamente ao velho “toma lá, dá cá”, ou seja, distribuindo cargos de acordo com seus interesses políticos. Na esteira de uma série de arbitrariedades vendidas diariamente como patacoadas, vem a atuação desastrosa do ator Mário Frias à frente da Secretaria Especial da Cultura, agora acrescida de mais um capítulo triste. A dentista Edianne Paulo de Abreu foi nomeada pelo secretário como coordenadora-geral do Centro Técnico Audiovisual, o CTAv, órgão cuja responsabilidade principal é promover o desenvolvimento da atividade audiovisual no Brasil em diversas frentes. Com sede no Rio de Janeiro, o CTAv trabalha com questões concernentes à capacitação de mão-de-obra, empréstimo de equipamentos, estúdios, além de uma série de outras atividades.
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O mais gritante na iniciativa de Frias, chancelada pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio – lembrando que a Secretaria Especial da Cultura é subordinada à sua pasta – é que, de acordo com o currículo postado por ela no LinkedIn, Edianne Paulo de Abreu não tem qualquer experiência na área audiovisual que sustente a validade de sua nomeação. Na vida política, ela foi candidata a deputada federal pelo PSL (então partido ao qual pertencia Jair Bolsonaro) do Rio de Janeiro em 2018 com o nome “Doutora Edianne Abreu”, tendo conseguido apenas 1413 votos e evidentemente não se elegendo. Na nova função, ela é subordinada a Bruno Graça Melo Côrtes, secretário nacional do Audiovisual no Ministério do Turismo, também sem experiência prévia na área. Pode isso, Arnaldo?
A Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) divulgou uma nota repudiando tal nomeação. Confira abaixo na íntegra:
A imprensa divulgou hoje (16 de setembro) a nomeação de Edianne Paulo de Abreu para a chefia do Centro Técnico Audiovisual (CTAv). A ABPA vê com preocupação essa nomeação para a Coordenação Geral do Centro Técnico Audiovisual, que é uma entidade federal vinculada à Secretaria do Audiovisual com competências específicas, que demanda profissional com experiência no setor.Ressaltamos que a instituição vinha sendo gerida, de forma bem-sucedida, por uma servidora pública. Além de outras missões, o CTAv se dedica à preservação de um importante acervo audiovisual. Diante do vácuo administrativo da Cinemateca Brasileira, que teve as suas chaves entregues à Secretaria do Audiovisual em 7 de agosto de 2020, e da recente nomeação de uma profissional que não tem experiência na área para coordenar o CTAv, o que se percebe é a desvalorização das instituições e dos profissionais do campo. Desta forma, acreditamos que seja fundamental que o CTAv seja coordenado por um profissional com experiência no setor.As políticas públicas voltadas ao patrimônio audiovisual precisam ser discutidas com o meio audiovisual e a sociedade civil. Nós, como profissionais de preservação, reunidos na Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, nos colocamos à disposição para a construção de políticas públicas que tenham no seu cerne o reconhecimento dos profissionais da área e das especificidades técnicas, administrativas e culturais das instituições de patrimônio audiovisual.Diretoria da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual – ABPA