A série Segunda Chamada (2020-) foi uma das mais bem-sucedidas da safra recente dos produtos originais Globoplay. Exibida também na Rede Globo de televisão, a trama centrada na lógica educacional noturna de jovens e adultos numa escola periférica cativou público e boa parte da crítica pela abordagem de assuntos como a homofobia, a intolerância religiosa, a transfobia e o nascimento da criminalidade. Tudo isso embalado pela defesa da educação como forma de transpor problemas e circunstâncias dramáticas. Nesta sexta-feira, 10, a segunda temporada da série chega ao serviço de streaming do Grupo Globo prometendo tocar em feridas não menos abertas e incômodas. Nela, a escola Carolina Maria de Jesus sofre no começo do novo período letivo com a baixa de alunos, algo que pode determinar o encerramento das atividades do curso à noite. Inclusive por conta disso, o local se prepara para receber pessoas que moram nas ruas da cidade de São Paulo e que são ainda mais precarizadas diariamente.
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Nesta quarta-feira, 08, o Papo de Cinema se juntou a outros veículos na coletiva de imprensa remota que marcou o lançamento da segunda temporada que ensaia fortes emoções – já assistimos ao primeiro episódio e logo contamos tudo para vocês. Estavam presentes as autoras Carla Faour e Julia Spadaccini, a diretora artística Joana Jabace e os atores Debora Bloch e Ângelo Antônio. A primeira segue como a aguerrida Lúcia, professora-coragem que toma para si a defesa da continuidade das aulas. “Na primeira temporada, Lúcia trazia uma questão que refletia diretamente na escola. De certa forma ela resolveu isso, conseguindo entender os motivos daquela morte. Na segunda temporada entra completamente voltada às questões da escola. Os alunos são seus filhos. Existe uma problemática na segunda temporada, a iminência de fechamento da escola e essa situação é baseada em pesquisas. A Lúcia vai abraçar a missão de salvar a escola”, disse Carla Faour. “Na primeira temporada, a Lúcia tinha o tempo todo a tragédia da morte do filho e isso contaminava todas as relações, inclusive as da escola. Existia uma carga trágica nessa personagem. Na segunda temporada a dor dela está mais apaziguada, sem bem que imagino que não se livra dessa dor. Até por isso ela continua a ter uma relação muito passional com os alunos. Para além disso, abraça a vocação da professora, algo que vai além de cumprir um currículo escolar”, completou Debora Bloch.
Já Ângelo Antônio vive Hélio na sequência de Segunda Chamada, um morador de rua que trará à tona também a discussão sobre os malefícios do alcoolismo: “Agradeço pela oportunidade de dar voz a uma pessoa invisível. O Hélio tinha família, vontade de se formar, de cuidar dos seus, de manter seus sonhos vivos, mas as circunstâncias da vida mudam tudo. Ele sente uma desesperança total. Na rua, a bebida é uma parceria. A alegria é encontrar a salvação na escola. Para mim, a educação é a única forma de melhorar as coisas. Meus pais foram professores, então fui inspirado pelo sacerdócio deles”. Em sua fala, o ator fez questão de elogiar a direção de Joana Jabace, afirmando que o “set era maravilhoso”. Por sua vez, a diretora ponderou que o feminicídio é outro tema que será abordado com veemência: “fiquei impressionada, mas não surpresa, que durante os ensaios de cenas que tocavam no feminicídio todas as mulheres envolvidas no processo tinham alguma história para contar sobre o assunto”.
Questionada a respeito da ambientação em São Paulo, Joana Jabace enfatizou aspectos práticos e dramatúrgicos para a escolha: “Ambientar em São Paulo foi uma escolha de dramaturgia e produção. São Paulo era um recorte mais diverso do Brasil do que o Rio de Janeiro. A série tem como pontos principais a pluralidade e a diversidade, então decidimos ambientar em São Paulo. E isso tem a ver com várias questões artísticas, desde os atores até a variedade de locações. Isso de tirar dos estúdios também tem a ver com uma questão estética”. E Debora Bloch falou um pouco sobre a interrupção dos trabalhos de filmagem por conta da pandemia, isso na esteira da rápida encomenda de uma segunda temporada: “Começamos a gravar a segunda temporada antes da pandemia e muito em seguida da primeira. A série foi muito bem aceita e a temporada dois foi encomendada. Interrompemos depois de dois meses de filmagens. Retomamos quase um ano depois. Acho que não tem como não ser transformada nesse meio tempo de pandemia, pois foi algo muito forte na vida de todos nós. Estamos vivendo algo muito marcante. E no Brasil fomos abandonados pelo poder público durante a pandemia. Mas, isso tem mais a ver com a maneira como olhamos para o mundo, nossas prioridades. A mim essa crise foi transformadora em muitos aspectos”.
Por fim, entre tantos outros apontamentos a respeito da segunda temporada, pinçamos a faça de Carla Faour sobre o que orientou a escrita: “Quando nos debruçamos sobre a segunda temporada, a questão era: qual o assunto dominante? Acompanhamos a trajetória dos professores e vamos jogando luz em determinados alunos nos episódios. Claro que estamos na escola, um lugar de diversidade e convivência, dessa ebulição cultural, social e econômica. As pautas sociais estão presentes e vamos escolhendo os assuntos e pensando. Queríamos muito falar da pauta indígena, das dificuldades de um cadeirante para estudar. Precisávamos definir o perfil dos novos alunos. Desde na primeira temporada falávamos de personagens com realidades duras, pensamos como poderíamos falar de realidades ainda mais duras. Daí surgiu essa necessidade de abordar a população em situação de rua”. Segunda Chamada terá capítulos inéditos a partir desta sexta-feira, 10, no Globoplay.
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