A atriz norte-americana Shelley Duvall morreu nesta quinta-feira, 11, aos 75 anos. De acordo com o seu companheiro, o músico Dan Gilroy, ela morreu durante o sono por conta de complicações de diabetes. “Minha querida, doce e maravilhosa vida, parceira e amiga nos deixou ontem à noite. Sofrimento demais ultimamente, agora ela está livre. Voe para longe, linda Shelley, disse Gilroy em uma declaração enviada à imprensa estadunidense. Nascida no estado do Texas, Shelley Alexis Duvall era filha de uma corretora imobiliária e de um leiloeiro de gado que depois virou advogado. Até seus cinco anos de idade, se mudou bastante por conta do trabalho do pai, mas se estabeleceu em Huston, curtindo uma infância na qual era definida pela mãe como “cheia de energia e artística”. Até a adolescência o grande desejo de Shelley era ser cientista. Depois de se formar na Waltrip High School, em 1967, vendeu cosméticos e frequentou o South Texas Junior College, onde se formou em nutrição e terapia dietética.

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Shelley Duvall estreou nos cinemas em Voar é com os Pássaros (1970). Ela conheceu o diretor Robert Altman durante uma festa entre as filmagens e chamou a atenção do cineasta por seu porte físico esguio e os olhos expressivos. Mesmo hesitando, Shelley aceitou o convite para aparecer no filme: “Cansei de discutir e pensei que talvez eu pudesse ser uma atriz. Eles me disseram para vir. Simplesmente peguei um avião e fiz isso. Fui levada embora”. Começava ali a parceria mais frutífera da carreira da atriz, pois com Altman ela fez ainda: Onde os Homens São Homens (1971), Renegados Até a Última Rajada (1974), Nashville (1975), Três Mulheres (1975) – trabalho que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes de 1977 e uma indicação ao Bafta -, e Popeye (1980), no qual viveu simplesmente Olivia Palito.

Shelley ainda integrou os elencos de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) e do seriado Além da Imaginação (1985-1989). Mas foi como a principal personagem feminina de O Iluminado (1980) que ela teve o seu grande trabalho na década de 1980. Anos mais tarde, ela disse que havia passado por um processo traumático a fim de expressar o terror de sua personagem, imputando ao cineasta Stanley Kubrick a responsabilidade por essa situação angustiante. Shelley chegou a dizer que considerava Kubrick frio e extremamente rude. “Depois de um tempo, seu corpo se rebela. Ele dizia: ‘Pare de fazer isso comigo. Não quero chorar todos os dias.’ E às vezes só esse pensamento me fazia chorar. Acordar em uma segunda-feira de manhã, tão cedo, e perceber que você tinha que chorar o dia todo porque estava programado — eu simplesmente começava a chorar. Eu ficava tipo, ‘Ah, não, não posso, não posso.’ E ainda assim eu fiz isso. Não sei como fiz. Jack (Nicholson) me disse isso também. Ele disse, ‘Não sei como você faz isso”, disse a atriz numa entrevista à Variety. Em 1988, Shelley fundou uma nova produtora chamada Think Entertainment com o intuito de desenvolver programas e filmes de televisão para canais a cabo.

Foto/ Eric Ryan Anderson

Dos anos 1990 em diante, Shelley Duvall teve uma carreira bem mais discreta, primeiro obrigada a diminuir o rimo de trabalho para ajudar a cuidar do irmão diagnosticado com câncer na coluna. “Foi o maior período sabático que tirei, mas por razões realmente importantes: para entrar em contato com minha família novamente”. Num segundo momento, porque os convites foram ficando mais raros. A partir de 2002, depois de Um Presente de Deus, ela simplesmente sumiu das vistas de Hollywood, aparentemente se aposentando aos 53 anos, o que alimentou durante esses anos os boatos de que sua saúde mental havia se deteriorado. No entanto, ao anunciar recentemente que estava disposta a voltar às telonas no terror de baixo orçamento The Forest Hills, ela mostrou que continuava afiada e disposta a nos brindar novamente com seu talento. Além do seu parceiro, o músico Dan Gilroy, ela deixa os irmãos, Scott, Stewart e Shane.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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