O cineasta Martin Scorsese vem colhendo os merecidos louros por seu trabalho excepcional em O Irlandês (2019). E ele falou em diversos momentos que sua visão foi integralmente respeitada, como artista, apenas porque estava fazendo um filme para a Netflix, empresa que lhe concedeu liberdade total e, principalmente, bancou o orçamento milionário – próximo à casa dos US$ 200 milhões – que Hollywood atualmente apenas reserva a episódios de sagas ou investimentos com um potencial de blockbuster. Em entrevista recente ao jornal The Guardian, ele refletiu sobre o processo e chegou a dizer que este pode ter sido o seu último longa-metragem:
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“Os cinemas foram dominados por filmes de super-heróis – apenas pessoas voando por aí, batendo e batendo, o que é bom se você quiser assistir a isso. Porém, não há tantos espaços para outro tipo de visão. Não sei quantos filmes mais posso fazer. Talvez esse o fim. O último. Então, a ideia era pelo menos fazê-lo, talvez mostrá-lo por um dia nos cinemas, talvez na cinemateca de Paris. Não estou brincando, é a realidade”, afirmou o cineasta. “Mas, é bom ressaltar, que o fato de um filme ser comercial não implica que ele não seja arte. Os produtos invadiram os cinemas, exemplares para serem consumidos e descartados. Em contraste, veja Cantando na Chuva. É um filme comercial, mas você pode ver muitas vezes sem cansar”, completou o nova-iorquino.
Ele ainda falou sobre a relação com a Netflix: “Quando concordei em fazer o filme com a Netflix, entendi o que isso significava. Sabia que seria visto principalmente em streaming, mas também o seria nos cinemas. Mas, naquele momento, tinha de fazer o filme e precisava obter o financiamento. E também o principal: ter liberdade criativa. Me disseram: ‘OK, mas a condição é que ele só pode ser exibido nas salas por uma semana’. Aceitei. Minha principal preocupação era ser bom para os atores. Não para mim, não para o filme. Sei que estou no fim de uma longa e longa jornada. O principal era fazer o filme e abraçar esse novo mundo de como os filmes serão vistos”.
Torçamos, enfim, para que Scorsese esteja apenas fazendo uma previsão apocalíptica e que não tardemos a conferir um novo filme dele, de preferência nos cinemas.
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