No Brasil, o dia 20 de novembro é consagrado à celebração da Consciência Negra. A data escolhida – efeméride incluída no calendário escolar desde 2003, feriado em mais de 2000 municípios –, é por conta do dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. É tempo de pensar sobre as heranças escravocratas, em quanto de preconceito ainda reside no nosso tecido social em que a democracia racial não passa de uma falácia para vender internacionalmente o Brasil como um paraíso de inclusão. Infelizmente não é. Estamos longe de ser, na verdade. E o cinema pode ser uma ferramenta e tanto para instigar discussões essenciais, diríamos urgentes e incontornáveis, sobre negritude e branquitude, primeiro, no plano conceitual, segundo, dentro de uma lógica de ações. Para celebrar o 20 de novembro, o streaming do Telecine criou a cinelist Excelência Preta, com exemplares de várias vertentes e estilos protagonizados por homens e mulheres negros. Nós, do Papo de Cinema, fizemos uma seleção de 10, priorizando a diversidade de enfoques, propostas e nacionalidades. Sem mais delongas, confira nossos indicados, todos, claro, disponíveis no streaming do Telecine.
Foxy Brown (1974)
Não tínhamos como fazer uma lista sem esse clássico do blaxploitation, movimento cinematográfico norte-americano nascido nos anos 1970 que deu maior visibilidade a atores e atrizes negras nos Estados Unidos. Além de tudo, este aqui é estrelado pela musa-mor da época, Pam Grier, numa trama cheia de suingue. A mistura conta com uma narrativa violenta de vingança e uma trilha sonora daquelas marcantes. A protagonista parte rumo à desforra depois do assassinato de seu namorado. Indicamos muito. Assista ao filme no Telecine.
Um Príncipe em Nova York (1988)
Esse é um dos filmes mais lembrados dos anos 80 da cinematografia estadunidense. Eddie Murphy vive o príncipe de uma nação africana que vai à Nova Iorque em busca da noiva não interessada apenas em sua fortuna e seu status. Claro, o choque cultural enorme, bem como a colocação de um nobre como proletário nos Estados Unidos, rende situações hilárias. De quebra, Arsenio Hall e James Earl Jones figurando no elenco. Tamanha é a influência desse filme que ele atualmente está ganhando uma sequência. Assista ao filme no Telecine.
Faça a Coisa Certa (1989)
Talvez o melhor filme desta lista. A obra-prima de Spike Lee se passa integralmente no bairro do Brooklyn, com o protagonista (o próprio Lee) sendo entregador de uma pizzaria comandada por ítalo-americanos. Aos poucos, essa vizinhança que vai sendo revelada afetivamente, com cada personagem virando peça vital ao painel total, a questão racial vem à tona, discussões cotidianas ganham dimensão histórica e o assassinato de um rapaz desencadeia uma revolta adormecida. Se você não viu, largue o que está fazendo e veja. Assista ao filme no Telecine.
Antônia: O Filme (2006)
Dirigido por Tata Amaral, este longa-metragem que deu origem a uma série de TV é protagonizado por Negra Li, Cindy Mendes, Leilah Moreno e Quelynah. Passou por diversos festivais, inclusive alguns graúdos internacionais – como o de Berlim –, e cativou os espectadores com a história de quatro mulheres negras e periféricas que lutam diariamente contra obstáculos para alcançar seu sonho de viver do rap. Violência, pobreza e machismo surgem no horizonte como entraves que elas terão de vencer. Assista ao filme no Telecine.
O Céu Pode Esperar (2001)
Remake do filme homônimo de 1978, esse longa estrelado por Chris Rock mostra os dilemas de alguém que morreu antes do combinado. O protagonista ganha o direito a uma segunda chance, ou seja, a voltar ao mundo dos mortais para viver o resto de sua existência, mas na carcaça de uma pessoa que acabara de desencarnar. O fato de termos um homem negro preso no corpo de um branco possibilita que vários pontos concernentes à discussão de cunho racial se insurjam pelas frestas de uma comédia com tons escapistas. Assista ao filme no Telecine.
Corra! (2017)
Esse aqui já nasceu clássico, citado em quase todas as listas focadas nas discussões raciais pelo cinema contemporâneo. O cineasta Jordan Peele mostra um sujeito negro indo encontrar pela primeira vez a família de sua namorada branca. Pequenas rusgas logo se transformam numa jornada de desespero para esse homem deparado com uma situação absolutamente insólita envolvendo a apropriação dos corpos negros por pessoas brancas que desejam escapar à morte. Sangue, tensão e muita consciência social nesse horror. Assista ao filme no Telecine.
Simonal (2018)
Indicada a Melhor Ator (Fabrício Boliveira) e Trilha Sonora no 25º Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, esta cinebiografia busca fazer jus a um dos personagens mais injustiçados da história recente do Brasil. Sem deixar de lado as controvérsias, o filme mostra Wilson Simonal, no auge de seu sucesso como compositor e intérprete, sendo arrolado numa disputa política e linchado em praça pública também pelo fato de ser um homem negro. O racismo estrutural se faz presente nesse retrato afetuoso. Assista ao filme no Telecine.
Djon África (2018)
Coprodução Brasil/Portugal/Cabo Verde, este longa-metragem mostra um homem indo à África em busca dos seus antepassados. Nessa jornada de conexão com as raízes, ele será constantemente lembrado que continua, de todo modo, se tratando de um estrangeiro. Esse sujeito que se sente um tanto melancólico e perdido por ser filho de pátria nenhuma espelha as complexidades do processo histórico de colonização e da diáspora. Retrato sensível, é também pungente por colocar em evidência a insatisfação. Assista ao filme no Telecine.
Rafiki (2018)
Histórico por ser o primeiro filme queniano a ganhar exibição do Festival de Cannes, esse drama ganhou também projeção internacional por ter sido sumariamente censurado em seu país de origem, sob a acusação de “incentivar o lesbianismo” – as leis do Quênia criminalizam os homossexuais. Inspirado no livro Jambula Tree, da escritora ugandense Monica Arac de Nyeko, o longa merece uma atenção especial por conta da proposição de uma reflexão a respeito das representações dentro do cinema do continente africano. Assista ao filme no Telecine.
O Ódio que Você Semeia (2019)
Baseado no cultuado livro homônimo de Angie Thomas, este filme é protagonizado por uma adolescente afro-americana que precisa conviver com a ciência de protocolos brutais desde muito cedo, sendo o mais sintomático deles a forma de reagir a uma abordagem policial. O discurso é duro e frontal. O apagamento dos negros norte-americanos, a segregação persistente na contemporaneidade e uma personagem que amadurece na medida em que se torna consciente de uma realidade ainda longe do ideal. Assista ao filme no Telecine.