Começou nesta sexta-feira, dia 18 de agosto, a programação oficial do 45º Festival de Cinema de Gramado. Ou melhor, o início de fato foi na véspera – quinta-feira, dia 17 – quando o Palácio dos Festivais, no centro da cidade de Gramado, na Serra Gaúcha, deu início às atividades com uma sessão especial dedicada à Mostra Educavideo. Este foi o quarto ano que contou com a exibição de filmes produzidos por alunos da rede pública municipal, através do programa Escola no Cinema. Foi o momento de se voltar à comunidade e encarar o Cinema como possibilidade de futuro. Um primeiro momento auspicioso, porém, voltado quase que exclusivamente aos moradores locais. A grande maioria dos convidados de outras cidades e estados, e até mesmo estrangeiros, começaram a chegar no dia seguinte. Pena que a recepção não foi à altura.
Após à abertura oficial, com a apresentação da Orquestra Sinfônica de Gramado, sob a regência de Bernardo Grings e com a participação mais que especial do maestro João Carlos Martins, a noite reservou dois longas que não conseguiram entusiasmar o público presente: João: O Maestro, de Mauro Lima, e O Matador, de Marcelo Galvão. O primeiro, fora de competição, já estreou nos cinemas de todo o Brasil – com exceção do Rio Grande do Sul – enquanto que o segundo deu início à mostra competitiva de longas brasileiros. Ambos, no entanto, receberam aplausos tímidos e protocolares por parte dos presentes.
É de se questionar o que uma obra como João: O Maestro está fazendo numa posição tão nobre. Primeiro, pelo fato de já não ser mais inédito – não se deveria privilegiar produções ainda não conhecidas, que teriam no evento uma plataforma diferenciada para o seu lançamento – como ocorreu em anos anteriores com títulos como Aquarius (2016), Que Horas Ela Volta? (2015) e Flores Raras (2013), por exemplo? E mesmo deixando essa questão de lado, o longa baseado na vida do maestro João Carlos Martins – presente na sessão – é, indiscutivelmente, inferior aos apresentados em edições passadas. É uma cinebiografia abrangente, até mesmo elegante, porém sem pontos altos, que tenta abraçar uma vida inteira em pouco menos de duas horas, sem se demorar em nenhuma passagem específica. Fala de tudo, sem se concentrar em nada.
Também sem emoção é O Matador, o primeiro longa realizado pela Netflix no Brasil – tanto que, após sua passagem pelo festival, deverá estrear diretamente no serviço de streaming, sem passar pelos cinemas. Marcelo Galvão, o realizador, foi premiado aqui com seus dois trabalhos anteriores – Colegas (2012), como Melhor Filme, e A Despedida (2014), como Melhor Direção. Dificilmente terá a mesma sorte dessa vez, principalmente por explorar uma trama confusa de cangaceiros e assassinos de aluguel no sertão nordestino sem muita inspiração ou originalidade.
Neste ano Gramado comemora 45 anos do seu festival de cinema, e além das homenagens tradicionais – Oscarito, Eduardo Abelim, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado – outros reconhecimentos também serão feitos durante a semana. Já nesta noite de abertura, foi o momento de celebrar quatro gramadenses que contribuíram decisivamente para a história do evento: os empresários Horst Volk e Esdras Rubim, o entusiasta Romeu Dutra e o ex-diretor do Cinema Embaixador Odilon Cardoso (in memoriam). Todos pioneiros que tiveram atuação fundamental nos bastidores para fazer deste um dos maiores eventos do gênero de todo o país. Aqui, sim, as palmas foram merecidas. A se esperar, portanto, para ver se esse será o tom do resto da programação.
(Robledo Milani, direto de Gramado)
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