Vladimir Carvalho, famoso documentarista brasileiro, faleceu nesta quinta-feira, aos 89 anos, no Hospital Santa Helena, em Brasília. Segundo amigos do cineasta, ele estava internado há três semanas em função de problemas renais e não resistiu. Atuante no audiovisual desde os anos 1960, Vladimir – irmão do também cineasta Walter Carvalho – foi premiado em diversos festivais de cinema e ajudou a fundar a Associação Brasileira de Documentaristas e a Fundação Cinememória, que contém todo o seu acervo.
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Nascido na cidade de Itabaiana, na Paraíba, em 1935, Vladimir Carvalho se interessou por cinema ainda na adolescência. Terminou o ginásio em 1954, onde foi aluno de geografia de Linduarte Noronha (que ainda não era cineasta), que o influenciou ainda mais a respeito de assuntos cinematográficos. Na metade dos anos 1950, quando Carvalho estava com 20 anos e poucos anos, apresentou o Luzes do Cinema, programa de rádio em João Pessoa, e colaborou na imprensa local como crítico iniciante (ganhando o apelido de Vladimir Vorochenko por conta da fixação em filmes soviéticos).
Em seguida, Linduarte o convidou para escrever o roteiro de Aruanda (1959), do qual seria, depois, também assistente de direção, com João Ramiro Mello. Cursando Filosofia na Universidade da Bahia, conheceu Glauber Rocha. A partir daí, Vladimir Carvalho integrou o chamado Cinema Novo, sendo parte da vertente documentarista do movimento. Estreou como diretor em 1962, com o curta Os Romeiros da Guia.
Vladimir Carvalho debutou como realizador de longas em O País de São Saruê. O filme discute as relações do homem com a natureza no sertão nordestino, onde predomina a luta contra a seca, o latifúndio e a miséria desde os tempos da colônia. Submetido à apreciação da censura da ditadura militar brasileira, o longa foi vetado sem sugestão de cortes, sob a alegação de que a obra prejudicava a imagem do país. Ignorando a proibição, a comissão do Festival de Brasília selecionou o filme para sua edição de 1971, mas o mesmo foi interditado e substituído. O documentário ficaria sob censura até 1979, quando foi selecionado novamente para o Festival de Brasília daquele ano e recebeu o Troféu Especial do Júri.
Nas décadas seguintes, Vladimir Carvalho dirigiu diversos projetos que o colocaram na prateleira dos grandes realizadores brasileiros de sua geração, além de garantir seu nome como um dos principais documentaristas de seu tempo. Obras como O Evangelho Segundo Teotônio (1984), Conterrâneos Velhos de Guerra (1992), Barra 68: Sem Perder a Ternura (2001) e O Engenho de Zé Lins (2007) lhe garantiram destaque em festivais como Gramado, Brasília e Paulínia. Foi indicado cinco vezes ao Prêmio Grande Otelo, garantindo uma estatueta em 2012 por Rock Brasília: Era de Ouro (2011).
A derradeira contribuição de Vladimir Carvalho foi Giocondo Dias: Ilustre Clandestino. Lançado em 2019, o filme relembra a trajetória de Giocondo Dias, militante de esquerda que levou dois terços de sua vida na clandestinidade. Após seu falecimento, o Ministério da Cultura se manifestou. A nota emitida afirma que “Vladimir Carvalho foi um dos mais importantes documentaristas do país. Sua obra, voltada à celebração da cultura e da identidade nacional, foi marcada por fortes crenças sociais e se transformaram em uma nova linguagem para o audiovisual brasileiro”.
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