Todos aqueles que passaram pela quarentena em meio à pandemia de COVID-19 sabem bem que mudanças de humor são bastante comuns, ainda mais em um cenário instável onde as perspectivas mudam a todo instante. Quando poderemos voltar à vida normal, nem que seja o tal “novo normal” com distanciamento social e uso constante de máscaras? Ainda não se sabe a resposta.
Recluso em seu apartamento em Manhattan, Woody Allen não está imune a tais variações e as deixou bem à mostra em recente entrevista concedida ao Financial Times. Nela, o cineasta admite a possibilidade de, em breve, se aposentar. “[A pandemia] tem tido um efeito negativo em mim”, assume. “As salas de cinema estão todas fechadas agora e não sei se muitas delas irão retornar… As pessoas começam a pensar que não é ruim ficar em casa, podem jantar e então assistir a um filme na TV de tela grande com alta definição e som surround. Mas não quero fazer filmes para a televisão, então pode ser que pare de fazê-los.”
A afirmação surpreende devido ao fato de Allen, anos atrás, ter assinado contrato com o Amazon Prime Video e ter dirigido para a plataforma de streaming a minissérie Crisis in Six Scenes (2016), obviamente não exibida nos cinemas. Na época, o diretor declarou que o acordo firmado aconteceu muito devido à chance de um público maior conhecer seu trabalho. O acordo acabou rompido em 2018, fazendo com que Um Dia de Chuva em Nova York até hoje permaneça inédito nos Estados Unidos.
Apesar de tamanho pessimismo, Allen tem ao menos mais um filme a lançar. Trata-se de Rifkin’s Festival, rodado na Espanha e com Christoph Waltz, Gina Gershon, Louis Garrel e Elena Anaya no elenco. Inicialmente cotado para Cannes, antes até do cancelamento do festival, é possível que sua estreia mundial aconteça no Festival de San Sebastián, previsto para setembro. O cronograma do diretor previa rodar um novo filme em Paris, no verão deste ano, mas a pandemia impediu.
“O vírus pôs fim aos planos. Tenho 84 anos e em breve estarei morto. Se escrever o melhor roteiro do mundo, não há ninguém a realizá-lo nem a vê-lo, logo, para mim, não há um incentivo viável. Estou acostumado a concluir um roteiro, tirá-lo da máquina de escrever, correr para o meu produtor para que possa preparar o orçamento, escolhemos o elenco e aí rodamos. Fiz isto por anos e anos, da mesma forma – um processo muito simples. Mas agora, não funciona mais… o que posso fazer?”
A resposta, só o futuro dirá. Até lá, Rifkin’s Festival talvez seja o derradeiro filme de um cineasta que tantos fãs conquistou ao longo de décadas. Que o cinema retorne não apenas para que tenhamos o prazer de uma vez mais vivenciar a experiência da sala escura mas, também, para evitar a aposentadoria precoce de um dos maiores gênios da sétima arte.
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