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A quarta aula do workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? – organizado pela produtora e distribuidora Boulevard Filmes – teve como tema central as estratégias e práticas relacionadas à participação em festivais de cinema. Em vários momentos das aulas anteriores (cujos relatos vocês podem conferir no fim desta matéria), os profissionais convidados já tinham destacado a importância de circular por esse tipo de evento, não apenas como forma de dar visibilidade aos filmes, mas também a fim de estabelecer vínculos que propiciem a tessitura de uma rede de relacionamentos. A mediação da conversa ficou por conta de Thiago Macêdo Correia, um dos sócios da celebrada produtora mineira Filmes de Plástico. As convidadas da vez foram Lila Foster (curadora do Festival de Tiradentes), Daniela Marinho (produtora) e Lídia Damatto (da empresa O2 Play), profissionais de ampla bagagem. Após as apresentações, como provocação inicial, a ser desenvolvida adiante nessa conversa, Thiago deixou no ar a indagação do que seria o chamado “filme de festival”, pois há eventos diferentes, com curadorias, expectativas e funcionamentos bastante distintos. Do que realmente é feito o chavão? E, completou: “Filmes baratos só existem por conta da evolução tecnológica. O cinema que ainda é muito elitizado se torna cada vez mais possível de acessar por causa da tecnologia (…) e para fazer esses filmes circularem, os festivais de cinema perecem ser o caminho evidente”.

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Thiago Macêdo Correia

“Na época em que eu e meus sócios começamos, a ideia era ter o filme exibido na telona, o que era a concretização do sonho. Nem pensávamos nisso de estratégia ou mesmo achávamos que o cinema poderia nos dar meios de sobreviver financeiramente. Todos tínhamos empregos paralelos (…) Só entendi os festivais do ponto de vista estratégico quando compreendi o cinema enquanto mercado”, afirmou Thiago para puxar um fio que levou a uma reflexão com as convidadas, emendando a pergunta: por que um festival de cinema é importante? “As estratégias dependem do momento em que você está. Para mim, ela tem de começar quando o filme está em desenvolvimento. Cada vez mais, o mercado está acirrado. É importante pensar nos festivais quando você está desenvolvendo o filme. Óbvio que isso é diferente ao falarmos de de curtas-metragens (…) começamos a circular mais pelos festivais internacionais por conta das políticas públicas da ANCINE que incentivavam esse tipo de atividade. Os curadores internacionais começaram a olhar mais para o cinema brasileiro. Diria para quem está trabalhando num longa: vá a eventos internacionais de desenvolvimento. Os agentes de vendas estão nesses lugares”, disse Lídia. Thiago pegou como gancho a menção ao “agente de vendas” para dizer que nem sempre é necessário ter agente de vendas para circular em festivais nacionais e internacionais, sobretudo quando o foco do evento não é de cunho mercadológico.

“Mas, o agente de vendas acaba sendo uma figura quase fundamental para circular nos maiores festivais do mundo”, ponderou Thiago. “O agente de vendas comercializa os filmes para os mercados internacionais. A base da distribuição de cinema é o licenciamento (…) o agente de venda conhece os distribuidores, tem uma rede de contatos e vai apresentar os filmes. Ele está entre os produtores e os distribuidores (…) para vocês terem uma ideia, neste ano o Festival de Cannes teve cerca de 16 mil credenciais de mercado. Esses agentes de vendas ficam o dia todo tendo reunião e apresentando filmes para distribuidores que vão sublicenciar as obras nos seus respectivos territórios. Mas, além disso, o agente de vendas pode ajudar a criar material internacional de divulgação, por exemplo”, completou Lidia. A profissional da O2 Play fez questão ainda de enfatizar a existência de festivais menores ou mesmo de eventos com recortes muito específicos que têm funcionamentos distintos desses grandes eventos internacionais. Thiago perguntou diretamente a Daniela a respeito do perfil dos festivais, sobre em que momento das produções com as quais ela colabora há a abordagem do tópico. “Há projetos nos quais entro mais na etapa da filmagem, aí a conversa sobre festivais começa ali. Quando estou desde o desenvolvimento, é desde ali que começamos a pensar nisso (…) muitas vezes o produtor mal tem dinheiro para realizar o filme e acaba circulando pelos festivais que dá, os que não são onerosos do ponto de vista financeiro. A estratégia passa muito pelas possibilidades financeiras. Adoraria ser essa produtora que sempre tem o suporte de um agente de vendas”, disse Daniela.

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Lídia Damatto

Lila puxou um pouco a conversa para a compreensão das especificidades dos festivais dentro do ecossistema do cinema. “É importante falar que os festivais estão nesse lugar de um capital simbólico, artístico e político. Se lidássemos com cineastas dos anos 1970 no Brasil, o importante seria lotar salas e viabilizar o próximo projeto. Atualmente é diferente. Precisamos entender como funciona isso do capital cultural dentro da lógica de mercado. Não tem como pensar curadoria de festival sem levar isso em consideração. O que está em jogo em cada ano? (…) o autor não vive sem a crítica, a crítica não vive sem o festival que o convida, o curador não vive sem os festivais, e por aí vai”. Lila continuou sua explanação ao comentar brevemente sobre as particularidades da curadoria, os desafios impostos pela necessidade de diversificar recortes e abordagens e, como isso, às vezes, tira da seleção obras com evidentes qualidades. “Há cineastas que acreditam ter cadeiras cativas em festivais e pessoas que ficam bravas porque seus filmes não foram selecionados. Encaro o trabalho de curadoria com muita responsabilidade. Recebemos centenas de filmes em Tiradentes e essa peneira é bem peneirada (…) o filme só nasce no encontro com o público e a gente sabe que há filmes que não nascem. Temos clareza da nossa responsabilidade nisso. Somos questionados, mas levamos isso em conta”, completou.   

QUESTÕES
Os virtualmente presentes no workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? tiveram voz e vez para colocar as suas questões. Thiago trouxe algumas das questões, aqui sinalizadas com o resumo de suas respectivas respostas oferecidas pelas convidadas. Como funciona o mercado do festival do Festival de Berlim? “Além do Berlinale Talents, há um programa específico que engloba territórios como a América Latina. Nele, fui mentora dos projetos documentais. A Berlinale está com a missão de oferecer credenciais de graça para democratizar o acesso ao mercado. Então, é válido ter cara de pau e escrever para eles perguntando se há a possibilidade da credencial gratuita. Talvez não seja tão difícil. Claro que o investimento para ir a Berlim é grande. Para produtores que estão começando, mas que desejam ir a eventos de mercado internacional, recomendo o Ventana Sur, que é na Argentina, muito mais barato e ainda assim interessante”, disse Lídia. Já Thiago, ao responder ao questionamento de um presente sobre encontrar agentes de venda, citou vários eventos em que é possível estabelecer esse tipo de contato, inclusive alguns de work in progress, ou seja, de trabalhos que ainda estão em andamento. Os filmes são melhor recebidos pelas curadorias se já tiverem sido exibidos em outros eventos? “Sobre isso, depende. Até porque existem festivais com regras de ineditismo, há outros com regras de ineditismo internacional. Normalmente, quando pensamos em estratégia, depende das regras dos eventos com os quais você quer dialogar”, disse Thiago.

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Daniela Marinho e Lila Foster

Na ausência de um agente de vendas, vocês acham legal ter uma equipe de distribuição para mapear festivais, traçar estratégias e pensar o marketing? “Se tiver dinheiro, ótimo. É uma equação multifatorial, por isso é difícil responder essa pergunta objetivamente. Temos de pensar no que faz sentido no nosso contexto. Nem sempre é fundamental passar em Cannes. Há várias cinematografias que nos provam que, às vezes, é preferível estar com seus próximos. Bollywood, por exemplo, tem uma lógica muito interna. Me angustia um pouco essa síndrome do colonizado, de sempre querer ir para os eventos europeus”, respondeu Daniela. Lila complementou a fala da colega: “No Brasil, temos um problema fulcral de que as políticas públicas foram até determinado lugar, mas não se mexeu na questão da obrigatoriedade do produto nacional dentro do âmbito de exibição (…) não tem sentido a televisão brasileira não representar um papel nessa disseminação do nosso cinema (…) temos de lutar por alguma soberania para que o cinema brasileiro possa continuar existindo. A importância que damos ao mercado internacional talvez venha um pouco desse cenário interno. O cinema brasileiro poderia estar em muito mais lugares”. Logo depois, mediador e convidadas fizeram as suas considerações finais, em meio às quais sobressaiu o desejo de que o Brasil volte aos eixos após uma mudança de rumos políticos.      

Projeto realizado com o apoio do ProAC Expresso Lei Aldir Blanc

:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A PRIMEIRA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A SEGUNDA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A TERCEIRA AULA DO WORKSHOP ::

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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