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Há quanto tempo você ouve falar que a distribuição é o principal gargalo do cinema brasileiro? Desde que o número de nossas produções se tornou mais do que centenário anualmente, resta a questão: se produzimos em quantidade satisfatória, porque a maioria esmagadora dos nossos filmes sequer chega a 10 mil espectadores nos cinemas? Será que ainda vale a pena pensar em sucesso comercial utilizando como parâmetros apenas as tradicionais salas, numa realidade em que SVOD, TVOD, AVOD e outras modalidades de streaming se tornam cada vez mais protagonistas na cadeia industrial? Uma vez que o assunto “distribuição” é complexo e passa por diversas esferas, é louvável a iniciativa da Boulevard Filmes – produtora e distribuidora sediada na cidade de São Paulo – de organizar um workshop para discutir justamente o que está pegando para que essa etapa do nosso cinema seja mais afetiva, para que consiga combinar as expectativas de produtores, mercado e público. E a jornada propiciada pelo workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? levou à conclusão (entre tantas) de que o problema é multifatorial, ou seja, não pode ser simploriamente definido, destrinchado ou ainda menos facilmente resolvido. O desafio é grande, mas temos expertises e ações para encara-lo.

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Projeto realizado com o apoio do ProAC Expresso Lei Aldir Blanc, o workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? deu aos participantes a oportunidade de ouvir e dialogar com profissionais de notório saber sobre pautas importantes, tais como o desenho de audiência, os mecanismos de distribuição, a programação das salas de cinema, o licenciamento para outras janelas, o diálogo que a produção precisa ter com a distribuição, a utilização de laboratórios e outros ambientes de mercado para ganhar subsídios, a circulação nos festivais de cinema, entre vários outros nichos e subnichos temáticos que foram surgindo a reboque dos temas principais. O Papo de Cinema acompanhou de perto toda essa programação, publicando no dia posterior aos encontros os artigos que resumiram cada um desses momentos tão relevantes para pensar aspectos de uma cadeia (a audiovisual). Ela que historicamente sofre no Brasil com a concorrência desleal do produto estrangeiro e, de uns anos para cá, padece também por conta da falta dos fomentos estatais. Esses artigos você pode conferir no box logo abaixo. Clicando na respectiva aula há o direcionamento para os textos que sintetizam o que foi amplamente conversado nas atividades virtuais com cerca de duas horas de duração cada. E ficamos muito contentes de fazer parte, pois cremos na necessidade de investir na profissionalização do setor.

:: PRIMEIRA AULA DO WORKSHOP ::
:: SEGUNDA AULA DO WORKSHOP ::
:: TERCEIRA AULA DO WORKSHOP ::
:: QUARTA AULA DO WORKSHOP ::
:: QUINTA AULA DO WORKSHOP ::
:: SEXTA AULA DO WORKSHOP ::

Como a proposta do workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? era abordar de modo complexo (ainda que claro e direto) problemas complexos, o resultado trouxe um equilíbrio instigante entre as práticas que podem servir de paradigmas e algumas questões que perduram mesmo para aqueles que possuem larga experiência na área. Por exemplo, uma das coisas que parecem mais evidentes e lógicas do ponto de vista do encontro com o público é pensar no desenho da audiência o quanto antes, ainda no processo embrionário do filme. E isso não tem a ver com “curvar-se aos ditames do mercado”, mas com pensar para quais públicos se está realizando o filme e que estratégias serão necessárias para atingir esses públicos-alvo. Vários relatos de convidados apontam para uma realidade em que produtores sequer preveem verba de distribuição, o que revela ao panorama das obras que acabam sendo vistas por um número reduzido de gente. A atividade virtual idealizada pela Boulevard Filmes foi uma oportunidade de pensar erros e acertos, de olhar para as tantas precariedades às quais é submetida a nossa cinematografia dentro de um país subdesenvolvido economicamente (e em crise). E, igualmente: quais são as dificuldades que alguns têm de pensar a distribuição como algo estratégico mercadologicamente e também enquanto um meio de afetar os seus públicos?

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A riqueza das conversas, a clareza na transmissão dos conceitos e as perguntas (inúmeras) que foram surgindo ao longo das seis aulas do workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? deram o tom do sucesso dessa iniciativa da Boulevard Filmes que merece ser louvada. Sim, pois ouvimos há décadas como ladainha o “a distribuição é o grande gargalo do audiovisual brasileiro” e talvez tenhamos ficado demasiadamente confortáveis em ter “encontrado o problema”, quase um chavão diagnóstico. Mas, por que esse gargalo existe? Como ele se manifesta desde as etapas iniciais de um projeto? Por que menos de 10% dos filmes lançados no Brasil nos últimos anos alcançou 30 mil espectadores no cinema? Quais os percentuais de responsabilidade de produtores e do poder público? Essas e outras questões foram debatidas pelos convidados e, como é óbvio, não permitiram ser encerradas por respostas taxativas. O que vimos nos encontros foi a tentativa de situar, mapear, ponderar e oferecer alternativas dentro de um mercado tão heterogêneo, com tantos cenários quanto podem existir perfis de público. Por mais momentos como esse, em que os lugares-comuns se tornem pontos de partida, em que eles ganhem dimensão real, significados mensuráveis, nuances e uma atenção ao mesmo tempo diagnóstica e propositiva, assim não se tornando um ponto final vazio e conveniente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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