Alguém Tem Que Morrer :: T01
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Manolo Caro
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Alguien tiene que morir T01
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2020
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Espanha / México
Crítica
Leitores
Sinopse
Gabino precisa voltar ao México para conhecer a sua futura esposa. Todos se surpreendem (sobretudo a sua família conservadora) quando ele chega acompanhado do bailarino Lázaro. Essa presença inesperada gera confusões.
Crítica
A grande pergunta, na verdade, é: por quê? Afinal, o título parte de uma diretriz: Alguém Tem Que Morrer. Mas por qual razão? Nessa minissérie espanhola de apenas três episódios de 50 min cada, o certo, no entanto, é que alguém já morreu. Após a nebulosa tragédia que deu fim à vida do patriarca da família Falcón, é Amparo, a viúva, que assume o controle da grande casa, tendo próximo, sob sua asa, o único filho, Gregório. Porém, se as aparências dizem uma coisa – ostentação, poder, ambição – internamente há muito a se debater entre os familiares e agregados – a nora que a despreza, a empregada que guarda um segredo de vida ou morte, o neto recém-chegado que pode selar o destino de todos. Na trama criada por Manolo Caro na sequência do sucesso de A Casa das Flores (2018-2020), nada é exatamente o que parece ser num primeiro instante, da mesma forma como aquilo que muito se suspeita, provavelmente se confirmará como tal. É neste jogo entre suposições e certezas que a obra encontra seu maior valor.
Gabino (Alejandro Speitzer, de Desejo Sombrio, 2020) está, enfim, voltando para casa. Após ter passado uma década no México, junto aos parentes maternos, ele agora tirou uma folga dos estudos e decidiu retornar à Espanha como primeira etapa de um passeio pela Europa. Consigo, trouxe Lázaro (Isaac Hernández, bailarino apontado como um dos melhores do mundo, aqui em sua estreia no audiovisual), o melhor amigo. A avó (Carmen Maura) não vê com bons olhos o estranho, o pai (Ernesto Alterio) faz pouco caso, enquanto que a mãe (Cecília Suarez, a única do elenco principal remanescente de A Casa das Flores) prefere se entusiasmar pela possibilidade de ver o filho recuperado. Isso porque o rapaz, quando ainda era não mais do que um menino, partiu logo após um trauma que o marcará para sempre: estava presenta no momento da morte do avô. E, consigo, carrega também a verdade a respeito de como essa tragédia ocorreu. Uma revelação que muitos torcem para que ele tenha esquecido.
Logo nos minutos de abertura do episódio inicial, porém, o espectador não é apresentado diretamente aos Falcón. Os primeiros a ficarem sabendo que Gabino está voltando para casa são os irmãos Alonso (Carlos Cuevas, de Merlí, 2015-2018) e Cayetana (Ester Expósito, de Elite, 2018-2020). Ela, emocionada com a possibilidade do casamento arranjado pelos pais vir a se confirmar. Ele, nervoso pelas lembranças do seu envolvimento com o amigo ressurgirem do passado e voltarem a se manifestar. Importante observar que desde o princípio há uma forte tensão sexual em grande parte dos acontecimentos de Alguém Tem Que Morrer. Gabino e Lázaro serão, de fato, apenas amigos? O que aconteceu entre Gabino e Alonso uma década atrás, e o quanto a respeito disso Cayetana realmente sabe? Indo além, a infelicidade matrimonial percebida entre Mina e Gregorio – os pais do protagonista – é algo concreto? E como cada um lida com isso: enterrando dentro de si estas frustrações, ou partindo em busca de válvulas de escape presentes ou desconhecidas?
Se o sexo é moeda de troca, a homossexualidade de alguns personagens é tema de debate e polêmica presente em toda a trama. O único de posição evidente em relação ao tema é Gabino: ele é gay, tem consciência disso e o que pode representar essa condição para sua família. Mesmo assim, está disposto a se assumir como tal, sem mais mentiras ou dissimulações, justamente porque não pretende ficar em casa por muito tempo. O suposto casamento não irá ocorrer, mas revelar o que sente dentro de si, e, principalmente, por quem sente, será a etapa mais difícil a ser superada. No meio disso, há a influência da avó e os compromissos do pai, representantes de uma oligarquia envelhecida, mas que ainda desfruta de forte representatividade na sociedade, ainda mais uma mergulhada num país envolto pela ditadura franquista. Prisão, acusações, corretivos violentos e tortura psicológica estarão no cardápio. Em determinadas passagens, somente aqueles com estômago forte conseguirão atravessar ilesos.
Também por esse viés se desenrola outro drama urgente, que é a resistência a um governo opressor e agressivo. Rosario (Mariola Fuentes, de Kiki: Os Segredos do Desejo, 2016), a empregada, irá representar esse lado. Ela esconde o marido, dado como morto, mas sobrevivente no meio da floresta graças à ajuda do filho e da esposa, que faz o que pode para provê-lo de alimentos e dinheiro. Mas ela é uma só, e sozinha, tem pouco a seu alcance. Por isso, precisará da ajuda de alguém da classe acima – ou seja, dos patrões. Esse intercâmbio não se dará de forma gratuita, mas serve também para mostrar que nem todo estereótipo é desprovido de graduações. Às vezes, ações prejudiciais podem resultar mais da falta de opções do que da busca por algo declaradamente nocivo. Ainda relacionada a um caráter em formação, é possível observar o circuito percorrido por Cayetana, que vai do afeto à paixão, do desprezo ao orgulho, da injúria à vingança, mostrando-se como uma das personagens mais curiosas de toda a história, ainda que essa nem sempre esteja muito interessada nela.
Ao aproximar-se de sua conclusão, Alguém Tem Que Morrer trata logo de deixar de lado distrações e se focar em um desfecho melodramático, repleto de reviravoltas surpreendentes – algumas tão descabidas que por pouco não tiram o contexto dos trilhos – e descobertas que tentam se aproximar de um mistério detetivesco, por mais que seus elementos apostem em obviedades e não em narrativas paralelas. Assim, a obra acaba por se valer por algumas das discussões que promove no decorrer dos seus acontecimentos e pelas performances individuais de um ou outro destaque – Maura, apesar de sempre excelente, merecida uma figura com mais camadas, ao passo que o estreante Hernández é quem termina por se mostrar como a grande revelação do conjunto. Atendendo a uma cartilha de demandas bastante contemporânea, a trama vai de um tempo a outro com desenvoltura, e consegue apontar injustiças passadas e seus reflexos atuais. Não é muito, mas talvez o suficiente para um bem-vindo esforço capaz de provocar diferença.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Daniel Oliveira | 4 |
MÉDIA | 5 |
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