Crítica


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Sinopse

No futuro são comuns as trocas de corpos. A consciência de alguém, portanto, pode ser transferida à outra "capa", assim podendo experimentar diversas vidas. Nesse cenário, um mercenário acorda 250 após sua última vivência, precisando se adequar rapidamente às novas realidades e aos cenários que ele não compreende integralmente.

Crítica

Se você não entendeu nada da primeira temporada de Altered Carbonaqui está a nossa crítica dos dez episódios do ano inaugural – ou mesmo nem lembra do que aconteceu, não se preocupe: a série criada por Laeta Kalogridis – cuja única experiência anterior na televisão havia sido a série Birds of Prey (2002) – oferece agora, no início dessa segunda maratona com mais oito capítulos, uma boa recapitulação de tudo o que aconteceu antes – e também sobre aqueles eventos que apenas se imaginava terem se encerrado, mas que se percebem estarem em pleno movimento ainda. Em Phantom Lady, a estreia desse nova leva, não apenas fica lógico como o protagonista deixou de ser vivido por Joel Kinnaman para ganhar o rosto de Anthony Mackie, mas também como muitas das angústias do personagem seguem vivas e prontas para, mais uma vez, se meterem no seu caminho.

No futuro aqui desenhado, o mundo não apenas se divide em castas, mas também em realidades. Enquanto aqueles com condições se refugiam em fortalezas flutuantes nas alturas, a Terra ficou reservada à escória e à todos os demais que seguem lutando para sobreviver. Porém, nem mesmo isso – a sobrevivência – se tornou mais simples. Muito pelo contrário, aliás. Com o tempo e o avanço da tecnologia, a morte deixou de ser o fim. O corpo humano é apenas uma veste, um dispositivo que se coloca em funcionamento quando necessário e do qual é possível se livrar quando conveniente. A eternidade, portanto, é algo concreto – porém, obviamente, restrita à poucos. Seria Takeshi Kovacs um desses afortunados?

A ambientação remete o espectador direto à clássicos do gênero, como Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), com uma pegada mais contemporânea, como a vista em Elysium (2013), por exemplo. Mas Altered Carbon tem potencial para ir além dessas referências. Não apenas pelo pulo temporal entre uma temporada e outra – se passaram 30 anos desde os eventos mostrados antes – mas também pela energia empregada nestes personagens. Mackie se joga sem redes de segurança nos dramas vividos por Kovacs, oferecendo uma sensibilidade combinada com força bruta que poucas vezes foi percebida no desempenho de Kinnaman. Além disso, a troca dos dois abriu outras possibilidades e mistérios, que podem ser benéficas se trabalhadas com interesse pelos próximos sete episódios.

Ciaran Connelly (que esteve envolvido também em séries como Vikings, 2013-2018) demostra segurança no comando de Phantom Lady, respondendo pouco e levantando muitas outras perguntas, suficientes para elevar as atenções e despertar curiosidades a respeito dos rumos a serem tomados a partir de agora. Novas figuras são inseridas – o que sempre é revigorante – e velhos dramas se mostram mais uma vez presentes. Talvez o formato enxuto assumido nesse segundo ano também seja positivo, pois se poderá ir mais rapidamente aos pontos desejados, sem tantas distrações ou caminhos sem saída. Pouca gente por aí deveria estar ansiosa por uma nova temporada de Altered Carbon. Mas é provável também que as surpresas que agora se avizinham sejam exatamente aquilo que se queria, mesmo que ninguém soubesse.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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