Crítica


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Sinopse

Após o confronto épico na festa da Páscoa, o Sr. Wednesday continua tentando convencer os deuses antigos a entrarem em guerra com os novos deuses. O Sr. World planeja vingar-se; Technical Boy vai em busca da Mídia.

Crítica

Com boa parte das cartas na mesa – mas, óbvio, há surpresas guardadas para revelações futuras – Deuses Americanos começa a sua segunda temporada aumentando a percepção de que Shadow Moon (Ricky White) é uma peça fundamental na guerra que se avizinha entre deuses antigos e novos. De um lado, a articulação de Wednesday (Ian McShane, a grande força da série), seu empenho para arregimentar colegas reticentes quanto a essa batalha provavelmente definidora. Do outro, Mr. World (Crispin Glover), recorrendo a subterfúgios de contornos turvos, mencionando conspirações e camadas governamentais que envolvem o presidente dos Estados Unidos. Casa na Pedra, o primeiro episódio do ano dois, se desenvolve de maneira bifurcada, claro, privilegiando o lado do protagonista, se direcionando inteiramente à belíssima sequência do carrossel.

É um tanto demorada a chegada dos personagens a um misterioso local, sobre o qual surge a explicação com ares de lenda, desvelamento que intenta nutrir esse espaço repleto de bugigangas com uma aura de mistério. Visualmente, a série continua suntuosa, com um evidente cuidado fotográfico respaldado pelas áreas de design de produção e efeitos visuais. O destaque desse pontapé inicial do segundo ano, sem dúvida, é a assembleia na “cabeça” de Wednesday que, pela primeira vez, surge paramentado como Odin diante dos colegas igualmente revelados em sua forma original. Casa na Pedra funciona, como convém a um capítulo inaugural, para lançar mais perguntas que respostas, ao mesmo tempo dando seguimento aos eventos outrora abordados e apontando para novas possibilidades, como o evento trágico que provavelmente terá influência direta na decisão dos deuses de tomar ou não partido na luta. Assim, como saboroso aperitivo, funciona bem.

O diretor Christopher J. Byrne  investe com relativo sucesso na ambiguidade de Bilquis (Yetide Badaki), seduzida pelos novos deuses. Todavia, seu breve discurso em prol da necessidade de atualizar-se para sobreviver não ganha tempo suficiente para gerar desconforto, uma vez que, mesmo não sendo Dionísio, Odin é dado a farras e comemorações. A dinâmica com Laura Moon (Emily Browning), a literalmente cadavérica que anda por ventura da moeda da sorte de Mad Sweeney (Pablo Schreiber), é mantida como uma incógnita, agora temperada pelo ardil do senhor de Argard que prevê uma tempestade caso o imediato descubra o seu envolvimento com a morte da mulher. Essas relações potencialmente conflituosas, sustentadas por mentiras e ocultações, é que fornecem o elemento humano, imprescindível como substrato da contenda das divindades.

Embora não seja um episódio absolutamente empolgante, que estética e dramaturgicamente siga os postulados da temporada anterior, Casa de Pedra é um bom prenúncio. A despeito dos divulgados problemas de produção, da troca de showrunners, Deuses Americanos parece permanecer nos trilhos da bem-aventurança. A julgar apenas por esse debute, deve seguir apostando na exuberância visual, com a pós-produção desempenhando um papel preponderante nesse sentido. No concernente aos dramas mortais, cadavéricos ou celestiais, eles permanecem no centro das atenções, se encarregando do estofo dramático que a imagem saturada sublinha num plano fantástico. Ian McShane domina as atenções quando na tela, se impondo tanto como Odin quanto na sua versão terrena, isso ao lado de colegas que dão conta do recado, como Ricky White, que demonstra toda a confusão de seu personagem diante do imponderável.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.