Crítica


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Sinopse

Seguido pelo Mr. World, Shadow faz o seu caminho ao Cairo, graças a uma carona de Sam Black Crow. Wednesday obtém maliciosamente a ajuda de Laura para forjar uma aliança com um deus poderoso.

Crítica

Retomando a trama a partir do incidente ferroviário outrora provocado pelo Sr. Wednesday (Ian McShane), o terceiro episódio da segunda temporada de Deuses Americanos mostra que, de alguma maneira, Betty, o carro utilizado na jornada, é uma Berserker, guerreira nórdica relacionada justamente a um culto a Odin. Também é esclarecido que a intervenção do patrão não visa necessariamente salvar o empregado até então mantido em cativeiro e agonia, mas apenas permitir que ele siga uma fração de sua jornada sozinho. Muninn é uma parte intermediária, em que muitas coisas são encaminhadas, como a visita a uma divindade antiga em busca da arma que pode desequilibrar a balança da guerra entre os deuses antigos e os novos. De forma semelhante, há a primeira missão conjunta do líder e da esposa morta-viva.

Dirigido por Debora Chow, Muninn aprofunda pouco a investigação, antes fomentada, sobre a origem do protagonista, Shadow Moon (Ricky Whittle). Durante a explicação de uma história antiga é citado um personagem mestiço, metade humano, metade divindade. Sam Black Crow (Devery Jacobs), a jovem indígena que oferece carona ao cambaleante motorista, também menciona ser fruto de mundos diferentes. Isso aponta, provavelmente, à natureza do marido de Laura Moon (Emily Browning), ela que precisa correr contra o tempo, pois sua carcaça nada mais é que um cadáver já bastante putrefato, pois em avançado estado de decomposição. O que esse episódio tem de marcante, em meio a tantas instâncias intermediárias, é a briga pela atenção do importante Argos Panoptes, na mitologia grega um gigante de cem olhos fiel à deusa Hera.

Argos (Christian Lloyd) surge como uma espécie de deus híbrido, antigo como a histórias que dão conta de seus feitos, mas atualizado na forma de agir, trocando efetivamente olhos por câmeras de segurança e outros dispositivos de filmagem. Essa permanência no meio do caminho faz com que ele seja fortemente cortejado pelos novos deuses, especialmente por um insolente Technical Boy (Bruce Langley) e pela Nova Mídia (Kahyun Kim), que chega a ter uma relação bastante próxima à sexual com a entidade enterrada em fibra ótica. Esse cabo de guerra é efetivo para revitalizar Laura, após o cumprimento da missão que Odin não pode assumir, e engatilhar uma possibilidade vindoura de reencontro. Muninn ainda tem Mad (Pablo Schreiber) comendo o pão que o diabo amassou sem seu amuleto de sorte por perto.

Com bem menos estripulias pirotécnicas, desprovido de intrigas tão fortes, Muninn aponta timidamente a alguns caminhos, se encarregando de preparar determinados terrenos. A motivação de Laura é posta em xeque por Wednesday, articulador que embaralha informações a seu bel prazer, criando redes de dependência e trazendo para seu lado aliados provavelmente indispensáveis na contenda que ele próprio pretende incendiar. Mesmo sendo um tanto morno, o terceiro episódio da segunda temporada não deixa a peteca cair, permitindo o vislumbre de algumas potencialidades pelas frestas da banalidade. Sam Black Crow não parece uma mera casualidade, ainda mais se levarmos em consideração o seu nome/apelido (algo como Sam Corvo Negro) e o fato de Munnin ser o nome do corvo de Odin. Difícil ser uma feliz coincidência.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.