Crítica


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Sinopse

Enquanto Shadow e Sr. Wednesday têm uma reunião secreta em St. Louis, Bilquis chega à casa funerária no Cairo, onde ela se envolve em um debate com o Sr. Nancy e o Sr. Ibis.

Crítica

E a guerra entre antigos e novos deuses de torna mais iminente, sobretudo por conta do antagonismo acirrado entre o Sr. Wednesday (Ian McShane) e o Sr. World (Crispin Glover), os representantes principais (líderes) dos lados em disputa. Figuras importantes como a deusa Bilquis (Yetide Badaki) ainda exibem alguma relutância, especialmente após a conversa com Nancy (Orlando Jones), o ponto alto deste quarto episódio da segunda temporada de Deuses Americanos. Distante da dicotomia, o grande Anansi expõe o seu ponto de vista como uma divindade africana, dizendo ter ciência da falta de suporte de seus aliados, isso caso a entidade morta, ao invés de branca, fosse negra. O discurso racial, assim, surge pela primeira vez com contundência na série, apontando, colateralmente, à pouca diversidade entre os asseclas de World.

A Melhor História Contada começa com a observação de um jovem nipônico dado a escapar dos exercícios de música clássica para se aventurar nos videogames, a julgar pela época, uma novidade instigante. Como numa espécie de prólogo, vemos esse filho, vivido na infância por William Sun, desfilando conhecimento e destreza quanto à tradição, mas absolutamente seduzido pelas possibilidades dos jogos eletrônicos, algo desdobrado adiante. Na adolescência, tal personagem, então interpretado por André Dae Kim, descobre uma maneira de transformar inspiração em algoritmo, ensinando sistemas a quebrarem regras e com isso a serem fontes relativamente alternativas de criação. Essa relação complexa que ele personifica, especialmente por se reportar à dicotomia central da série, se desenvolve e cresce à frente.

Deuses Americanos mostra, a partir desse tipo até aqui desconhecido, a importância dos humanos na contenda que se avizinha, componente com potencial a ser trabalhado. O menino provavelmente foi um dos criadores do Technical Boy (Bruce Langley), a quem chama genérica e carinhosamente de amigo. Os homens geram os deuses, os alimentam com oferendas de diversas naturezas e depois ficam submetidos aos seus caprichos, bem como às suas brigas por território. A Melhor História Contada também joga luz sobre as divindades egípcias, se detendo melhor na possível participação de Thot (Demore Barnes) que, juntamente com Anúbis, administram a funerária na cidade do Cairo, no estado do Illinois. Ele dá a deixa a Nancy para falar da ancestralidade africana como elemento de tensão nos Estados Unidos.

Deuses Americanos apresenta novos personagens importantes e dá espaço paulatinamente para o desenvolvimento de outros que tinham aparecido somente como figurantes circunstanciais. A Melhor História Contada tem, ainda, a tentativa de arregimentação de ambos os lados de uma divindade das mais poderosas da contemporaneidade, o Dinheiro (William Sanderson). Embora o personagem seja creditado como “Contador”, Wednesday se refere a ele como uma força hiperpoderosa. Suas asseclas são, ironicamente, bandeirantes vendedoras de biscoitos que ostentam o símbolo maçom bordado nos uniformes. Esse tipo enigmático, a priori sem disposição a defender lados – pois o dinheiro não é afeito a sentimentalismos – provavelmente será imprescindível posteriormente como fiel da balança.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.