Crítica


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Sinopse

No Cairo, o Sr. Wednesday confia a Shadow a lança Gungnir. Mad Sweeney relembra sua jornada através dos tempos enquanto aguarda sua batalha prometida. Mais uma vez, ele adverte Shadow sobre seu empregador.

Crítica

Mesmo apresentando momentos um tanto banais, como vem ocorrendo com frequência nesta segunda temporada, O Tesouro do Sol, penúltimo episódio do ano dois de Deuses Americanos, continuou exumando o passado de personagens importantes para melhor prenunciar os contornos dramáticos da guerra que se avizinha. Desta vez o protagonista é Mad Sweeney (Pablo Schreiber), cujo legado é acessado de formas conflitantes, mas finalmente compreendido numa conversa com Ibis (Demore Barnes). Ensaiando um conflito com Shadow (Ricky Whittle), ele exibe a deterioração de sua relação com o Sr. Wednesday (Ian McShane), tendo flashes de sua trajetória pregressa, até então ignorada na série. As pistas começam a surgir no encontro com as Banshees, as emissárias da morte, arautos de algo ruim prestes a acontecer na morada chamada Cairo.

Dirigido por Paco Cabezas, O Tesouro do Sol não aponta claramente à tragédia desde o início, mas gradativamente deixa no ar a sensação de que um evento importante irá desenrolar-se. Mad Sweeney se lembra vagamente de uma esposa e uma filha, da danação de outrora por conta da expulsão dos chamados Monges Cinzas de seu território na Irlanda, mas não há, pelo menos até próximo ao encerramento, uma confirmação da real natureza de sua vida pregressa. Enquanto isso, ele interage com Shadow, eleito o guardião da nova lança Gungnir – aliás, a restauração do artefato é um dos excertos mais emblemáticos do episódio, com a divindade extraindo de uma árvore mítica a matéria-prima necessária para tornar a arma novamente operacional. No fim das contas, tudo parece um plano de Wednesday, de propósitos bastante definidos.

Deuses Americanos caminha para uma espécie de definição intermediária, que deve deixar boa parte da batalha incessantemente anunciada para a já confirmada terceira temporada. No entanto, diferentemente das partes pregressas, em que as perdas não era necessariamente sentidas, pois extirpavam do conjunto personagens bem coadjuvantes, aqui a finitude atinge uma figura até então essencial. Ainda que não revista o instante capital com o impacto emocional que a cena e sua representatividade necessitavam, Paco Cabezas mostra que, diferentemente da classificação entre bons e maus, as circunstâncias oferecem uma complexidade insuspeita. Wednesday, definitivamente, não é alguém confiável e honrado, dando um jeito para que seus asseclas e/ou devedores sujem as mãos de sangue em seu nome. Isso fica ainda mais claro no desfecho.

O Tesouro do Sol tem passagens quase descartáveis, como a conversa entre Laura (Emily Browning) e Mama-Ji (Sakina Jaffrey), na qual a única coisa relevante é a demonstração da faceta destruidora da divindade disfarçada de garçonete. Além do assassinato de alguém presente desde o começo, elemento que provavelmente terá implicações adiante, este sétimo episódio é relevante para elucidar a configuração do acordo entre Odin e o leprechaun e expor a identidade deste, bem como a genuína magnitude de sua origem. Com o final da segunda temporada se aproximando, fica a dúvida quanto ao teor da partícula derradeira, até porque os novos deuses praticamente foram apartados das recentes tramas, vistos somente circunstancialmente ao tramar ataques contra os seus nêmesis que estão se fortalecendo, mesmo com perdas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.